Você ensina seu filho a ser educado, a
respeitar a figura de autoridade em sala, a valorizar o mestre, mostrando o
quanto um professor trabalha em casa para planejar uma aula. Você o educa para
que ele se torne uma pessoa sociável, agradecida, resiliente, consciente das
limitações alheias. Seu filho é um excelente aluno - notas boas, comportamento
exemplar, não dá um pingo de trabalho, professor sorri de um canto a outro
quando fala dele. Que lindo, que máximo!
Acontece que nesse mundo, a energia está toda
voltada para o problemático. A exemplo da sociedade em geral, o medo de
corrigir, a reticência em chamar a atenção, a preocupação em não puxar tanto no
aprendizado, a eterna busca de justificativas para o mau comportamento. Sempre
é culpa de alguém ou de algo, da chuva, do sol, do vento.
Tadinhos, temos que ser compreensivos.
Engraçado que são sempre as mesmas figuras a aprontar. E o bom aluno está lá,
na ânsia de aprender, quietinho, respeitoso, esperando a tempestade passar. Na
calmaria, até que ele consegue ser visto através de seus excelentes resultados.
No dia a dia, a energia do professor se esvai
quando vê a turma bagunçando, quando um discente bate boca, quando
aparentemente ninguém está interessado na matéria, quando a enrolação passa dos
limites. Então a autoridade decide aparecer, mas é covarde para bater de frente
com os agentes do caos. Tendo a opção de nomear e responsabilizar os
fofíssimos, decide punir a turma inteira, fazendo pose de bravura e valentia. É
melhor diluir a possibilidade de reclamação dos pais zelosos quando os
condenados são trinta, e não apenas dois ou três. O bom aluno está lá,
quietinho, com sede de saber, recebendo um castigo por algo que não cometeu.
Tentando entender onde existe justiça, pisa em ovos para tirar dúvidas com o
professor que, para mostrar que tem poder, decide ser ríspido com todos.
É assim, a vitimização e superproteção do culpado,
a culpabilização por tabela de quem só cumpre seu dever. O esquecimento do
bonzinho, pois só tem valor quem berra.
Eis que você decide mudar de estratégia e
começa a ensinar a rebeldia do bem. Mostra para o seu filho que ele tem direito
de aprender, de ser enxergado, de ter suas dúvidas sanadas, de não ser privado
de algo pelo erro de outro. Você expõe formas educadas de lutar pelo que quer,
de não aceitar generalizações, de não se intimidar diante da brabeza de quem
não é capaz de colocar limites num grupo. Sim, ele pode aparecer e deve ser
respeitado pelo professor, pois o docente que não valoriza o aluno que traz
dúvidas no processo de aprendizagem, não percebe que só o faz quem quer evoluir.
Como professora cometi muitos equívocos, mas
nunca permiti que os desinteressados atrapalhassem aqueles que iam à aula para
aproveitar de verdade. Até tive aluno autoridade, mas em sala, a autoridade era
eu, e meu papel maior era proteger o interesse de quem quer aprender. Como
aluna, nunca deixei de perguntar algo em sala, mesmo que o professor fosse
aquele com fogo nas ventas, do qual a maioria tinha pavor. Ele estava lá para
ensinar e eu queria muito compreender tudo.
Para a escola, o bom aluno é exemplar e não dá
trabalho pra ninguém, é o sonho de todo professor. Mas se o mestre olhar de
perto e com carinho, perceberá que por trás dos bons resultados há bastante
demanda, uma incansável luta interna e muita, muita necessidade de atenção.
Para o bom aluno, não basta ganhar um 'parabéns'. Ele quer mais, ele pode mais,
ele não precisa ser freado enquanto os outros decidem se seguem devagar ou dão
marcha a ré.
No país da mediocridade é assim. Você é
brilhante, não precisa de nada. Mas quem é bom não pode se calar, se contentar
com o cantinho da sala, num mundo onde educação não tem valor (aliás, até te
prejudica). É hora de ser rebelde e gritar pela instrução que você merece.
13 de março de 2018
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