Enquanto isso, na sala de espera do
consultório...
_ Mas essa fulana é muito folgada! Vê se tem
cabimento uma coisa dessas. Ah, não tem vergonha na cara... (pausa) Ainda bem
que tem gente que fala a verdade! Deixou o Bonner paralisado! (pausa) Ah, mas
esse Faustão vai ter que se explicar. O Huck também. Porque o Sílvio é
diferente, ele quer ajudar todo mundo que chega no auditório. Eu quando compro
o carnê, sei que estou comprando sonhos! (Mostra o carnê do Baú para quem não está olhando)
De início
penso ser uma daquelas pessoas que conversam ao celular com o fone no ouvido,
que sempre me assustam na rua ou no ônibus. Ainda não me acostumei com o hábito
e suponho que estão falando sozinhas.
Levanto a
cabeça e vejo que senhora está conversando é com o celular mesmo. Tece
comentários a cada vídeo do whatsapp ou manchete na página inicial do jornal.
Peculiar, penso eu.
Que
engraçado! Em segundos percebo que faço o mesmo com os programas de TV ou
rádio, as histórias do facebook e as notícias da internet. A diferença entre
nós duas é a coragem de se expor: por enquanto só troco ideias com máquinas em
casa.
Volto para o livro. Por pouco tempo. Ouço algumas
perguntas sobre perseguição no whatsapp. Vejo que é comigo. Respondo
educadamente e escuto um enredo digno de Cidade Alerta, do qual a senhora é a
valente protagonista.
_Você já
viu o moço que teve a coragem de dizer umas verdades no Jornal Nacional?
Caio na
bobeira de responder que não. A senhora se aproxima. Abre o vídeo no celular.
Fica ao meu lado para assegurar que ouvirei o desabafo do agricultor por mais
de dois minutos. Claro, tenho que prestar atenção no Bonner.
_ Olha só!
Ele nem sabe o que fazer! Simplesmente paralisado, sem reação!
Ela tinha razão. Bonner estava imóvel. Não fui
forte o bastante para explicar que o vídeo era uma montagem. Possivelmente
congelaram a imagem da previsão do tempo e trocaram a Maju pelo homem simples
do campo, brabo que só, externando o discurso que muito vejo nas redes sociais.
Praticamente um super-herói, destemido porta-voz do brasileiro, falando o que
todo mundo tem vontade e desafiando a Globo assim, na lata.
Recebo
informações sobre o Huck, o Faustão, o Gilmar Mendes, o Bolsonaro, a Maria do
Rosário... Ah, porque coisa boa não é, olha o nome do jornal: Dinheirama. Nem
precisa ler a notícia, vai demorar.
Olho pra
cima. Senhor, o tempo não passa e eu preciso ser gentil.
Alívio
quando troca a senha no painel. Eu, que só queria ler um pouquinho, agora posso
me tranquilizar. Sei que a consulta com ela, a verdadeira representante do povo
indignado, vai demorar.
"Que
Brasil você quer para o futuro?"
02 de
fevereiro de 2018
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