quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Dia do Servidor Público


Deixei o serviço público para servir minha família e atender aos meus anseios de maternidade, com a expectativa de voltar, um dia, a me dividir entre lar e qualquer trabalho remunerado.
Durante os anos em que nenhuma revista eu conseguia abrir, quiçá um livro, toda vez que passava em frente à sede do TJDFT eu pensava que aquele seria o lugar ideal pra mim: o Judiciário tão almejado, perto de casa e num horário que possibilitaria a dedicação aos meninos no contraturno escolar (da qual eu não abriria mão).
Caçula crescendo, surgiu o concurso em 2013, que eu resolvi prestar apenas para ver como era a prova. Sem tempo para estudar, nem intenção de voltar ao mercado antes do pequeno fazer quatro anos. No dia da prova, com a cara de pau de quem não havia estudado em meio a tantos candidatos dedicados, eu só pedia a Deus que não me deixasse ir tão bem, pois não queria tirar o lugar de ninguém. Essa foi minha única oração. Sabia que se fosse chamada antes do Renato entrar na escola eu não iria tomar posse, e meu projeto de mãe em tempo integral era inabalável. Da música que permeou meus pensamentos em cada questão respondida, eu não me lembro. 
Realizei-me com a classificação distante, e fiquei aliviada por não correr o risco de atrapalhar alguém que precisasse mesmo da vaga - claro que eu não seria chamada. Ingenuidade, eu sei. Coisa de paulista do interior que não pertence ao mundo dos concurseiros.
Minha ilusão logo cairia por terra... Quem era eu para dizer quando meu menino entraria na escola? Como pode uma mãe se sentir no controle de seu destino e do seu papel na vida dos filhos? Foi assim, com a contrariedade de matriculá-lo um ano antes do programado, lidando com as adversidades e a culpa pela incapacidade de fazer pelas crianças tudo o que gostaria, que eu comecei a entender aquelas minhas sensações. Na aventura diferente da que eu programara, aquele seria meu lugar, uma vaga era a minha.
Dois anos depois, o choro ao ver minha nomeação era mais de desespero que de alegria. Como eu tomaria posse sem saber se aguentaria? Por que eu não assinei o termo de desistência e dei oportunidade para o próximo da lista, num concurso que chegava ao fim? Mas diante de tamanha conspiração do universo e da luta de um grupo de candidatos pela convocação, como eu desistiria sem ao menos tentar? 
Graças ao empurrão do amor da minha vida, que me aconselhou a seguir em frente, hoje tenho um ano e quatro meses de TJDFT. Lugar onde tenho a sorte de trabalhar na área fim, de chegar com processos na mesa, me ocupar toda a tarde e sair sabendo que amanhã terei muito mais a fazer. Local onde encontrei o médico que me ouviu e me tirou de um sufoco imenso. Instituição que faz questão de enfatizar, desde o primeiro dia, que nossa principal função é servir o público - interno e externo. Onde todos do outro lado do balcão são doutores, independentemente de formação.
Olho para o Palácio da Justiça e não acredito que fui parar ali. Ainda tenho receios antes de sair de casa e sinto um frio na barriga quando subo as escadas do fórum. Mas sigo na vibração do "um dia de cada vez" e agradeço, no fim da noite, por ter conseguido.
Orgulho de ser servidora, esposa de servidor, numa cidade povoada por servidores locais e de todos os cantos. O serviço público, para quem cumpre seu papel, é uma missão agridoce e abençoada.

28 de outubro de 2016

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