Deixei o serviço público para servir minha
família e atender aos meus anseios de maternidade, com a expectativa de voltar,
um dia, a me dividir entre lar e qualquer trabalho remunerado.
Durante os anos em que nenhuma revista eu
conseguia abrir, quiçá um livro, toda vez que passava em frente à sede do TJDFT
eu pensava que aquele seria o lugar ideal pra mim: o Judiciário tão almejado,
perto de casa e num horário que possibilitaria a dedicação aos meninos no
contraturno escolar (da qual eu não abriria mão).
Caçula crescendo, surgiu o concurso em 2013,
que eu resolvi prestar apenas para ver como era a prova. Sem tempo para
estudar, nem intenção de voltar ao mercado antes do pequeno fazer quatro anos.
No dia da prova, com a cara de pau de quem não havia estudado em meio a tantos
candidatos dedicados, eu só pedia a Deus que não me deixasse ir tão bem, pois
não queria tirar o lugar de ninguém. Essa foi minha única oração. Sabia que se
fosse chamada antes do Renato entrar na escola eu não iria tomar posse, e meu
projeto de mãe em tempo integral era inabalável. Da música que permeou meus
pensamentos em cada questão respondida, eu não me lembro.
Realizei-me com a classificação distante, e
fiquei aliviada por não correr o risco de atrapalhar alguém que precisasse
mesmo da vaga - claro que eu não seria chamada. Ingenuidade, eu sei. Coisa de
paulista do interior que não pertence ao mundo dos concurseiros.
Minha ilusão logo cairia por terra... Quem era
eu para dizer quando meu menino entraria na escola? Como pode uma mãe se sentir
no controle de seu destino e do seu papel na vida dos filhos? Foi assim, com a
contrariedade de matriculá-lo um ano antes do programado, lidando com as
adversidades e a culpa pela incapacidade de fazer pelas crianças tudo o que
gostaria, que eu comecei a entender aquelas minhas sensações. Na aventura
diferente da que eu programara, aquele seria meu lugar, uma vaga era a minha.
Dois anos depois, o choro ao ver minha nomeação
era mais de desespero que de alegria. Como eu tomaria posse sem saber se
aguentaria? Por que eu não assinei o termo de desistência e dei oportunidade
para o próximo da lista, num concurso que chegava ao fim? Mas diante de tamanha
conspiração do universo e da luta de um grupo de candidatos pela convocação,
como eu desistiria sem ao menos tentar?
Graças ao empurrão do amor da minha vida, que
me aconselhou a seguir em frente, hoje tenho um ano e quatro meses de TJDFT.
Lugar onde tenho a sorte de trabalhar na área fim, de chegar com processos na
mesa, me ocupar toda a tarde e sair sabendo que amanhã terei muito mais a
fazer. Local onde encontrei o médico que me ouviu e me tirou de um sufoco
imenso. Instituição que faz questão de enfatizar, desde o primeiro dia, que
nossa principal função é servir o público - interno e externo. Onde todos do
outro lado do balcão são doutores, independentemente de formação.
Olho para o Palácio da Justiça e não acredito
que fui parar ali. Ainda tenho receios antes de sair de casa e sinto um frio na
barriga quando subo as escadas do fórum. Mas sigo na vibração do "um dia
de cada vez" e agradeço, no fim da noite, por ter conseguido.
Orgulho de ser servidora, esposa de servidor,
numa cidade povoada por servidores locais e de todos os cantos. O serviço
público, para quem cumpre seu papel, é uma missão agridoce e abençoada.
28 de outubro de 2016
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