As férias do papai acabaram. Segunda-feira.
Repórter Diego pergunta, com o microfone imaginário na mão:
- Sra. Cristiane Ávila, como você se sente
sendo uma mãe com o pé quebrado, numa época de volta às aulas?
...
Trio providencia o café da manhã, servindo o
leite e preparando cada qual o seu pão. Um lava a louça. Outro varre o chão da
cozinha. O terceiro limpa a mesa. Um traz o cesto de roupa suja. Dois colocam a
roupa na máquina. Disputa para levar o cesto de volta e pegar um copo de água pra mamãe. Revezamento para passar o aspirador de pó
na casa. Pega extensão. Coloca na tomada com cuidado. Limpa a sujeira que dá.
Retira da tomada e vence o receio do choque. Enrola o fio e guarda. Um tira o
pó da parte de cima do beliche, enquanto o outro limpa a cama de baixo. Cada um
dobra seu lençol. Dois trazem os livros pra mãe encapar na poltrona mesmo. O
caçula pergunta se é para limpar a chuteira e vibra com o sim. Pede pra um dia
aprender a lavar carro. Limpeza de calçado e luta de super heróis no chão,
invenção de jogo de tabuleiro na mesa, relaxamento na rede e no sofá com um
único desenho na TV. Imaginação voando longe, calmaria numa manhã que tinha
tudo para ser o caos. Papai chega para providenciar o lanche e o almoço.
...
...
- Sr.
Diego, eu detesto fazer repouso. Mas pra tudo tem um jeito. E eu fico feliz em
ver o quanto meus filhos conseguem produzir. Vocês me ajudam e aprendem a
cuidar da própria casa. E você, como se sente?
Eu me sinto muito bem.
O coro:
- Ajudamos
você e ajudamos nós mesmos.
...
...
Assim
seguimos na roda que não para de girar. Na trilha dos pequenos que crescem com
a noção de que mãe não é de ferro, cai e levanta, quebra e se quebra, mais aprende
do que ensina.
Sim, eles
ensinam que conseguem se virar. Descobrem que são capazes, que não precisam ser
servidos o tempo todo. Enxergam que não é o fim do mundo a faxineira faltar ou
nem ter ajudante, pois além de organizar eles sabem lavar e limpar. Desenvolvem
suas habilidades, distanciando-se da ilusão de que uma mãe deve passar a vida
inteira com o físico à disposição dos rebentos, de que o serviço materno deve
ser eterno e usado como moeda sentimental.
Há vezes
em que o amor da mãe está presente não no servir, mas no desafio de aceitar e
ensinar a fazer, sendo servida. Da necessidade vem o aprendizado.
É, tudo
tem seu lado bom. "Quando o servidor está pronto, o serviço aparece"
(André Luiz).
29 de
janeiro de 2018
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