quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Da necessidade vem o aprendizado


As férias do papai acabaram. Segunda-feira. Repórter Diego pergunta, com o microfone imaginário na mão: 
- Sra. Cristiane Ávila, como você se sente sendo uma mãe com o pé quebrado, numa época de volta às aulas? 
... 
Trio providencia o café da manhã, servindo o leite e preparando cada qual o seu pão. Um lava a louça. Outro varre o chão da cozinha. O terceiro limpa a mesa. Um traz o cesto de roupa suja. Dois colocam a roupa na máquina. Disputa para levar o cesto de volta e pegar um copo de água pra mamãe. Revezamento para passar o aspirador de pó na casa. Pega extensão. Coloca na tomada com cuidado. Limpa a sujeira que dá. Retira da tomada e vence o receio do choque. Enrola o fio e guarda. Um tira o pó da parte de cima do beliche, enquanto o outro limpa a cama de baixo. Cada um dobra seu lençol. Dois trazem os livros pra mãe encapar na poltrona mesmo. O caçula pergunta se é para limpar a chuteira e vibra com o sim. Pede pra um dia aprender a lavar carro. Limpeza de calçado e luta de super heróis no chão, invenção de jogo de tabuleiro na mesa, relaxamento na rede e no sofá com um único desenho na TV. Imaginação voando longe, calmaria numa manhã que tinha tudo para ser o caos. Papai chega para providenciar o lanche e o almoço. 
...
- Sr. Diego, eu detesto fazer repouso. Mas pra tudo tem um jeito. E eu fico feliz em ver o quanto meus filhos conseguem produzir. Vocês me ajudam e aprendem a cuidar da própria casa. E você, como se sente? 
 Eu me sinto muito bem. 
O coro:
- Ajudamos você e ajudamos nós mesmos.
...
Assim seguimos na roda que não para de girar. Na trilha dos pequenos que crescem com a noção de que mãe não é de ferro, cai e levanta, quebra e se quebra, mais aprende do que ensina. 
Sim, eles ensinam que conseguem se virar. Descobrem que são capazes, que não precisam ser servidos o tempo todo. Enxergam que não é o fim do mundo a faxineira faltar ou nem ter ajudante, pois além de organizar eles sabem lavar e limpar. Desenvolvem suas habilidades, distanciando-se da ilusão de que uma mãe deve passar a vida inteira com o físico à disposição dos rebentos, de que o serviço materno deve ser eterno e usado como moeda sentimental.
Há vezes em que o amor da mãe está presente não no servir, mas no desafio de aceitar e ensinar a fazer, sendo servida. Da necessidade vem o aprendizado. 
É, tudo tem seu lado bom. "Quando o servidor está pronto, o serviço aparece" (André Luiz).


29 de janeiro de 2018

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