segunda-feira, 9 de abril de 2012

Sobrenome do marido? A tragicômica questão


Essa é a história de duas ferramentas que decidiram juntar os trapos: a crítica Chave Achada de Grifo e o tímido Parafuso Cônico Prego.*
A moça do interior sempre proclamou aos quatro ventos que não adotaria o patronímico do noivo.  Um pouco feminista, tinha suas restrições quanto ao tema e não via sentido nisso.  Detestava o Achada, mas ostentava com orgulho o seu de Grifo e não queria passar o resto da vida justificando que Prego era mesmo um sobrenome. Chegou inclusive a sugerir que o amado adotasse o seu, sem sucesso.
Mas na hora de preencher a papelada no cartório, a donzela pensou com seus botões: já que havia criado polêmica por não se casar no Templo Sagrado dos Utensílios, não custaria se vestir de branco e adotar o nome do marido para seguir algumas tradições. E na tentativa de autoconsolo, acreditou que seria excelente carregar o mesmo sobrenome dos futuros rebentos. Surto psicótico e vista embaralhada, ela assinou: passaria a se chamar Chave Achada de Grifo Prego.
Casamento vem, felicidade também, a recém-senhora continuou no mesmo círculo social de solteira e nem sentiu tanto essa alteração. Afinal, continuava a ser chamada pelo apelido original e era raríssimo ouvir um esquisito ‘Bom dia, Sra. Prego’.
Então começou a chateação. Via-sacra para alteração de documentos: RG, CPF, título de eleitor, carteira de motorista. Sofrimento ao assinar um papel, horror ao ver registrado no cartão do banco e do plano de saúde o nome Chave A G Prego. Pra que foi fazer essa besteira mesmo? ‘Calma Chavinha, são aborrecimentos momentâneos’, dizia o paciente esposo.
O ano passou e de repente, vida nova. Grande dia: início de um curso de formação. Mas o que era felicidade se transformou em choque, quando a dama recebeu o crachá com letras garrafais: CHAVE PREGO. ‘Nããooo! Essa não sou eu’, pensava. Seu mundo caiu. Ficou tão transtornada que nem conseguia raciocinar.
Em casa, a crise existencial. Sem conseguir conter o pranto, lamentava repetidamente que não se enxergava naquele nome, dizendo que se arrependimento matasse seu corpo já teria se decomposto, entre outros dilemas importantes. Só se deu conta do ridículo ao olhar para o marido atônito, que piedoso consolava: ‘não tem problema, se é tão difícil assim você pode voltar atrás’. As lágrimas corriam e ela dizia que iria se acostumar. Mesmo assim, o inconformismo durou bastante...
Há algum tempo Dona Chave deixou de se arrepender do ‘lapso’, habituou-se com a nova identidade e passou a encará-la como um símbolo da união com seu amor. Agora ri bastante do passado lamurioso, achando graça nos questionamentos da filha, que não entende o motivo pelo qual o pai não é ‘de Grifo Prego’ como elas. Diverte-se ao ter que explicar frequentemente a origem do adotado sobrenome, mas daí a considerá-lo efetivamente seu e conseguir usá-lo na identificação de e-mails, blogs e redes sociais... Quem sabe um dia?!


* Nomes e mundo das ferramentas fictícios, mas a história, nem tanto!

3 comentários:

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