Essa é a
história de duas ferramentas que decidiram juntar os trapos: a crítica Chave Achada de Grifo e o tímido Parafuso
Cônico Prego.*
A moça do
interior sempre proclamou aos quatro ventos que não adotaria o patronímico do
noivo. Um pouco feminista,
tinha suas restrições quanto ao tema e não via sentido nisso.
Detestava o Achada, mas ostentava
com orgulho o seu de Grifo e não
queria passar o resto da vida justificando que Prego era mesmo um sobrenome. Chegou inclusive a sugerir que o
amado adotasse o seu, sem sucesso.
Mas na hora de
preencher a papelada no cartório, a donzela pensou com seus botões: já que havia
criado polêmica por não se casar no Templo Sagrado dos Utensílios, não custaria
se vestir de branco e adotar o nome do marido para seguir algumas tradições. E
na tentativa de autoconsolo, acreditou que seria excelente carregar o mesmo
sobrenome dos futuros rebentos. Surto psicótico e vista embaralhada, ela
assinou: passaria a se chamar Chave
Achada de Grifo Prego.
Casamento vem,
felicidade também, a recém-senhora continuou no mesmo círculo social de
solteira e nem sentiu tanto essa alteração. Afinal, continuava a ser chamada pelo apelido original e era raríssimo ouvir um esquisito ‘Bom dia,
Sra. Prego’.
Então começou a
chateação. Via-sacra para alteração de documentos: RG, CPF, título de eleitor,
carteira de motorista. Sofrimento ao assinar um papel, horror ao ver registrado
no cartão do banco e do plano de saúde o nome Chave A G Prego. Pra que foi fazer essa besteira mesmo? ‘Calma
Chavinha, são aborrecimentos momentâneos’, dizia o paciente esposo.
O ano passou e
de repente, vida nova. Grande dia: início de um curso de formação. Mas o que
era felicidade se transformou em choque, quando a dama recebeu o crachá com
letras garrafais: CHAVE PREGO. ‘Nããooo!
Essa não sou eu’, pensava. Seu mundo caiu. Ficou tão transtornada que nem
conseguia raciocinar.
Em casa, a
crise existencial. Sem conseguir conter o pranto, lamentava repetidamente que
não se enxergava naquele nome, dizendo que se arrependimento matasse seu corpo já
teria se decomposto, entre outros dilemas importantes. Só se deu conta do
ridículo ao olhar para o marido atônito, que piedoso consolava: ‘não tem problema,
se é tão difícil assim você pode voltar atrás’. As lágrimas corriam e ela dizia
que iria se acostumar. Mesmo assim, o inconformismo durou bastante...
Há algum tempo Dona Chave deixou de se arrepender do ‘lapso’, habituou-se com a nova identidade e passou a encará-la como um símbolo da união com seu amor. Agora ri bastante do passado
lamurioso, achando graça nos questionamentos da filha, que não entende o motivo
pelo qual o pai não é ‘de Grifo Prego’
como elas. Diverte-se ao ter que explicar frequentemente a origem do adotado sobrenome, mas daí a considerá-lo efetivamente seu e conseguir usá-lo na identificação de e-mails, blogs e redes sociais... Quem sabe um dia?!
* Nomes e mundo das ferramentas fictícios, mas a história, nem tanto!
Hummmm já vi esse filme em algum lugar....
ResponderExcluirVocê também? Rs
ExcluirCato, né? E no final sou a Sra. Pereira... Kkkkkkkk
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