Amadeu tinha a filosofia de que a vida era breve, acreditava que sua natureza leve tinha a duração de um ínfimo dia. Livro em constante formação fadado à eterna reciclagem, seguia em frente com coragem, deixando para trás o borrão.
Negava-se a ter um passado, renovando-se a cada manhã. No cuidado de manter a mente sã, nunca espiava o futuro trancado. Importando-se apenas com o presente, incorporava a experiência e liberava toda e qualquer cicatriz, decorrente de um momento triste ou feliz. A cada despertar, mandava o antigo ser embora.
E assim o homem vivia suas várias vidas. Com passos fortes, suspiros longos, pequenos pódios e muitos tombos. Esquecia a queda com toda a glória, sempre refazendo a sua história. Nas páginas viradas fazia questão de deixar a alma esculpida.
Todos os dias cochichava a esmo: 'Acorde, espelho meu. Preste atenção, esse agora sou eu. Muito prazer, não sou mais o mesmo'. Aos nostálgicos por sua bagagem, esclarecia logo: 'Desfrutem-me agora. O ontem não volta e amanhã será tarde, só estou de passagem'.
Sábio Amadeu, conseguiu aproveitar bem sua existência. Não se cobrava, não lamentava. Não se perdeu.
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