terça-feira, 3 de abril de 2012

Silêncio...


Nunca me esqueço do civilista Silvio Rodrigues, que contrariando o jargão “quem cala consente” afirma que quem silencia, a princípio, não diz coisa alguma. Por acreditar que o silêncio diz muito e tem várias facetas, classifiquei alguns tipos dele:

Silêncio amoroso: quando se cala diante das escolhas lúcidas de quem se ama.
Silêncio respeitoso: quando se cala para não interferir indevidamente na vida alheia.
Silêncio útil: quando se cala para não piorar uma situação.
Silêncio inteligente: quando se cala para não ser mal interpretado ou magoar alguém.
Silêncio omisso: quando se cala apesar da necessidade de sua manifestação.
Silêncio covarde: quando se cala  para fugir da resolução de um problema.
Silêncio complexo: quando se cala na arrogância da própria superioridade, considerando o outro digno de pena.
Silêncio ascensão: quando se cala na pretensa humildade, no intuito de alcançar o Reino dos Céus.
Silêncio vítima: quando se cala para se fazer de coitado, deixando que um terceiro defenda seus interesses.
Silêncio pressão: quando se cala para fazer o outro se sentir culpado.
Silêncio desprezo: modelo sofisticado, misto dos tipos covarde, complexo e pressão, com a intenção de menosprezar o outro ou deixar claro que não se importa com ele.
Silêncio espada: irmão siamês do silêncio desprezo, corta o coração de quem o recebe.
Silêncio veneno: quando se cala para semear discórdia com um simples olhar atravessado ou uma cara emburrada.
Silêncio irônico: quando quem cala não esconde a insatisfação em seu rosto.
Silêncio dissimulado: quando se cala para encobrir as próprias atitudes mal intencionadas.
Silêncio fim de linha: quando o desmascarado se cala diante da impossibilidade de enganar novamente.
Silêncio favor: quando se cala para privar os ouvidos alheios de asneiras.
Silêncio tumor: aquele que corrói a alma de quem se cala ou contamina o ambiente.
Silêncio bandeira branca: inexistente, pois quem cala não soluciona nada, no máximo adia.
Silêncio bumerangue: quando quem desconsiderou o outro completamente reaparece e resolve conversar sobre trivialidades como se nada tivesse acontecido, recebendo de volta o silêncio que ofereceu ou apenas respostas evasivas e monossilábicas.

Admito que já recorri a alguns tipos de silêncio acima listados, de forma acertada ou equivocada. Merecidamente ou não, também recebi dos piores deles. 
       Mas quando se trata de desentendimentos eu só acredito no diálogo, mesmo que se transforme em discussão ou que afaste as partes envolvidas de vez. Sempre preferi o adeus à falta de resposta do outro e procurei entender os motivos de quem se calou de repente. Diante do inesperado silêncio, tive êxito em elucidar as questões ou fui ignorada e desisti. Leva um tempo para cair a ficha...
Dizem que as palavras ferem, mas muitas vezes o silêncio machuca mais. A duras penas aprendi que ele pode nos dilacerar no começo, mas não é capaz de nos destruir. Após ser digerido, fortalece quem o recebeu e ensina a aceitar as perdas, mostrando  a desnecessidade de tanto sofrimento e  preocupação em manter contato.

Ah, tinha me esquecido de quatro tipos de silêncio doméstico:
Silêncio alívio (para ele): quando a mulher desiste de falar sozinha com o marido.
Silêncio irritante (para ela): quando o marido se cala e foge da discussão.
Silêncio surpresa: o da criança que fica quietinha de repente, enquanto está aprontando.
Silêncio sonho: aquele que possibilita ao casal conversar ou assistir a qualquer programa de televisão sem precisar recorrer à leitura labial.

Com certeza há muitos outros tipos de silêncio, mas agora vou aproveitar o que reina em meu lar para tentar jantar sossegada. Quando ele é bom, dura pouco!

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