quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Profissão: mãe


Quando decidi pedir exoneração de um cargo público para cuidar de meu bebê, para muitos me assemelhei a um E.T. Às vezes, quando conto minha história, ainda recebo alguns olhares arregalados. Maluca essa mulher.
Na época, alguns tentaram me convencer a desistir dessa insanidade. Doida varrida. Estudei tanto... Iria rasgar o diploma, largar uma carreira, para me dedicar a uma das ocupações mais desprezadas pela sociedade atual – mãe em tempo integral.
Pois é, eu costumo remar contra a correnteza.  O que vale é o meu sentimento, e sempre estive convicta de que não conciliaria trabalho e maternidade, pelo menos na primeira infância dos rebentos. Fraqueza ou coragem, depende do ponto de vista...
Para piorar a loucura, sempre dispensei ajuda. Nada de babás e domésticas - no máximo uma diarista, vez ou outra. Filhos na escola, só aos cinco anos. O segundo entrou com três e meio porque quis acompanhar o irmão. Tudo bem, podem chamar a carrocinha.
Só que eu enlouqueço mesmo quando ouço: “Então você só fica em casa, não trabalha?” 
Garanto que nunca trabalhei tanto nessa vida. Sem horário de almoço, descanso semanal remunerado, permissão para ir ao banheiro, direito a um banho demorado, relaxar ouvindo música no trânsito. Dia e noite na mesma rotina cansativa, estressante e sacrificante, mas ao mesmo tempo prazerosa.
Sim, eu deixei uma carreira. Mas para começar outra, que considero muito mais gratificante.  Abri mão de um bom salário, na certeza de que acompanhar o desenvolvimento de uma criança não tem preço.
Não, eu não rasguei o meu diploma. Ele está intacto, guardadinho, e os conhecimentos que adquiri não desapareceram porque me tornei temporariamente ‘do lar’.  A sensação de ficar intelectualmente prejudicada é mera enganação do cérebro. Como diz minha sábia prima, estou exercitando outro lado da sabedoria.
E ao contrário do que muitos pensam, eu tenho vida própria. Própria de quem tem o prazer de registrar todas as experiências dos filhos. De quem sabe exatamente as influências que suas crias recebem, e tem a oportunidade de corrigir as falhas no momento em que ocorrem.  De quem não precisa perguntar a ninguém o porquê de a criança estar machucada ou desanimada. De quem sabe o que o filho fez, comeu, assistiu e ouviu o dia todo. De quem não sofre por ter que deixar um bebê doentinho sob os cuidados de um terceiro. De quem está disponível quando o menino pede um abraço, um colo. De quem pode ligar para o pai e relatar uma travessura em tempo real. 
Enfim, vida. Com vantagens e desvantagens, sucessos e decepções, altos e baixos, como a de qualquer profissional.
Diferente do que consideram, não vivo na sombra de marido, tampouco sou financeiramente dependente. Somos sócios, e cada um realiza a tarefa que lhe compete na nossa empresa chamada Lar. Ele sai para trabalhar tranquilo, certo de que eu fico em casa trabalhando também.
Essa é uma realidade que faço questão de enfatizar para meus filhos. Papai trabalha fora, mamãe trabalha em casa. Nada daquele discurso feminista de que mães em tempo integral não trabalham e são submissas. Isso é balela. Bandeira de quem quer padronizar comportamentos e menosprezar o que é diferente.
O fato é que há mães que trabalham fora por necessidade, outras por desejo de sucesso profissional, e algumas optam por parar. Respeito todas, pois cada uma tem seus motivos e sabe o que é melhor para sua vida. E, como eu, devem ter ponderado o desgaste emocional que a decisão de ficar em casa ou não acarretaria. 
Mas o mais engraçado nessa vida de remar contra a correnteza é ouvir de alguns: “Nossa, que babá brava, olha como ela corrige as crianças! Ah, é a mãe? Então está explicado... ela pode”!

9 comentários:

  1. Criados cada um com um proposito especifico, acho que nos realizamos quando encontramos qual o nosso! Costumo dizer que o que e de mais valioso pra mim, e aquilo que construimos de eterno.
    E pra mim investir nos nossos pequenos e uma dessas coisas!!! Dificil mesmo muitas vezes mas por hoje e por um futuro proximo acredito que esse e meu proposito. Vamos ser loucas juntas kkkkkkkk

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  2. Muitas pessoas me perguntam: vc nao ta trabalhando? Eu sempre respondo:eu nao to recebendo um salário, mas trabalhando... A isso eu to e muito, e a recompensa e o sorriso de satisfação da Maria Clara qdo me vê, o jeitinho dela se aninhar no meu colo pra dormir, o "beijo" babado. E iso tudo salário nenhum paga!!!! Estamos tirando o diploma da vida, do desprendimento, de psicólogo, de medico, de pedagogo, de ator, de contador de historias,, coisas q faculdade ou curso nenhum ensina. Valorizar cada pequeno momento q temos pra nos, q antes passava totalmente despercebido, como ler um livro. Aprender a desapegar de programações, pois o filho fez coco qdo estávamos de saída pra algum compromisso. Sao aprendizados q levamos pra vida toda!!!!!

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  3. Pra mim, sair do emprego e cuidar do meu filho foi uma alternativa natural, vivendo longe de todos da família e por não ter um emprego que compensasse pagar pelos cuidados. No entanto, percebo que há um certo preconceito, inverso ao que existia anos atrás, contra as mulheres que deixavam seus filhos para trabalharem fora de casa. Hoje, as que optam por abandonar a carreira é que são consideradas insanas. Salário nenhum paga estar presente em todos os momentos dos nossos filhos, acompanhar passo a passo os primeiros passos, as primeiras silabas, depois as primeiras palavras, saber o que eles comeram, se comeram bem e o que é aquele vermelhinho no bracinho, realmente nada paga. Mas temos que nos sentir valorizadas por isso mesmo, e por nós mesmas, não esperar que o reconhecimento venha de outros, porque, senão, nos sentiremos frustradas e mal-recompensadas. Confesso que sinto muita falta de me sentir atuante e importante em outros meios, além de casa, de ter conversas adultas, com adultos, de ter um tempinho só meu e de um dinheirinho só meu também... Acho que o eterno dilema de ser mãe, pelo menos para aquela que realmente querem ser mães, não termina nunca e começa logo. Parece que estamos sempre com o coração fora do peito, se afligindo por algum motivo ou outro, sempre.

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  4. Luciene e Carol,concordo com vocês - salário nenhum paga esses momentos com os pimpolhos!
    Só não acho saudável ficar com aquela sensação de que o dinheiro que entra em casa pertence apenas ao marido - eu me considero sócia de seu salário, afinal o casamento é uma sociedade conjugal e ambos trabalhamos em prol de nossos filhos! Claro que isso depende de como cada casal encara as coisas, mas é muito ruim se considerar dependente financeiramente, sentir que precisa de autorização para gastar com isso ou aquilo. Eu acredito em compartilhamento e negociação, nunca submissão.
    E, para ficar sem dilemas, desde o instante em que decidi parar, deletei o tema trabalhar fora de minha mente, e ele só será recuperado quando eu voltar ao mercado, o que acontecerá dentro de uns quatro anos, se tudo correr bem. Mas também não vou querer aquele emprego que me ocupa todo o tempo, quero ao menos continuar com vida de mãe em tempo parcial enquanto os meninos não se virarem sozinhos.
    Tenho a sorte de conviver com muitos vizinhos aqui, e costumo ter conversas técnicas com o maridão para treinar o cérebro, rs... Agora, ler livro, revista, fazer programações, ter uns 15 minutinhos do dia só pra mim, assistir a um filme, fazem falta mesmo! Pelo menos essa loucura serve pra gente não ter saudade no futuro, rs...

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  5. Carol, infelizmente o preconceito existe mesmo, e às vezes de pessoas muito próximas. Como você bem diz, a satisfação tem que vir de nós mesmas, da certeza da missão bem cumprida, sem esperar reconhecimento alheio, nem mesmo dos filhos quando crescerem. Estar presente nessa etapa compensa essa sensação de faltar uma parte, de eterna aflição e questionamentos internos... Muito em breve você estará atuante no mercado de trabalho, e verá como passou rápida a fase de full-time mom e que você, na verdade, só teve a ganhar!

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  6. Cris, voce tem razao quando diz que o casamento deve ser uma sociedade, compartilhamento em todos os sentidos, mas acho que poucos casais sao realmente socios quando a questao eh financeira, nas decisoes de em que, quando e quanto gastar. Por isso, a decisao de trabalhar fora so pode mesmo ser individual, referente a cada mulher e a situacao em que vive, nao cabe a ninguem mais julgar.
    Tenho certeza de que ganho muito em vida, em alegria, todo o tempo que estou com meu filho! E quando voltar a trabalhar, como voce, nao quero tambem que me consuma o dia inteiro, quero ainda ter tempo pra brincar, pra ensinar e pra cultivar com o pequeno, ou pequenos, quem sabe!

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  7. Certinha, Carol! Temos que respeitar as escolhas dos outros, pois cada um sabe onde o cinto aperta, rs. Só a mulher mesmo para pesar os prós e contras de ficar ou não em casa...

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  8. Cris, ainda não criaram a profissão mãe,porque o salário é impagável.
    Siga em frente, e no frigir dos ovos,sua missão mãe estará estará
    cumprida.
    Um abraço. Seu pai.Jorge.

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    1. Imagina o que deveríamos receber só de hora extra, rs... Beijo

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