quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O mundo nas costas


Você, que costuma carregar o mundo nas costas, preste atenção.
Não exija de si mesmo a solução de conflitos que não lhe pertencem, tampouco se mutile tentando satisfazer o outro. 
Não pegue para si a atribuição de modificar o próximo, muito menos sofra por não consegui-lo.
A cada indivíduo cabe arcar com as consequências dos próprios atos. Você é responsável apenas pelo que faz ou deixa de fazer, e sozinho colherá os frutos de suas escolhas.
Não se engane, acreditando que aqueles pelos quais você se dói tanto mudarão um passo em sua vida para compartilhar sua aflição.
Se pedido, aconselhe, mas não tome para si a culpa do padecimento alheio.
Um parente não é bem visto pela sociedade?  Erga a cabeça, não se envergonhe pelas falhas que não lhe são próprias.
O ente querido atua de forma questionável? Se não lhe atinge, não se doa por aquele que ele ofendeu.
Alguém lhe pediu para solucionar questões complicadas que empurra com a barriga há tempos, para que continue a desfrutar somente das alegrias da vida? Recuse sem hesitar.
Você dá seu parecer técnico, mas o chefe não lhe ouve e toma decisões equivocadas? Fique feliz pelo trabalho bem realizado; o superior responderá pelos seus atos.
Um filho deseja dividir contigo o peso da vida que decidiu ter? Diga que essa missão não lhe pertence.
Muitas vezes, a ajuda não está em fazer pelo outro, mas sim em mostrar que cada um deve tomar posição ativa nas questões difíceis que aparecem em seu caminho.
Se você atua pelo próximo, quando ele aprenderá a se virar sozinho, para que cresça diante dos obstáculos?
Não se cobre tanto... Não se transforme em avalista do universo.
Procure carregar apenas o fardo que lhe compete. Suas costas e sua alma agradecem.


sábado, 25 de fevereiro de 2012

Três vigas

  Acordo com uma imagem linda à minha frente: meu primogênito, de olhar doce e sorriso inocente.  Extasiada, faço um afago e penso: 'Nossa, meu pequeno está crescendo!'
   Em poucos minutos, na sala chega o segundo, carinha de menino sapeca, que me dá aquele abraço apertado de coala... 'Ah, como eu queria ficar assim por um bom tempo!'
   Que tempo que nada, já corro para tirar o caçula do carrinho: bebê precoce, de sorriso maroto, que a cada travessura me dá um olhar desafiador, de satisfação. Com ele no colo, tenho a sensação de que a família está completa.
   Assim começa o dia: comida, roupa, escola, bagunça, brinquedos, compras, banho, diversão... Uma checada na casa e me vejo no meio de um furacão.
   Mas essas três fofurinhas compensam todo o trabalho, todo o cansaço, toda a preocupação.
  Os filhos são nossas vigas, nos deixam mais fortes para enfrentar as limitações e desafios que a vida apresenta. Por eles, não nos deixamos abater, seguimos em frente diante das adversidades, certos de que amanhã será melhor. 
    Diante de sua alegria, tudo fica tão pequeno...
    Centelhas divinas, que nos ajudam a crescer.

Regra dos 3 filhos




3 x roupas + 3 x comida + 3 x brinquedos + 3 x bagunça = 3 x trabalho
                                        <
3 x sorrisos + 3 x abraços + 3 x beijos + 3 x carinho + 3 x felicidade = 3 x vida

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Inquietação

Por quê?
Será?
Pior?
Talvez.

De novo?
Resposta?
Melhor?
Quem sabe...

Onde?
Agora?
Depois?
Não sei.

Passado que volta,
Futuro incerto,
Presente inquieto.


Destruidora?


Não podemos ignorar a capacidade de raciocínio daqueles que pensam de forma diferente, que nos contestam e muitas vezes nos ofendem, pois até os desafetos vêm para nos ensinar algo.
Lutei anos contra uma imagem que eu acreditava terem, imotivadamente, atribuído à minha pessoa: a de destruidora. Sou consciente dos meus defeitos, mas isso me machucava. Muito.
Na minha tola ânsia virginiana de buscar a inatingível perfeição da alma e agradar a todos, essa definição não me parecia justa. Não combinava com todos os esforços que eu fazia para contornar os obstáculos que apareciam no meu caminho.
Mas hoje, não sei se por efeito da (matur)idade ou como resultado das reflexões sobre minhas atitudes, confesso: dependendo da ótica, sou destruidora sim.
Destruo os sonhos de quem faz planos com a minha vida e faz de tudo para realizá-los sem me consultar, ou até mesmo contrariando as minhas manifestações de discordância.
Aniquilo qualquer intenção de invadir minha liberdade, privacidade e intimidade.
Anulo todos os movimentos que tentem me desviar dos meus princípios.
Corto pela raiz qualquer anseio de plantar em minha família a semente da discórdia.                   
Derrubo do pedestal qualquer um que tente questionar meu pátrio poder, que procure meios de me considerar invisível em assuntos que me dizem respeito.
Retiro da minha lista quem declara não se importar com o que penso sobre minha vida e insiste em externar suas elucubrações sobre meu castelo. Desses dispenso telefonemas, elogios, presentes, ou qualquer coisa que demonstre simulação de harmonia.
Para defender meus direitos, se necessário, chamo meu Exército. Tropa composta de duas armas que só utilizo em casos extremos, porque sei que ferem: sarcasmo e ironia. Não é bonito, mas o que fazer?
Sim, eu admito minhas imperfeições, e uma delas é a incapacidade de esquecer o histórico de um relacionamento. Rancor, incompreensão, explosão? Sinto muito, mas com reincidente contumaz, não vejo outra opção.
E quem se sentir ofendido por ver seus desejos sobre minha vida tolhidos, que contrate um advogado. Mas que seja um procurador competente, de retórica eficiente, que me faça crer que não estou no meu juízo perfeito. Ou que convença algum juiz a me condenar por ter cerceado direito alheio. 
Quem disse que as pessoas não mudam?
Agora entendo, e não me dói ser considerada destruidora por certas pessoas, principalmente aquelas que têm um panorama enviesado da perfeição.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Um pouco sobre Brasília


      
     De repente, me vejo em Brasília. O céu impressiona, esplendoroso, de um azul que eu nem imaginava existir. A arquitetura, nem preciso comentar. Confesso que a Esplanada até hoje me deixa de queixo caído.
    Algumas questões surgem. Como assim, não é município? Não há bairros, e sim regiões administrativas? Cadê os cruzamentos? Ruas sem “nome”? Como saberei o que é CLN, W2, L3, AOS, QRSW? Prédios chamados de blocos? Mansões têm fossa? Pessoas de alto poder aquisitivo constroem em terrenos irregulares? O governo doa lotes a invasores? Sem coleta de lixo reciclável? Tenho que respeitar a faixa de pedestre? Evita-se buzinar? Que valor de aluguel é esse?  Fixação em concursos?
    Realmente, Brasília tem suas peculiaridades, qualidades e defeitos, como qualquer cidade.
    E, apesar de quente e seca, a Capital Federal tem a fama de cidade fria. Os que aqui chegam sentem falta do calor humano de suas terras. Muitos não aguentam e vão embora, como um dia fui. Mas não é culpa de Brasília, e sim da saudade. Saudade dos entes queridos, dos hábitos da cidade onde fomos criados, da nossa casa. Nostalgia que engana.
    O que aprecio mesmo em Brasília é sua maior riqueza -  não a do dinheiro, a das pessoas. Pois se tem um objetivo que a construção dessa cidade alcançou, foi de reunir os brasileiros. 
   Em BSB, perdemos preconceitos e deixamos de lado muito regionalismo orgulhoso. Expressões que depreciam pessoas de outras regiões não fazem sentido algum nesse lugar.
   A riqueza da troca de culturas é tão grande, que um simples almoço de trabalho se transforma em uma aula. Quando na Anatel, me divertia muito na companhia dos colegas: baianos, paraibana, pernambucana, paraense, paulistas, brasilienses, mineiros, catarinense... Bons momentos que carregarei comigo para o resto da vida, com muito carinho.
   Em meu condomínio, tenho o prazer de conviver também com maranhenses, gaúchos, piauienses, goianos,  paranaenses, mato-grossenses, capixabas... Não importa de que Estado venham, muitos vizinhos  são companheiros nessa jornada de construir uma vida distante do calor da família, e por isso valorizam a amizade entre seus filhos. Aqui, festas infantis se transformam em diversão garantida para os adultos que não têm a casa dos pais para frequentar nos fins de semana.
  E o que dizer dos brasilienses natos? Simpáticos, amistosos - eles não desdenham do seu sotaque. Possivelmente porque foram criados por pais que deixaram os seus para desbravar essa terra tão injustiçada.  Sim, os brasilienses são especiais. E espero que o meu trio cresça assim, vislumbrando nas diferenças regionais a possibilidade de aprendizado.
   No coração do Brasil, você faz de seus colegas de trabalho seus amigos de verdade, seus vizinhos cariocas de pontos de vista tão diferentes tornam-se seus melhores e fiéis companheiros, um simples curso de formação te traz uma amizade de longo prazo, cada etapa da vida te apresenta uma nova amiga.
    Não, Brasília não merece a fama que tem. Muitos que a criticam se esquecem de que os famigerados políticos não vivem aqui.  Eles chegam na terça e saem na quinta, retornando  à cidade daqueles que os mandaram pra cá com seu voto consciente.  
   Talvez por isso ela tenha sido construída em terra abençoada... Para poupar seus habitantes de uma energia negativa equivocada.

Profissão: mãe


Quando decidi pedir exoneração de um cargo público para cuidar de meu bebê, para muitos me assemelhei a um E.T. Às vezes, quando conto minha história, ainda recebo alguns olhares arregalados. Maluca essa mulher.
Na época, alguns tentaram me convencer a desistir dessa insanidade. Doida varrida. Estudei tanto... Iria rasgar o diploma, largar uma carreira, para me dedicar a uma das ocupações mais desprezadas pela sociedade atual – mãe em tempo integral.
Pois é, eu costumo remar contra a correnteza.  O que vale é o meu sentimento, e sempre estive convicta de que não conciliaria trabalho e maternidade, pelo menos na primeira infância dos rebentos. Fraqueza ou coragem, depende do ponto de vista...
Para piorar a loucura, sempre dispensei ajuda. Nada de babás e domésticas - no máximo uma diarista, vez ou outra. Filhos na escola, só aos cinco anos. O segundo entrou com três e meio porque quis acompanhar o irmão. Tudo bem, podem chamar a carrocinha.
Só que eu enlouqueço mesmo quando ouço: “Então você só fica em casa, não trabalha?” 
Garanto que nunca trabalhei tanto nessa vida. Sem horário de almoço, descanso semanal remunerado, permissão para ir ao banheiro, direito a um banho demorado, relaxar ouvindo música no trânsito. Dia e noite na mesma rotina cansativa, estressante e sacrificante, mas ao mesmo tempo prazerosa.
Sim, eu deixei uma carreira. Mas para começar outra, que considero muito mais gratificante.  Abri mão de um bom salário, na certeza de que acompanhar o desenvolvimento de uma criança não tem preço.
Não, eu não rasguei o meu diploma. Ele está intacto, guardadinho, e os conhecimentos que adquiri não desapareceram porque me tornei temporariamente ‘do lar’.  A sensação de ficar intelectualmente prejudicada é mera enganação do cérebro. Como diz minha sábia prima, estou exercitando outro lado da sabedoria.
E ao contrário do que muitos pensam, eu tenho vida própria. Própria de quem tem o prazer de registrar todas as experiências dos filhos. De quem sabe exatamente as influências que suas crias recebem, e tem a oportunidade de corrigir as falhas no momento em que ocorrem.  De quem não precisa perguntar a ninguém o porquê de a criança estar machucada ou desanimada. De quem sabe o que o filho fez, comeu, assistiu e ouviu o dia todo. De quem não sofre por ter que deixar um bebê doentinho sob os cuidados de um terceiro. De quem está disponível quando o menino pede um abraço, um colo. De quem pode ligar para o pai e relatar uma travessura em tempo real. 
Enfim, vida. Com vantagens e desvantagens, sucessos e decepções, altos e baixos, como a de qualquer profissional.
Diferente do que consideram, não vivo na sombra de marido, tampouco sou financeiramente dependente. Somos sócios, e cada um realiza a tarefa que lhe compete na nossa empresa chamada Lar. Ele sai para trabalhar tranquilo, certo de que eu fico em casa trabalhando também.
Essa é uma realidade que faço questão de enfatizar para meus filhos. Papai trabalha fora, mamãe trabalha em casa. Nada daquele discurso feminista de que mães em tempo integral não trabalham e são submissas. Isso é balela. Bandeira de quem quer padronizar comportamentos e menosprezar o que é diferente.
O fato é que há mães que trabalham fora por necessidade, outras por desejo de sucesso profissional, e algumas optam por parar. Respeito todas, pois cada uma tem seus motivos e sabe o que é melhor para sua vida. E, como eu, devem ter ponderado o desgaste emocional que a decisão de ficar em casa ou não acarretaria. 
Mas o mais engraçado nessa vida de remar contra a correnteza é ouvir de alguns: “Nossa, que babá brava, olha como ela corrige as crianças! Ah, é a mãe? Então está explicado... ela pode”!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Francanês



¾     Alô.
¾     Quem tá falano?
¾     Como assim? Com quem quer falar?
¾     Ah fio, é cocê mesmo. Aqui é o José. Vãprucinema?
¾     Fala mais devagar, cara. Que mania de juntar as palavras.
¾     Então fio, vai comigo ou não vai? Depois vou apreçar uns CDs lá na cidade.
¾     Mas você já não está na cidade? Mora na roça, por acaso? Vai botar uns CDs pra correr? Corre CD, corre...
¾     Claro que não, ô da Capital. Vou olhar os preços de uns CDs lá no centro. Não entende nada, mesmo.
¾     Agora sim... Posso ir com você.
¾     Legal. Mas por favor, nada de vestir aquela sua camisa escalafobética!
¾     Escala o que?
¾     Escalafobética. Pode olhar no dicionário.  Esquisita, como a maioria de suas roupas.
¾     Tá bom, vou fingir que acredito.
¾     Mudando de assunto, encontrei a Tina na Igreja. Não sei o que ela tava cheirando lá.
¾     Que horror! Com tanto lugar pra cheirar, a menina vai escolher a Igreja?
¾     Que isso, fio! Nada a ver... Não sei o que ela estava fazendo lá.
¾     Essa linguagem que só francano entende...  
¾     Olha só, eu queria que você levasse um pedaço daquela torta que a Luiza te deu.
¾     Nem pensar!
¾     Larga de ser ridico, fio. Quê que custa dividir comigo? 
¾     Ridico? Me poupe, o que é isso? Traduz de uma vez...
¾     Ah fio, vai ler o dicionário. Quer dizer avaro, sovina... Como você!
¾     Hã?
¾     É sim, sempre come tudo sozinho, por isso é bastante socadim.
¾     Socadim?
¾     Diminutivo de socado... Gordo e baixo, atarracado.
¾     Mas até pra ofender você usa o francanês?!
¾     Bora então. Vãprucinema, apreço os CDs e depois a gente come um bolota.
¾     Come o que?
¾     Bolota, fio. Sanduíche, X-burguer, X-tudo. Tem um lá perducorgo.
¾     Perducorgo? Que palavrão é esse?
¾     Perto do córrego, fii. Do lado do postim. Vai tirar cera desse ouvido.
¾     Ok. Vamos parar com essa conversa, porque processar o que você fala demanda muita energia.
¾     Larga de frescura, fio. Só porque é da Capital, fica me desdenhando...
¾     Desdenhando nada, vou criar é um dicionário de francanês.
¾     Ai ai... O povo, desse jeito, não tem condição... Quantas horas?
¾     Quantas horas? Na minha terra se pergunta que horas são. Cinco e meia.
¾     Te encontro no cinema então. Até.

Família - democracia ou ditadura?



Tenho que confessar alguns defeitos. Sou chata, muito chata. E controladora. Quem me conhece sabe.  Mas gosto de controlar a minha vida, e sou chata por não abrir mão desse direito.
Apesar de defender a democracia na política, em minha casa prego a ditadura. Regime familiar com dois ditadores: meu marido e eu. Negociamos nossas regras, e são estas as aplicadas em nosso lar. Conselhos e opiniões alheias, se e quando bem-vindos, são incorporados. Caso não coadunem com nossos princípios, são descartados, não importa quem os tenha dado.
Mas quanta intransigência, podem pensar alguns.  Bem, cada um leva a vida do jeito que quer, mas eu considero complicadíssimo transformar seu lar em uma “Gestão Participativa”.
Você se casa com uma pessoa com costumes completamente diferentes. Já é bastante difícil, em muitos casos, marido e mulher chegarem a um meio termo. Então nascem os filhos, e a responsabilidade aumenta. As decisões tomadas pelo casal agora refletirão naqueles cuja educação Deus lhes confiou.
Imagine abrir espaço para discutir com familiares e amigos a sua rotina, seu estilo de vida, o modo de educar as crianças, e condicionar suas decisões às opiniões alheias.  Aceitar que um familiar questione suas determinações diante de um filho. Ou deixar que toda e qualquer visita altere a rotina de sua casa a seu bel prazer. Não, isso não pode dar certo.
Se eu permito que todos os bem-intencionados tenham voz ativa na minha vida, a quem meus filhos deverão obedecer? Quais regras deverão seguir? As dos pais? Dos avós maternos? Dos avós paternos? Dos tios? Como a cabecinha de uma criança entende como deverá agir, se a cada momento é a opinião de uma pessoa diferente que prevalece?
Ensinamos os meninos a seguir sempre as nossas regras, respeitando aqueles sob cujos cuidados estiverem. E isso tem surtido efeito, pois sabemos que já se recusaram a fazer algo que contraria nossas instruções, sugerido por familiares sem nossa presença.
Claro que a democracia será implantada para nossos filhos paulatinamente, na medida de sua maturidade e discernimento. E obviamente, quando adultos e donos do próprio nariz, poderão decidir por si se acatam ou não o ponto de vista dos pais e demais familiares.
Sinto muito desapontar alguém, mas acredito que uma educação eficaz depende de regras claras, emanadas sempre do mesmo Poder. Nesse caso, do Pátrio Poder. E essa é a nossa vez.
Os avós já tiveram a oportunidade de criar seus filhos, e deveriam ficar felizes quando estes repetem algo que costumavam fazer, sem nunca cobrá-los de copiar todos os seus passos.  Eles têm que entender que a educação dos netos é o resultado da deliberação de duas pessoas que se uniram e procuram pegar da criação que tiveram o que consideram melhor.
Os tios e amigos com herdeiros devem se ocupar com os seus.  E aqueles que não possuem rebentos, se quiserem participar da educação de alguém, que procurem tê-los.
Prefiro errar e acertar na nossa ditadura, a me arrepender no futuro por ter dividido essa obrigação com quem não é de direito.
Afinal, a vida há de cobrar o que fizemos com a responsabilidade que nos foi dada.

Saber calar



Morar longe dos familiares tem seus bônus, mas um ônus muito grande: a saudade.
Como tudo tem seu lado bom, esse ônus também traz um bônus: o aprendizado.
E graças à saudade, aprendi a me calar.
A saudade me fez deixar no passado a irmã mais velha julgadora, as diferenças da infância e adolescência, as divergências quanto ao estilo de vida, os discursos proferidos durante toda uma existência.
Aprendi a ser mera espectadora de uma realidade que não me pertence. Isso mesmo, a vida de um familiar não me compete. As decisões particulares deste não podem me atingir. Caso me afetem indiretamente, tenho o dever de aprender a conviver com o novo cenário.
Posso até estar errada, mas vivo minha vida da maneira acordada com quem a divido, e não aceito intromissões de qualquer ordem. Seria incoerente, portanto, querer interferir nas escolhas de meus entes queridos, por melhores que fossem as minhas intenções.
Cada indivíduo lida com determinadas situações e com certas pessoas a seu modo. Não é saudável tentar padronizar relacionamentos, principalmente aqueles nos quais os atores são pessoas lúcidas e dotadas de livre arbítrio.
Se me pedem conselhos ou ajuda técnica, ofereço com prazer. Mesmo assim, não me acho no direito de cobrar-lhes seguir meus pensamentos. Diante de um desabafo posso até me manifestar, mas aprendi a não tomar uma posição ativa. E quando o assunto é muito delicado, prefiro me abster.
Diante da saudade percebi que, na vida alheia, o que eu penso não tem importância. Minha opinião não influenciará suas decisões e, em alguns casos, externá-la teria um custo muito alto. E eu não quero pagar o preço.
Quero ter sempre a oportunidade de retornar aos meus, de ser agraciada com uma recepção carinhosa, de ver a satisfação de meus irmãos em ter minha família por perto. Não troco o prazer da convivência com aqueles que amo pelo direito de dar pitacos na vida alheia. No mais, já tenho problemas o suficiente para resolver.
É como se diz: no jogo da vida, cada um cuida da sua. E para que esse jogo seja divertido, é preciso saber calar.
A saudade ensina...

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Seja um espelho


Aprendemos certas coisas na vida que valem a pena compartilhar.
Num momento muito turbulento, um anjo nos ensinou que não temos como mudar uma pessoa com nossos argumentos.
Aconselhou: “Sempre que alguém tentar lhe atingir, seja um espelho. Espere, até que ela perceba que tem errado e decida sair de onde está".
Ficamos pensativos, tentando compreender o que aquilo significava. 
E nos lembramos de como um espelho trabalha.
O espelho está lá, parado, e alguém para na sua frente.
Ele refletirá todas as poses que aquela pessoa fizer. Inerte, refletirá o movimento de seus lábios enquanto ela discursa.  
Mas quando aquela pessoa vai embora, no espelho nada deixa. No objeto não fica sua imagem, nem ao menos meia palavra que proferiu.
O espelho recebe, reflete, e depois de tudo volta ao seu estado habitual.
Desde então, tento aplicar isso em minha vida. É difícil, pois a primeira reação diante de uma ofensa é esbravejar, xingar, remoer até cansar.
Mas com isso, o adversário alcança seu objetivo, que é nos atingir de algum modo. Consegue plantar em nossa alma uma semente ruim, que se regada aos poucos, pode vingar e causar danos irrecuperáveis. É o que eu chamo de semente da vibração negativa.
Agindo como um espelho, ouvimos desaforos, mas não os absorvemos.  Sem nos atingir, rebatemos as ofensas de modo a mostrar para a pessoa o papel ridículo que desempenha, na esperança de que um dia ela acorde para a vida.
Eu desenvolvi até um mantra para esses dias difíceis: “O que vier dessa pessoa para mim, não quero receber. Sem saber se é bom ou ruim, eu mando de volta”.
É o discurso do espelho, refletindo o que não lhe pertence.
Tarefa árdua, pois a nossa condição humana é fraca...
Mas com um pouco de treino, talvez no futuro eu consiga ser efetivamente um espelho.









quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O urso insistente


O urso insistente

Do alto de seu pedestal
O urso recebeu a notícia fatal:
A loba um castelo invadiu,
E ofendida pela leoa se viu.

Do alto de sua bondade,
Queria para a loba a felicidade.
Fez-se então seu procurador,
Ignorando do leão um clamor.

“Direito de opinar eu tenho,
Apresentar críticas venho.
E sua ilógica reação
Deve-se à sua condição.”

O urso sua faceta mostrou,
A segurança do castelo questionou.
Disse que com a leoa ninguém se importava.
E a porta do castelo, fechava...

Mas a leoa o urso não esquece,
Ofende e afeição finge que fornece.
Do carinho para com o leão faz alarde,
De uma forma covarde.

Mas amizade não é desrespeito,
Ter opinião não dá direito.
Saudade não apaga maldade,
Desculpa é ter humildade.

De o erro admitir,
Da realidade não fugir,
De tudo que afirmou rever,
E de fato se arrepender.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Crônica da dor


Crônica da dor
Chega mansinha. Como um incômodo, faz sua caminha.
Dor que se instala. Dor que abala, que a alma cala.
Dor que não vai embora. O corpo sente, a alma chora.
Dor que limita. Não justifica. A alma grita.
Dor que enraivece, que não se esquece. A alma entristece.
Dor que dos planos liberta. Sem direção, a alma inquieta.
Dor que aproxima. Ou que repele. A alma ensina.
Dor que irradia. Faz doer quem não está doente. Almas em sintonia.
Dor que só aceita quem realmente se importa. Se a desrespeitam, fecha a porta.
Dor que a fé fortalece. Pede e confia. A alma agradece.
Dor que faz remar contra a correnteza. A alma agora vê sua beleza.
Dor que segura. Coração livre de amargura. A alma cura.
Seria benção? Reflexão? Progresso?  Lição?
Pede luta sem desespero. Força, paciência, resignação.
Não te convidei, mas se te necessito, te aceitarei.
Bom dia, boa tarde, boa noite. 
E se Deus quiser um dia, tchau!
Dor crônica.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Perfeição materna



Apesar de ser uma típica virginiana extremamente crítica e perfeccionista, não quero ser a mãe perfeita.
Considero muita injustiça cobrar da mãe esse modelo de perfeição, como também esperar que os filhos a enxerguem sempre desse modo.
Afinal, mãe perfeita não existe e, cedo ou tarde, nossas crias hão de descobrir isso. Então, que desconfiem desde sempre, para a decepção não ser muito grande quando se for a ingenuidade infantil.
Tudo bem, você pode até achar sua mãe perfeita, mas a verdade é que ninguém é perfeito. E é essa a mensagem que quero transmitir aos meus filhos.
Não quero treiná-los  para concordar com tudo que digo e faço só porque foi através de mim que vieram ao mundo.  Não quero que a maternidade justifique qualquer e toda asneira que eu vier a cometer, que me idolatrem como recompensa pelos meus sacrifícios.
Quero que sejam capazes de ter uma visão crítica e analisar minhas atitudes. Serei muito mais feliz se concordarem comigo porque raciocinaram, e não por causa de um amor filial e cego.
Mas e se algum filho, porventura, vier a me considerar perfeita? Nesse caso, espero que ele entenda que essa visão é subjetiva, e que tenha o discernimento de não cobrar que os outros me vejam desse jeito e acatem tudo que vem de mim...
A mãe perfeita não pode errar, e quero me dar esse direito, mesmo tentando sempre fazer o certo.  Não acredito que uma boa intenção implica sempre um acerto, e os pais deveriam ter a humildade de admitir isso.
Escancarando minha imperfeição humana, consigo deixar espaço para pedir desculpas diante da manifestação de contrariedade de um filho. Mas desculpas sinceras, com análise das próprias atitudes e comprometimento de não repetir o erro.
Pois não é isso que ensinamos aos nossos filhos, pedir desculpas e mudar o comportamento diante do erro?  Sejamos as primeiras a dar o exemplo então.
Afinal, errar uma vez é aceitável, mas desculpar-se e insistir no desacerto diante daquele que já se manifestou é, no mínimo, arrogância. E mãe perfeita não faz isso... Perceberam o dilema?
Que busquemos a inatingível perfeição materna assumindo nossa imperfeição humana!
E é claro que tudo isso se aplica aos papais, nossos companheiros nessa jornada de constante aprendizagem...

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Saudades ou boas lembranças?

Com frequência ouço que sentirei saudades dessa época em que meus filhos são pequenos...
Mas quando eles crescerem, não é esse o sentimento que quero ter, como já não tenho saudade de quando eram bebezinhos. 
Nem pensar querer novamente as noites sem dormir, os dias sem conseguir comer, tomar banho de gente...
Quero guardar dessa fase boas lembranças, memórias de um tempo muito gostoso, apesar de sacrificante.

Desejo aproveitar uma fase por vez e agradecer a Deus por ter conseguido superá-la.
Por mais que seja complicado lidar com a adolescência ou aceitar a independência total do filho adulto, quero viver cada momento sem olhar para trás com nostalgia.
Quero olhar para as fotos e vídeos sem lamentar que hoje é diferente.
Saudade dá a sensação de ausência, de privação, representa uma vontade de tornar a ver ou possuir alguém que não se tem mais... Essa é a definição dos dicionários.
E afinal, se os filhos ainda existem e continuam em nossas vidas a seu modo, por que tentar fugir da realidade e cultivar saudades do que nunca vai voltar?
Em vez de querer de volta a criança ingênua que venerava a mãe e estava sempre na barra de sua saia, não é melhor procurar entender e aceitar o filho como ele é e respeitar a vida que ele escolheu ter?
Assim, pode-se fazer da maternidade uma trajetória na qual sempre exista algo bom para se lembrar ao olhar pra trás.
Boas lembranças de cada etapa sim, mas saudades, jamais...

Escrevo porque preciso

Escrever é uma necessidade...  O pensamento chega, o texto se ajusta de forma meteórica e necessita ser externado. Um process...