Recentemente li uma notícia sobre um
empresário que foi processado pelo assaltante que invadiu seu estabelecimento e
foi ‘injustamente’ espancado. Felizmente, o ‘coitado’ infrator não teve êxito na
empreitada e deixou de receber a sonhada indenização por danos morais.
Essa história bizarra me fez lembrar como, no
dia-a-dia, geralmente somos condenados por reagir diante de comportamentos
inaceitáveis ou questionáveis. Ao demonstrar nosso descontentamento,
simplesmente passamos de ofendidos a ofensores dos pobrezinhos que acham que
podem falar e fazer o que querem sem que haja alguma contrariedade.
O que aconteceria se, ao ouvir alguém
dizer que seus filhos são brancos de doer os olhos e deveriam tomar um pouco de
sol, você não optasse por apenas sorrir e respondesse no mesmo nível, pontuando
ofensas ao interlocutor? Seria taxado, no mínimo, de preconceituoso ou
desrespeitoso, ao passo que o outro não, é claro.*
E se você, em vez de fazer piada, se fizesse de vítima e apontasse as imperfeições físicas de quem que te chama de branquelo, transparente, leite condensado, bronzeado palmito, e ainda brinca que se jogasse seu bebê pelado na parede só veria os olhinhos piscando? O considerariam sem esportiva, certamente.
Como encarariam um xingamento em resposta a imitações notadamente discriminatórias de seu sotaque interiorano, ao desagradável comentário de que você engordou ou emagreceu demais, à sutil insinuação de que sua casa ou seu carro não são bons o bastante? Falta de humor e bom senso, obviamente.
Será que entenderiam se, no lugar de simplesmente
ignorar uma desconhecida que palpita sobre o modo como deixa seu bebê no
carrinho, você resolvesse devolver no mesmo tom e criticasse o lanche que os filhos dela estão comendo? Lógico que não, seu encrenqueiro problemático.
Qual o grau de loucura se você decidisse
não ficar calado diante de ofensas proferidas sucessivamente por um idoso e pagasse na mesma moeda, externando aos quatro ventos os defeitos
que nele vê? Incalculável e digno de internação psiquiátrica ou terapia.
Quantas amizades você perderia se não fizesse ouvidos moucos diante daqueles que tentam consolar um filho que você está corrigindo, e pedisse que respeitem sua autoridade e cuidem apenas dos seus? Impossível contar nos dedos.
Que castigo você receberia se, ao invés de procurar
entender a cabeça de quem disse uma frase infeliz e ser compreensivo, também não usasse o cérebro
adequadamente e tivesse uma reação exagerada? Silêncio, desprezo e falta de um 'desculpe-me por ter iniciado a discussão'.
Quantas lágrimas de crocodilo você faria o bem
intencionado derramar, se desistisse de explicar seus motivos diante de uma interferência e rispidamente se manifestasse contra o conselho não pedido? Infinitas e injustas, evidentemente.
A calma é virtuosa, a
civilidade é linda, o politicamente correto é necessário e quase tudo na vida tem sua justificativa, mas a verdade é que em certas ocasiões um sonoro e libertador ¡vete a la mierda! se faz oportuno e merecido.
*Deixando claro que a pessoa de pele extremamente branca também é vítima de piadinhas e bullying desde a infância, o que é bastante nocivo, pois muitas passam a ter vergonha do próprio corpo.
*Deixando claro que a pessoa de pele extremamente branca também é vítima de piadinhas e bullying desde a infância, o que é bastante nocivo, pois muitas passam a ter vergonha do próprio corpo.
Excelente texto!
ResponderExcluirInfelizmente, parece que só um lado de qualquer conversa pode ser inconveniente - e geralmente o que começa. Dessa forma, se alguém te fala alguma grosseria, piada sem graça ou comentário inoportuno, você acaba de perder a oportunidade de fazer o mesmo! Porque aí é você que não sabe levar na esportiva, ou não entende que foi "só" uma brincadeira...
O pior é que muitos pensam assim mesmo, que temos que ser sensatos e compreender sempre o lado dos outros... Até que uma hora cansa!
ExcluirBia Ávila: Concordo plenamente.
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