Na
sala de espera do hospital, tivemos a oportunidade de conversar com um outro
paciente que passaria pela inoculação de células-tronco. O breve diálogo, que
fluiu com o nosso portunhol cara-de-pau e a boa vontade do casal de Costa
Brava, será para nós inesquecível.
Com
pouquíssimas perguntas sobre o dia-a-dia e os tratamentos já procurados,
descobrimos que estamos na mesma situação (eles há mais tempo), com filhos
pequenos, mudanças bruscas na rotina, desafio emocional e necessidade de se crer
em uma razão maior para tudo isso.
Muito
simpático, ele mencionou um episódio no qual, diante da limitação física para
carregar as malas e da possibilidade de perder um voo com a família, não se
fez de rogado e, numa atitude desesperada, empurrou a bagagem escadaria do aeroporto
abaixo. Rimos muito e nos identificamos com isso porque, de fato, certas
ocasiões são tão difíceis que dá uma enorme vontade de cometer alguns desatinos
como esse.
Papo vai,
papo vem, e ele: “Muitos não entendem, alguns não compreendem, só ela (apontando
para a esposa) sabe realmente o que se passa. Sua mulher vive isso com você,
apenas ela enxerga o que você sente de verdade, ninguém mais”. Olhamos um para
o outro e acenamos com a cabeça: é assim mesmo!
Como ele bem descreveu, a sensação é de que, por mais que você explique,
poucos conseguem ter uma exata dimensão do que acontece. O que é totalmente
aceitável, pois nós também não internalizamos com exatidão o que se passa com
as outras pessoas. Certamente captamos alguma coisa, mas
inúmeras situações são incompreensíveis por quem nunca as
enfrentou.
Quando uma adversidade se instala, poucos chegam perto de
compreender 100% sua nova realidade – talvez familiares mais antenados na
sua rotina anterior, um casal de amigos que passa alguns dias em sua casa, o vizinho
com problema parecido ou um colega de trabalho que acompanha o esforço para
realizar certas tarefas. A impressão é de que a grande maioria, felizmente, é
capaz de imaginar que algo verdadeiramente penoso ocorre e, apesar de não
conseguir mensurar o problema, ajuda muito com sua confortante e
alegre torcida. Uma pequena minoria, entretanto, não tem essa empatia.
Depois desse
encontro fiquei pensando no quanto os grupos de apoio e autoajuda devem ser
significativos para quem precisa dividir as
angústias e recarregar as energias, justamente por promover o encontro de
pessoas que compartilham as mesmas dificuldades e entendem de verdade o que o
outro está enfrentando.
Enfim, ouvir os relatos do catalão e sua esposa foi surreal e
bastante significativo. Pela primeira vez em dezesseis meses,
conversamos com alguém que sabe exatamente tudo o que se vivencia nesse
período. Numa tarde estressante e a um passo do desconhecido, tivemos a
chance de trocar figurinhas e achar alguma graça das adversidades. Apesar dos
diferentes idiomas, sentimos que falamos a mesma língua.
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