segunda-feira, 18 de junho de 2012

Mesma língua, idiomas diferentes


 Na sala de espera do hospital, tivemos a oportunidade de conversar com um outro paciente que passaria pela inoculação de células-tronco. O breve diálogo, que fluiu com o nosso portunhol cara-de-pau e a boa vontade do casal de Costa Brava, será para nós inesquecível. 
Com pouquíssimas perguntas sobre o dia-a-dia e os tratamentos já procurados, descobrimos que estamos na mesma situação (eles há mais tempo), com filhos pequenos, mudanças bruscas na rotina, desafio emocional e necessidade de se crer em uma razão maior para tudo isso.
Muito simpático, ele mencionou um episódio no qual, diante da limitação física para carregar as malas e da possibilidade de perder um voo com a família, não se fez de rogado e, numa atitude desesperada, empurrou a bagagem escadaria do aeroporto abaixo. Rimos muito e nos identificamos com isso porque, de fato, certas ocasiões são tão difíceis que dá uma enorme vontade de cometer alguns desatinos como esse. 
Papo vai, papo vem, e ele: “Muitos não entendem, alguns não compreendem, só ela (apontando para a esposa) sabe realmente o que se passa. Sua mulher vive isso com você, apenas ela enxerga o que você sente de verdade, ninguém mais”. Olhamos um para o outro e acenamos com a cabeça: é assim mesmo!
Como ele bem descreveu, a sensação é de que, por mais que você explique, poucos conseguem ter uma exata dimensão do que acontece. O que é totalmente aceitável, pois nós também não internalizamos com exatidão o que se passa com as outras pessoas. Certamente captamos alguma coisa, mas inúmeras situações são incompreensíveis por quem nunca as enfrentou. 
Quando uma adversidade se instala, poucos chegam perto de compreender 100% sua nova realidade – talvez familiares mais antenados na sua rotina anterior, um casal de amigos que passa alguns dias em sua casa, o vizinho com problema parecido ou um colega de trabalho que acompanha o esforço para realizar certas tarefas. A impressão é de que a grande maioria, felizmente, é capaz de imaginar que algo verdadeiramente penoso ocorre e, apesar de não conseguir mensurar o problema, ajuda muito com sua confortante e alegre torcida. Uma pequena minoria, entretanto, não tem essa empatia.
Depois desse encontro fiquei pensando no quanto os grupos de apoio e autoajuda devem ser significativos para quem precisa dividir as angústias e recarregar as energias, justamente por promover o encontro de pessoas que compartilham as mesmas dificuldades e entendem de verdade o que o outro está enfrentando. 
Enfim, ouvir os relatos do catalão e sua esposa foi surreal e bastante significativo. Pela primeira vez em dezesseis meses, conversamos com alguém que sabe exatamente tudo o que se vivencia nesse período.  Numa tarde estressante e a um passo do desconhecido, tivemos a chance de trocar figurinhas e achar alguma graça das adversidades. Apesar dos diferentes idiomas, sentimos que falamos a mesma língua.

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