sexta-feira, 14 de março de 2014

Atividade de casa

Atividade de casa para o primeiro ano - "Você gosta de alguma poesia? Se sim, traga-a para ler com a turma na sexta-feira."
Papai lê a agenda na segunda-feira: 
P: Filho, você gosta de alguma poesia?
C: Não, pai.
P: OK. Então não precisa levar nada na sexta.

Mamãe lê a agenda: 
M: Filho, hoje é sexta, vamos escolher a poesia para você levar.
C: Eu não gosto de nenhuma poesia, não preciso levar.
M: Mas você sabe o que é poesia?
C: Não, mas eu não gosto. 
M: Sabia que tem poesia que vira música, que primeiro se escrevem os versos e depois juntam o som? Você não gosta de saber as letras? Então, vamos escolher uma poesia assim.
C: Então tá. Eu quero uma do One Direction.
M: Não, filho, tem que ser em português. (...insistência...) Porque você está no Brasil, numa escola brasileira, não é hora de ler poesia em inglês.
C: Já que é assim, quero uma do Charlie Brown Jr.

Mamãe respira fundo, vai pro computador e mostra uma imagem do livro 'A Arca de Noé'. O mais velho diz que já leu, e ela explica que cantores que gostavam muito do Vinícius decidiram transformar aquelas poesias em música.
M: Alguém tem dois CDs 'A Arca de Noé'? Gosta das músicas? Qual das letras você gostaria de ler?
C: Nós temos, mãe! Eu gosto muito! Quero a do pinguim.

Mamãe acha a letra da música, coloca o vídeo do youtube e o menino lê cantarolando, enquanto o caçula empurra e grita que também quer ver. Ela imprime o poema, e aquele que não precisava fazer a tarefa de casa vai pra escola feliz, porque sabe de cor uma poesia de Vinícius de Moraes.
O pai? Quando ouve a odisseia da mãe quase surtada, ainda tem a coragem de cair na risada e dizer que isso tem que ser registrado.
Realmente, homens são de Marte, e mulheres são de Vênus. Desse jeito, as muié pira!

segunda-feira, 10 de março de 2014

A uma categoria de mulheres, o esquisito 8 de março


    Senta aqui, Maria, precisamos conversar. Percebo que você, apesar de minha insistência, rejeita os sessenta minutos para almoçar e descansar. Como era no outro emprego? Ah, eu podia imaginar: não tinha controle de jornada, não recebia adicional noturno, comia rapidinho e corria para adiantar o serviço. Você não admite um momento de pausa no âmbito do meu lar e fica acanhada com minha oferta de sentar no sofá para ver TV ou ler uma revista nesse período. Já está acostumada com a lida, sempre foi assim, não precisa relaxar um pouco na área de lazer do condomínio. Compreendo o que te incomoda, Maria - sei que essas alternativas são muito diferentes de trabalhar em uma loja e passear pelo centro da cidade na horinha de folga.
     Acontece, Maria, que as coisas mudaram, e as domésticas agora têm reconhecidos os direitos essenciais de qualquer trabalhador. Um deles é o intervalo no meio da jornada, do qual você não pode ser privada. Nem adianta querer negociar, dizendo que vai trabalhar por oito horas ininterruptas, tendo chegado aqui depois de duas horas na estrada, para tentar sair mais cedo e pegar o longo caminho de volta com apenas o macarrão instantâneo no estômago. Podendo poupar o que gastaria com a senhora que dela cuida, dinheiro que te faz falta, você decidiu não trazer sua pequena justamente porque sabe o quanto essa rotina é sacrificante, não é mesmo?
    Reconheça: como todos os outros que têm horário de almoço, você é gente, Maria, e a gente não consegue viver bem sem uma pausa durante o dia. Sei que você é sofrida, vive para trabalhar e está comigo por falta de opção. Veja-se não apenas como uma empregada, e sim como uma mulher jovem, bonita, que tem um corpo para alimentar, saúde para resguardar, além de uma mente para relaxar. Pois ao contrário do que divulgam, é preciso usar o cérebro na dura rotina de fazer uma casa funcionar. 
     Você sabe que nunca tive empregada e não fico confortável com diaristas, por vários motivos, certos ou errados, dos quais não consigo me desvencilhar. Sou controladora ao extremo, gosto de fazer tudo sozinha, detesto repetir orientações, acho que os papéis se misturam e que é inconcebível alguém ter a obrigação de guardar os calçados e limpar a sujeira negligenciada de pessoas saudáveis. Mas agora, Maria, eu não posso me esforçar. Você foi contratada para me substituir nas minhas limitações, eu não te cobrarei o que nunca conseguiria fazer em condições normais. Se te confio meus maiores tesouros, os filhos, sei que o resto não ficará impecável, pois só exige isso de uma única pessoa quem nunca cuidou sozinha de crianças em casa, e talvez nem teria ideia de por onde começar. 
    O mesmo desconforto que você tem ao usufruir seu horário de almoço, Maria, eu sinto ao vê-la se matando de trabalhar em minha casa sem descanso; me faz mal ter a casa mais organizada que o habitual, a esse custo. Eu conheço a dureza, o cansaço, a dor no corpo e o estresse de não ver o trabalho acabado, além da falta de reconhecimento pelo restante da comunidade. Tantas mulheres acreditam que esse serviço não lhes merece e recusam-se a ensiná-lo para a nova geração de meninas descoladas e independentes, que me pergunto: quem pagará por tamanha comodidade, quando você e suas amigas finalmente internalizarem o imenso valor desse trabalho?
    Embora eu não considere esse tipo de relação trabalhista agradável, garanto que a nossa será totalmente legal. Você caiu num lar de advogados e não aceito burlar essa lei, que considero tão justa e cujo real significado você em breve irá compreender. Creio que uma prática vale mais que mil bravatas, e que o ideal defendido tem que começar a ser aplicado na menor célula da sociedade sob meu controle, que é a minha casa. Se alguém te fez acreditar que é favor te dar um emprego e adequar seus direitos à planilha familiar de supérfluos e viagens, pasme, você foi vítima de exploração e conveniência travestidas de bondade. Então mesmo que isso pudesse me beneficiar de algum modo, recuso-me a abusar de sua ingenuidade e não abrirei mão do seu intervalo para alimentação e repouso. É seu direito, é lei, é meu dever.
     Com tudo explicado, Maria, eu entendo seu lado e não desejo te constranger. Se você declina uma hora de almoço, temos a opção da jornada de seis horas diárias, cinco vezes por semana, com o descanso de quinze minutos. Já te mostrei as diferenças, que eu vivenciei nos tempos de bancária. Repare nas contas, nesse sistema teremos que fazer alguns ajustes e sua hora sairá mais cara, mas não considero justo te pagar menos do que o emprego anterior te dava por quarenta e quatro semanais. Fico feliz que você tenha pensado e escolhido as trinta horas que considera melhor, mas confesso que sofro, Maria, por achar que ainda não a remunero pelo que você merece. Porque se eu fosse cobrar pelo valor que dou ao meu serviço, que temporariamente te delego, poucos teriam condições e vontade de pagar.
     Depois dessas semanas de profundas experiências, dedico a você, Maria, e às tantas outras que, na falta do cubículo 'exclusivo', sentam no chão da sala e cobram, por uma noite como babá, menos que a metade da conta do chope do patrão, o esquisito 8 de março. Porque uma premissa de araque do louvável e necessário feminismo não me explica o motivo de uma categoria de mulheres, a sua, poder ficar relegada aos abominados encargos com a casa e a cria. Cuidados com o lar e os filhos alheios, em detrimento dos seus, é claro, para que mulheres mais favorecidas consigam arregaçar as mangas e lutar pela nobre causa.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Alfabetização e sensibilidade


Um depoimento de satisfação (27 de fevereiro de 2014)


FOTO 1: Aos 5 anos, numa escola que falava de Deus, tinha acolhida, e dizia usar várias teorias, sem antecipar o processo de alfabetização. A professora fazia correção desde as primeiras letras cursivas (G,H,J), dizia que a caixa alta morreu e exigia letra redondinha em todas as atividades. Terrorismo total, com ameaças de vários tipos para quem insistisse com a letra de forma. A última palavra que ele escreveu no Jardim II, em agosto, foi 'helicóptero'. Resultado: um menino precoce, que aprendeu a ler e a escrever sozinho aos 4 anos, andava tenso, desmotivado, não queria mais desenhar, folhear livros e gibis, passou a dar mais trabalho para se alimentar.

 O QUE OS PAIS DOIDOS FIZERAM: tiraram o menino da escola, e não colocaram em outra. A mãe, que teve mais trabalho em casa, mostrou que a letra de forma não morreu e é usada em muitas ocasiões. Fez um certificado parabenizando-o por já ter alcançado o esperado para a idade dele, além de uma carta dos anjos escolares, que e stavam lhe presenteando com as "super férias". O menino usufruiu a companhia dos irmãos o dia todo e não fez qualquer atividade com letra cursiva nesse período.


FOTO 2: Aos 6 anos, numa escola que não trata de religião, é tradicional, usa cartilha, tem fama de exigente e não prega teorias alternativas. Resultado: depois de apenas um mês de aula no primeiro ano, tem um aluno empolgado, com letra caprichada, que desenvolveu sua própria técnica para treinar antes de responder a tarefa, tamanha a satisfação. Nem parece que ficou meio ano sem estudar. Correção em livro e caderno? Nenhuma, a exemplo do que ocorreu com o irmão mais velho no ano passado. Ah, e o irmão, no segundo ano, ainda pode escrever com letra de forma.


À época do Jardim II, quando questionamos a primeira escola, ouvimos: "AH, MAS O MUNDO DE HOJE É ASSIM." Nossa resposta: "Pois então, fique com ele, não serve para nós. Não há teoria que nos convença de que uma criança tem que viver como um adulto mirim e seja obrigada a antecipar etapas em sua vida."
O tempo mostra.

Justiça com as próprias mãos e barbárie

26 de fevereiro de 2014

É isso que acontece. Imagino o sofrimento desse ator, que por sorte não foi pego por populares justiceiros e correu o risco de perder a vida em nome da 'ordem'.
Dia desses, aqui no DF, um adolescente saiu do vestibular e resolveu aproveitar o carnaval de rua. Foi confundido com um ladrão, e covardemente espancado por aqueles que se julgam superiores, a serviço do bem e da justiça. Aluno aplicado, filho exemplar, foi parar no hospital. Um amigo, que também apanhou, não conseguiu defendê-lo.
Pode até ser bonito e mais prático ver o resultado imediato da justiça com as próprias mãos nos desenhos do Batman, nos filmes de herói e na reportagem da TV, no discurso de uma jornalista que confunde vingança com legítima defesa.
Mas é bom lembrar que, instalada a barbárie, com julgamento sem lei, qualquer um pode ser confundido com um bandido, torturado e morto pelos heróis da comunidade: eu, meus filhos, parentes, amigos, você.

Reportagem: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2014/02/26/interna_brasil,414797/ator-preso-por-engano-no-rio-de-janeiro-deve-ser-solto-nesta-quarta.shtml

Um vídeo emocionante

24 de fevereiro de 2014


Diz o ditado que ninguém cruza seu caminho por acaso.
Há algum tempo, quando tive notícia dos desafios que um amigo de faculdade enfrentava, fiquei muito tocada... Apesar de não sermos tão próximos e não nos vermos há uma década, de certo modo me identifiquei com o que ele estava passando. Nessa época, eu sequer lembrava que tinha tireoide, tudo andava normal por aqui. Trocamos mensagens, e eu venho acompanhando sua luta via facebook.
O tempo passou, as surpresas vieram, e eu recebi de um tio esse depoimento do Celso Fernandes Jr., um oncologista que descobriu ter câncer. Ele é idealizador do Centro de Apoio ao Paciente com Câncer de Londrina. 
O vídeo me tocou bastante e, talvez pela profundidade do assunto e pelas semelhanças com a realidade que me veio, só o compartilhei via mensagem, com quem passava por problemas parecidos.
Hoje de manhã, depois de um domingo difícil, me deu vontade de dividir o vídeo com esse amigo. Mandei a mensagem, segui para o feed de notícias, e logo vi uma postagem dele, sobre a 'bactéria - muitas vezes a única cultura que um indivíduo possui'. E não é que essa piadinha infame salvou meu dia? Por causa dela, tenho dado boas risadas e me sentido menos esquisita ao olhar no espelho.
E agora tenho coragem de compartilhar esse vídeo com vocês. Não é curtinho, mas vale muito a pena assistir.
Rodrigo Martiniano Tardeli, obrigada por alegrar meu dia. Sua garra é um exemplo para os tantos que te admiram.

O depoimento: http://www.youtube.com/watch?v=98tdXEZ510M

Privações

23 de fevereiro de 2014

   Nessa temporada de sucessivas privações, sempre me vem em mente que sou abençoada, porque são temporárias, ao passo que, para muitos, elas são permanentes, sem nada que as alivie. Tanta coisa na cabeça, ideias pra colocar no papel, aos poucos vou escrever sobre as experiências.
   Esses últimos dez dias no hospital, em especial, me marcaram bastante, acho que pela privação da liberdade, do contato com o resto do mundo, da sensação de impotência e de estar, literalmente, nas mãos do outros...
Pensei muito nos pacientes que ficam meses, anos nessa condição... Mas pensei demais, e não paro de pensar, naqueles que ficam reclusos em delegacias, presídios e unidades de internação para menores infratores, em celas superlotadas, na sujeira, impossibilitados de se movimentar ou fazer as necessidades básicas com dignidade, relegados ao ócio, sem a chance de produzir qualquer coisa, de aprender algo que lhes desperte a noção do próprio valor e do valor do próximo, submetidos aos horrores que sabemos acontecer nesses lugares.
   Eu estava muito bem assistida, sozinha num quarto arejado, com TV, telefone, internet, cama, sofá, poltrona, comida farta, podia andar pelos corredores, falar com a equipe de enfermagem, via meu marido diariamente, depois passei a receber visitas... E digo, foi horrível, difícil não surtar, na tentativa de sair de lá com a cabeça pelo menos do mesmo jeito que eu entrei, porque, apesar de todas as comodidades, me sentia presa, algum direito essencial do ser humano me faltava.
   E eu não consigo enxergar como nossa realidade prisional pode, de algum modo, recuperar quem quer que seja e devolver para a sociedade alguém melhor do que entrou. Nosso sistema é indigno, é desumano, é cruel. Pena de morte seria presente e libertação para quem está numa situação dessa. Se algum indivíduo se recupera, deve ser pela própria luz, toque divino, sei lá, algo que o despertou e que o faz nunca mais querer voltar para o inferno.
Nada minimiza a torpeza dos crimes cometidos, a dor irreparável das vítimas e seus familiares, criminosos devem pagar por seus erros e a reclusão é essencial em muitos casos. Mas reclusão para tratar gente como animal, sinceramente, não ajuda ninguém. E quem acha que direitos humanos é frescura ou apenas para pessoas 'de bem', coisa de quem defende bandido, deveria pensar um pouquinho fora da caixa e rever seus conceitos.
   Porque no Brasil não temos pena de morte (que não apoio), tampouco prisão perpétua. Sendo assim, diante da realidade de que, mais dia menos dia, esse ser humano (quer queiram ou não, bandido é gente), vai voltar para a comunidade, atravessar a mesma rua que você, estar no mesmo ambiente que seu filho, talvez se apaixonar por um parente seu, qualquer cidadão 'de bem' deveria, mesmo que apenas pelo instinto egoísta de sobrevivência e preservação da própria família, apoiar e cobrar políticas públicas que garantam o cumprimento dos direitos humanos a todas as pessoas. E isso inclui um sistema prisional que trate com dignidade aqueles que você, assim como eu (confesso que é a primeira sensação em muitos casos, depois repenso), acredita merecerem o velho e irracional 'olho por olho, dente por dente'. 
   Vamos lutar pela civilidade e humanidade, minha gente, a evolução foi lenta para chegarmos onde estamos. Até passarinho em gaiola, bicho em jaula e elefante num circo nos causa piedade, não é? Quem acredita no ser humano e na ressocialização não pode ser contra direitos humanos.

   

Reconhecimento

21 de fevereiro de 2014

         Benditos sejam os profissionais da saúde, em especial aqueles que lidam diretamente com os pacientes e suas famílias, muitas vezes ultrapassando os limites do corpo (quando dormem?), esquecendo as próprias dificuldades e lutando contra descaso, falta de estrutura e precariedades. A todos os seres humanos, dos menos aos mais graduados, que cumprem seu ofício e fazem uma clínica, um posto ou um hospital funcionar, sem os super poderes que tantos erroneamente lhes atribuem e cobram, minha grande admiração.

Pequeno registro

13 de fevereiro de 2014

Home alone - quando um apartamento de 87 m2 vira uma mansão e o silêncio não é ouro.— se sentindo perdida.

Radioactive

11 de fevereiro de 2014

"Se a vida te der um limão, faça uma limonada." 
Bora ficar um pouquinho perigosa, (mais) azeda e enjoada! 
Tempinho de isolamento e cárcere privado, para a segurança dos queridos; mas se algum desafeto quiser tirar onda e fazer graça, pode vir que eu abraço à vontade, hehe!
Pelos próximos nove dias, tamo aí na radioatividade. 


Radioactive (Imagine Dragons):
http://www.youtube.com/watch?v=W6HXRUlTIXI



Escrevo porque preciso

Escrever é uma necessidade...  O pensamento chega, o texto se ajusta de forma meteórica e necessita ser externado. Um process...