quinta-feira, 15 de maio de 2025

Larissa, a bebê reborn - uma história verídica

Em homenagem ao Dia Internacional da Família, uma história verídica com bebê reborn.

***

Era início dos anos 2000, tempo de renovação e expectativas.

Afonso, o primeiro filho a se casar, recebeu a missão de realizar o sonho de seus pais: ter uma neta. Deveria ter a filha que os pais sempre desejaram, mas nunca tiveram.

Afonso e sua esposa planejavam ter filhos; porém, não faziam questão de sexo - meninas e meninos seriam bem-vindos e amados.  

Mesmo discreto, Afonso compartilhou com a família a predileção pelo nome Larissa, e combinou com a esposa que, caso tivessem uma menina, ela assim se chamaria.

Fora isso, Afonso não dava satisfação dos planos do casal para os familiares, tampouco alimentava o sonho de seus pais. Jamais se comprometeu a dar-lhes uma neta.

No entanto, a mãe de Afonso tinha pressa. Queria ser avó, mas vovó de uma menina. Perguntava, cobrava, azucrinava:

- Quando vai chegar minha netinha?

O casal desconversava, mas a pessoa era insistente. A todo instante, voltava com a cobrança inconveniente. Tinha pressa. Não respeitava o tempo dos outros. Queria sua neta.

Certo dia, Afonso recebeu um e-mail da genitora, que assim dizia:

“Já que você não me dá uma neta, eu providenciei a minha Larissa!” 

Abaixo da mensagem, a foto de uma bebê reborn. Larissa era uma boneca reborn toddler!

Larissa, a potencial filha de Afonso, nascera. Não chegou na família pelos meios tradicionais. Chegou chegando, surpreendendo Afonso e sua esposa, que até hoje não sabe se foi mãe ou madrasta.

Que fique claro - Larissa foi, sim, muito desejada. Ela foi planejada nos mínimos detalhes pela vovó, que encomendou a boneca caríssima com as características físicas que sonhava para a neta.

Jamais digam que Larissa foi obra do acaso!

Diante da inesperada chegada do novo membro da família, Afonso e sua esposa  determinaram que, se viessem a ter uma filha, eles jamais a chamariam de Larissa.

Um belo dia, Afonso foi visitar a mãe. 

- Afonso, meu querido! Venha conhecer a Larissa! 

E lá estava a boneca, sentada, quietinha, no antigo quarto de Afonso.

- Não é a sua cara, meu amor? Puxou à vovó! Vamos, segura a Larissa…

E assim Afonso conheceu a tão sonhada neta de sua mãe. Não se sentia pai. Recusou-se a pegar Larissa no colo, apesar do incentivo da vovó.

Voltou para casa e deixou Larissa com a avó amorosa.

Nas férias de final de ano, Afonso se encontrou com Larissa novamente. Dessa vez, acompanhado da esposa, que não foi formalmente apresentada à boneca.

Todos prontos para o jantar. Quem aparece? Larissa, nos braços da vovó!

Claro que a netinha acompanharia o momento especial!

No restaurante, vovó providenciou a cadeirinha infantil para Larissa. 

- Um copo de suco de laranja, por favor. É para minha netinha.

O garçom, profissional, seguiu as orientações e colocou a bebida em frente à boneca. 

Vovó, feliz, aproveitou a noite com a família reunida.

Dias depois, num encontro com amigos, Afonso comentou o episódio do restaurante.

Matias, atônito, questionou a senhora:

- Mas pra que isso? Você já não tem um cachorro?

Ao que a mãe de Afonso respondeu, firme e segura de si:

- Claro que tenho! Mas o Doguíneo é meu filho. A Larissa é minha neta!!!

Os anos se passaram, Afonso teve filhos e, apesar dos incansáveis pedidos, ficou devendo a menina para sua mãe.

De netinha na família, por enquanto, segue reinando Larissa, a bebê reborn.

*Estrelando: Dona Zelda, uma mulher à frente do seu tempo. A precursora das mães de pet e das avós de bebê reborn.



segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Crônica de Dia dos Pais

Crônica de Dia dos Pais

 

Franca/SP, 10/08/2019

O quarteto está animado para o evento de Dia dos Pais da escolinha de basquete.

Na saída, a mãe, que está de repouso devido a uma cirurgia recente, fala o costumeiro “Juízo”, ao que o pai responde: “Hoje nós vamos detonar!”

*****

Como o plano é o quarteto almoçar após sair da escola, a mãe não estranha a demora. Continua com seu repouso no sofá.

De repente, o telefone toca. É a sogra do sujeito, que diz:

— Filha, fica calma. Os meninos estão aqui comigo porque o Luiz precisou ir para o hospital.

— Mãe, a senhora só pode estar brincando comigo.

 Não, filha. O pai de um amiguinho deixou os meninos aqui. Eu estranhei um carro preto parar na porta, mas vi as crianças e pensei que fosse algum parente. Fique tranquila, sua irmã e o namorado estão indo para o hospital.

*****

O trio desce do carro em frente à casa da avó, que sai na garagem.

— Boa tarde, senhora. Eu vim trazer os meninos, porque o pai deles caiu e bateu a cabeça enquanto jogava basquete.

A avó, confusa, é categórica:

— Não, não pode ser! O pai deles, não! De jeito nenhum! Ele não pode jogar basquete!

As crianças, ainda assustadas, entram na sala para assistir TV.

O bom homem narra o ocorrido para a mulher, ainda atônita com o fato de o genro estar jogando basquete.

— Esse é meu telefone. Por favor, ligue para dar notícias. Estou preocupado, o tombo foi muito feio!

*****

A esposa consegue falar com o acidentado, que está esperando para ser examinado no hospital. Tudo o que ela ouve ao telefone é:

— Você não vai acreditar, eu saí invicto!

E fica por entender.

*****

Toca a campainha. O porteiro avisa:

— São os professores da escolinha de basquete, que vieram trazer o carro do seu esposo.

A mulher chega na garagem e avista os professores. O que está no veículo do acidentado, com o suor escorrendo na testa, explica que nunca havia dirigido um carro de câmbio automático. Mesmo assim, decidiu ajudar, para não deixar o carro lá parado.

Só que ele não sabe como estacionar em segurança. A mulher muito menos e, mesmo que soubesse, não poderia, por causa da cirurgia.

A solução é deixar o carro num local de estacionamento proibido do condomínio, mas que é mais seguro, e avisar o porteiro.

*****

Horas depois, o dito cujo chega do hospital com a cunhada e o namorado, todo sorridente. Entrega um envelope para a esposa e diz que está de alta, tudo certo, só tem que observar.

No envelope, uma receita médica e recomendações de observação do paciente para os próximos dias. Em caso de persistirem os sintomas, procurar atendimento. A esposa lê a lista e assinala mentalmente quase todas as opções, dentre elas: dificuldade de memória e de comunicação, confusão mental, falta de concentração, dor de cabeça, sonolência.

— Bom, não tenho muito o que fazer, já que seu normal é de uma pessoa que bateu a cabeça. O jeito é tomar o remédio e seguir o baile.

E o sujeito? Todo orgulhoso e contente!

— Você precisava ver! Eu não perdi nenhuma, só tive que sair porque caí. Já estava na terceira partida!

*****

Enfim, os três meninos chegam em casa e contam a saga.

O evento consistia em: primeiro, alongamento e relaxamento com filhos e pais; segundo, disputa de basquete entre os pais; por último, jogo de basquete com pais e filhos.

Eles fizeram o relaxamento e assistiam à competição dos pais, enquanto esperavam sua vez de jogar também. Era a grande expectativa do dia!

Foi quando ouviram um barulho e viram o pai lá no chão, caído de costas, sendo socorrido.

Os profissionais da escola, preocupados, chamaram a ambulância. Enquanto esperavam, combinaram quem levaria os meninos embora e quem acompanharia o acidentado até o hospital.

As crianças avistaram a ambulância e acompanharam o pai ser colocado na maca, com colar cervical.

Conversando baixo com o mais velho, a voz arrastada, o acidentado avisou que o pai do coleguinha os deixaria na casa dos avós.

Foi então que alguém  da escola perguntou se ele queria que ligasse para a esposa. Milagrosamente, a voz se recuperou e o acidentado clamou com toda a energia:

— Pelo amor de Deus, pra minha esposa não! Pra minha esposa não, ela acabou de fazer uma cirurgia. Liga pra minha sogra!!!

E assim foi, de ambulância e fazendo baldeação em dois hospitais, o teimoso que se aventurou no basquete calçando tênis com o solado liso de tão gasto, por mais de uma partida, sabendo que tem problema na coluna e não pode jogar como se fosse um meninão.

História revelada, os meninos disseram o quanto ficaram assustados e preocupados com o pai.

O pai?  Feliz da vida porque não perdeu nenhuma partida e só saiu por um detalhe!

*****

Brasília/DF, 11/08/2024

Dia dos Pais. Enquanto toma o café da manhã, a esposa  ouve o marido, todo feliz:

—  Hoje faz exatamente 5 anos que eu saí invicto de uma disputa de basquete!!! Está nas lembranças do OneDrive!

 

Cristiane A. Ávila

11/08/2019

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sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

10 anos

14/12/2023 - Dia de celebrar com um misto de sentimentos… Uma comemoração agridoce, eu diria.

Em 14/12/2013, eu passava pela tireoidectomia total. Era um câncer de tireoide assintomático. Apesar da malignidade do tumor, a glândula funcionava perfeitamente e eu não sentia absolutamente nada; estava a todo vapor, cuidando sozinha da casa e dos meninos com 7, 5 e 3 anos.

Como acompanhei meu pai sem tireoide a vida inteira, e ele sempre foi muito ativo - de diferente, só tomava o hormônio pela manhã -, me preparei para a cirurgia na mais pura ilusão, acreditando na propaganda da maioria dos profissionais da saúde de que “é só tomar um remedinho e vida normal”.

Fazia pouco tempo que eu tinha voltado ao peso de antes da primeira gestação. Pensei que nada na minha rotina mudaria, decidi que seria mais feminina e usaria vestidos, então comprei alguns. Mas eu, definitivamente, não nasci pra isso. Em 40 dias, engordei 9 quilos. E daí não parou mais… Os vestidos, nunca usei. Foram doados novíssimos, eis que jamais me serviram. 

Resumindo, aquele meu corpo cheio de energia, que não parava nunca e dava conta de tudo e mais um pouco, sucumbiu à ausência da tireoide.

Embora eu tenha passado os dois primeiros meses bem, a retirada do hormônio para a preparação para tomar o iodo radioativo me derrubou. Literalmente. Andar do quarto até a cozinha para beber água, num apartamento de 87 metros quadrados, deixava-me tão cansada que parecia que eu havia escalado o Everest. 

Chorei quando tive que colocar o caçula na escola porque eu não conseguia cuidar dele o dia todo, simplesmente não tinha de onde tirar forças.

Tomei o iodo radioativo, e foi aí que o negócio degringolou de vez. Durante o isolamento em casa por causa da radioatividade, a cicatriz abriu. Coisa de cinema. Eu chegava parecendo uma fugitiva no consultório, cuidando pra não contaminar ninguém com a radiação. Saí de casa para o laboratório a pé, de luva e sombrinha, preocupada em não encontrar ninguém no caminho, não contaminar o  corrimão que os vizinhos tocariam e, principalmente, em proteger quem coletaria meu sangue. 

Parênteses para dizer que quando liguei pra avisar o marido que a cicatriz tinha aberto, recebi a notícia de que o caçula havia acabado de cortar a cabeça num aparelho de academia em frente à pousada onde eles estavam hospedados. O pequeno estava no hospital para tomar pontos e nem chorou.

Diagnóstico de infecção por staphylococcus aureus. Internação às pressas. A saga de chegar à emergência do hospital avisando que estava radioativa, ficar isolada no quarto por 5 dias, e nos outros 3 dias ter a companhia do marido à tarde e receber as visitas dos meninos. Eles saíam da escola, jantavam no Giraffa’s ao lado do hospital e ficavam um pouco comigo. A diversão era comer a sobremesa que a enfermeira levava especialmente para eles.

Tive alta, mas não podia mexer o pescoço. Precisei contratar alguém pra cuidar do caçula pela manhã. Deveria ser grata por encontrar ajuda, mas não tinha coisa pior do que estar em casa vendo alguém auxiliar meu filho no que eu costumava fazer com tanto esmero. A criança precisava de mim e eu estava lá, mas não podia fazer nada; era presente, porém ausente. Cuidar dos meninos era a minha vida, e de repente eu não conseguia mais. 

Depois de uma semana em casa, outra cirurgia para retirar o que ficou da infecção. Deu tudo certo.

No entanto… Cadê aquele corpo ativo? E a energia, onde pegar? O que fazer com a rotina de mãe e dona de casa que eu tinha que retomar?  Fadiga. Eu não dava conta. Na verdade, nem sei se atualmente dou conta. Só sei que vai indo. 

Desde então, a cena que enxergo diariamente é: a vida que eu tenho que viver está lá na frente, desembestada, e eu correndo atrás, tentando alcançá-la. O jeito é me virar com o que dá. É o meu lema do “um período do dia de cada vez”.

Muitos são os agraciados, mas eu não tive a sorte de um organismo que absorve bem o hormônio. Há tempos tranquilos e outros nem tanto. Engraçado que a memória mais forte no mais velho é o quanto eu passei mal por um longo período, além do frequente destempero emocional, é claro. Tão pequenos e tiveram que lidar com isso.

Além disso, a cada desajuste hormonal, vem a luta para emagrecer. Foram 6 anos até ter sucesso com uma dieta e perder bastante peso. Logo após, vi o corpo reagir ao TSH nas alturas, nos primeiros meses da pandemia. Hipotireoidismo severo também no início deste ano, quando tive Covid pela segunda vez, meses depois do segundo êxito em perder uns bons quilos. Enfim, o efeito sanfona é uma constante e acabo de iniciar a tentativa número 3 de afinar mais de 25kg e manter o peso. Acho que já posso pedir música no Fantástico.

Nesses 10 anos, eu vivi o luto de mim mesma. Não foi fácil entender que subi em uma maca por causa de uns resultados de exames, quando não tinha nenhuma queixa de saúde, nenhuma dor, e saí dela pior do que cheguei, sem a menor chance de recuperar o meu estado anterior. Apesar dessa dificuldade, aceitei que a vida não seria mais a mesma e encarei o desafio, sem querer saber o porquê de ele ter chegado para mim. Essa curiosidade e os palpites ficaram por conta das línguas que não estavam na minha pele. Minha missão era passar pelo tratamento e enfrentar os obstáculos que viessem.

A vida mudou e a Cris de 13/12/2013 não existe mais. Meu filho caçula nem se lembra de como eu era, e os mais velhos têm uma vaga lembrança daquela pessoa que um dia fui. Às vezes o coração aperta quando penso nisso, não nego.

Nesses 10 anos, também fui muito abençoada. Tomei posse em um cargo público (fui por incentivo do marido, insisti de teimosa e continuo lá); descobri as vantagens de grupos no Facebook e WhatsApp (por vezes passei raiva); aprendi com as companheiras de cicatriz no pescoço a estudar sobre a tireoide e ser minha própria advogada; evoluí com os médicos que não me compreenderam e encontrei profissionais atenciosos, que fizeram a diferença; enxerguei que devo sempre respeitar os limites do meu corpo; passei por uma mudança de cidade enriquecedora e desafiadora; descobri o sentido de agradecer pelas pequenas coisas, como o simples abrir os olhos pela manhã e conseguir fazer uma pequena faxina ou arrumação em somente um cômodo da casa.

De todas as bênçãos, a maior e mais importante é a oportunidade de ver meus filhos crescerem. Coisas maravilhosas acontecem, mas nada se iguala e nada tira minha alegria em ter esse privilégio. Eu vivo para isso e agradeço cada minuto que tenho com eles. 

Nesse décimo ano, decidi relaxar um pouco e aproveitar todas as oportunidades que aparecessem. Fiz tudo o que eu quis e o corpo aguentou. Aproveitei que os meninos estão grandes e viajei sozinha. Foram algumas idas para Franca, sendo três bate e volta para casamentos especiais, e estou me preparando para a última temporada francana do ano. Participei de uma viagem em grupo para Portugal, experiência maravilhosa que quero repetir. Fiquei todos os dias na ranchada da família, evento precioso. Fui a shows. Trabalhei como voluntária no Pop Rua Jud. Permiti-me deixar de lado algumas preocupações e tentei levar as outras de forma mais leve.

Na última consulta, com os resultados de exames excelentes, o endocrinologista disse que, fechado o ciclo de 10 anos, o câncer de tireoide é coisa do passado. Assim seja.

Em uma análise sucinta, é tempo de comemorar ter descoberto o câncer na fase inicial e o sucesso do tratamento, ao passo que é complicado celebrar a perda de uma glândula essencial para o meu bem-estar, porque ela realmente faz falta. Contraditório, eu sei. 

É verdade que tudo passa, mas as histórias e, principalmente, as transformações que os desafios trazem, ficam. Por tudo isso, sou grata.

Cristiane A. Ávila 

14/12/2023

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quarta-feira, 22 de março de 2023

Realidade inventada

As pessoas ficam surpresas quando questionamos uma realidade inventada.

Para facilitar sua vida, muitos criam regras inexistentes e repetem inverdades por anos, dificilmente rebatidas. Perpetuam resoluções de problemas equivocadamente, como se não houvesse outra opção. Inventam situações postas, induzindo muitos a erro.

Quantos são prejudicados e limitados em seus direitos, simplesmente porque confiam na posição da autoridade de quem repete só o que convém!

Por isso, pensamos por nós mesmos. Por isso, duvidamos. Por isso, investigamos. Por isso, reclamamos.

Aquele que lê o mundo pelos olhos do outro, que interpreta pela leitura do outro, na inocência, invariavelmente será lesado. No mínimo, estará limitado pela crença de que é incapaz de chegar às próprias conclusões.

Uma simples pergunta é capaz de desmontar estruturas e fazer mudar procedimentos arraigados. Nunca tenha receio de questionar.

Visões distintas podem trazer desconforto no início, mas certamente colaboram para a evolução. 

Você testemunha muitos esbravejamentos meus. E vários ainda virão. Brigarei sempre, enquanto tiver forças. 

Embora saiba muitas vezes que nossa situação é irremediável, continuarei lutando. Tenho a consciência de que, rebatendo, ajudo os próximos a serem enxergados de outra maneira. 

Inconformada e chata por natureza,  inimiga do silêncio diante da injustiça e da inverdade.

Crianças merecem respeito. Alunos merecem respeito. Subordinados merecem respeito. Pacientes merecem respeito. Todos merecemos.

Autoridades equivocadas e ideias tortas precisam ser questionadas. 

Não se cale. 

Da série: Para os meus filhos

22/03/2019

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Dicas (sobre 08/01/2023)

"A mamãe está alterada." (na estrada, enquanto eu tentava pegar as informações que a internet permitia)

"Mamãe revolts." (na sala, após um longo discurso sobre a importância de se preservar o patrimônio público)

"Nossa, mãe, parece que você previu o que aconteceu ontem, se encaixa perfeitamente." (ao ler meus dois textos de indignação, inspirados no vandalismo de maio/2017)

"Nunca vi minha mãe tão brava." (no restaurante, complementando a fala do pai sobre minha revolta)

Ciente de que minha missão é preparar cidadãos conscientes para a sociedade, deixo aqui registrado um breve resumo do que foi dito por mim sobre o episódio. Sei que a memória pode escapar, meu filho, então ficam as dicas:

1) Respeite o que pertence a todos. Destruição de patrimônio público só prejudica o povo. Não seja ingênuo, acreditando que revolução é fazer birra e partir para a quebradeira.

2) Independentemente de sua ideologia política, não se afilie a qualquer bando de lunáticos, vândalos, criminosos, arruaceiros, golpistas, inimigos da democracia ou prevaricadores. 

3) Jamais apoie ou aplauda movimentos antidemocráticos.

4) Evite tratar como especialista qualquer maluco com uma câmera na mão. Você é capaz de pensar por si e não precisa se guiar por fake news de blogs duvidosos ou notícias enviadas em prints de araque. 

5) Lembre-se que uma 'pessoa de bem' nunca iguala, quiçá ultrapassa, os abusos e ilegalidades que tanto critica nos outros. Não é porque o time rival matou trinta pessoas, que você se torna menos assassino ao matar ‘apenas’ duas.

6) Condene qualquer ato de vandalismo e depredação do patrimônio público. Isso supera qualquer discussão entre direita, centro e esquerda.

7) Vote em quem quiser. Porém, não crie um personagem ou passe vergonha com torcida organizada para justificar seu voto.

8) Não tenha político ou partido de estimação, tampouco idolatre mitos e mártires de conveniência.

9) Seja contra qualquer ditadura, de esquerda ou de direita; aprenda com a História e não peça pelo retorno dessa abominação.

10) Saiba que ninguém é obrigado a segui-lo se sua opinião desagrada. Do mesmo modo, você pode ter seu limite de tolerância para ouvir/ler bestialidades.

11) Qualquer que seja sua crença, não use o nome de Deus em vão, incitando a barbárie.

12) Jamais refugue a democracia e queira que sua pátria se curve diante de seus caprichos ou das maluquices da sua turma.

13) Sabendo que a família é a menor célula da sociedade, aprenda o que é coletividade e coloque em prática o respeito ao patrimônio público.

14) Liberdade e responsabilidade andam juntas. Seu direito termina onde começa o direito do outro. Você não é livre para fazer o que bem entende e arcará com as consequências dos próprios atos. 

15) Orgulhe-se de sua terra e honre seu país, lembrando que um verdadeiro patriota preserva, jamais destrói qualquer bem público, seja ele uma placa de trânsito ou uma vidraça de palácio. 

Possivelmente você, que já ouviu essa ladainha antes, reportará o surto materno com risadas no futuro. 

Se assim for, sorriremos juntos, rememorando a minha indignação perante o lamentável episódio do dia 08/01/2023.

Realista que sou, sei que não é impossível que você perca o juízo e se transforme em membro de seita lunático e desinformado, ignorando todas as orientações recebidas de seus pais. 

Se assim for, lamentarei muito e torcerei para que sua mente se abra, com a consciência tranquila de que tal insensatez não foi sua mãe quem ensinou.

Por fim, e não menos importante, grave essa dica: 

16) Por mais que você esteja certo do propósito, nunca, em hipótese alguma, aja como um tolo extremista. Tenha discernimento e não tente justificar o vandalismo. Evite passar vergonha.

Da série "Para os meus filhos"

11/01/2023

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terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Textão de indignação

Textão de indignação

Situação hipotética, muito difícil de ocorrer nesse Brasil: descobrem que o prefeito de sua cidade, mancomunado com vereadores, promotores, juízes, está cometendo atos ilícitos, que ensejam pedidos de impeachment, renúncia, investigação, prisão. Mas os camaradas são caras de pau, não largam o osso na política municipal (hipótese absurda, hein gente!).
Organiza-se uma manifestação pacífica, por pessoas que só pra garantir carregam pedra, foice, rojão, bomba. Vai que, né gente. Mas isso não ocorre fora do Planalto Central, que imaginação fértil a minha.

Eu gostaria de saber se os defensores dos "manifestantes" apoiariam e justificariam a tentativa de invadir a prefeitura, a depredação da câmara de vereadores, a jogada de bomba no prédio de uma secretaria qualquer, com os trabalhadores dentro.
Seria interessante ver a reação dos munícipes ao descobrir que aquele é o prédio onde trabalham seus parentes, seus vizinhos, aquela antiga ajudante querida que agora é terceirizada da limpeza.

Coçaria pra testemunhar os defensores da baderna recebendo no whatsapp mensagem do (a) namorado (a), avisando que teve que sair de um desses lugares escoltado pela garagem, sem crachá, porque bombas foram jogadas no térreo. E ele (a) ainda tem que pegar o carro no estacionamento, passar pela fileira de defensores da paz que usam coquetel molotov. Não foi de ônibus como de costume porque a via principal, de seis pistas, estava interditada para o exercício do direito à livre manifestação desde a meia-noite. Mas isso também é privilégio de cidade que concentra bandido, na terra dos defensores de bandeira tá tudo legal, ninguém vê seu local de trabalho pegando fogo colocado por gente do bem.

Eu queria, só queria, ver o pessoal que se abate com remoção de invasão, com ataque terrorista no exterior, com demolição de casa com dependentes químicos dentro, com incêndio criminoso na casa do vizinho, com violência a condenado na cadeia, descobrir que Brasília não é feita só dos prédios bonitos do Niemeyer. Gostaria que percebessem que Brasília não é habitada apenas pelos políticos que os votos de todos os brasileiros mandam pra cá. Que essa terra é feita de gente. De gente que pega ônibus lotado às cinco da madrugada para limpar e vigiar os prédios públicos, pra fazer faculdade com bolsa e estagiar no serviço público, conciliando com outro emprego para alimentar os filhos, mirando um futuro melhor. De gente que estudou com muita luta, enquanto outros curtiam a balada e brincavam, passou num concurso sem cartas marcadas e largou sua cidade em busca de trabalho. De gente que vem para ser auxiliar de qualquer coisa e só consegue visitar a família a cada dois anos, porque a passagem é cara e a viagem longa. De moradores dos arredores do maior lixão a céu aberto e da maior favela horizontal da América Latina, que têm na terceirização do serviço público a pequena fonte de renda da família.

Eu queria, só queria, que os cientistas políticos de botequim e leitores de blogs de intelectuais e humoristas recebedores de mesada de partido, que arrotam posts agressivos contra Brasília, pegassem o ônibus, o carro ou o avião, e passassem alguns dias aqui. Que deixassem de pensar que essa cidade é só um quadradinho no mapa ou a Esplanada que aparece no Jornal Nacional (e no Jornal do SBT, pra quem boicota a emissora golpista).
Eu queria que conhecessem os candangos, os brasilienses, os moradores do entorno, as pessoas de diferentes sotaques e culturas que se identificam e se tornam vizinhos/colegas de trabalho irmãos, numa cidade que muitos chamam de fria.

Eu queria que estudassem a história dessa região que foi e continua sendo a promessa de uma vida melhor pra tanta gente, e a vissem como um aglomerado de pessoas boas, como enxergam seus conterrâneos e prezam pela sua cidade.

Na minha cidade, tive a oportunidade de trabalhar em agência bancária invadida por baderneiros ignorantes e destruidores, que não enxergavam que nós, atendentes que eles agrediam, éramos tão trabalhadores como eles. Doeu ver o que destruíram. Eu devo ter sonhado, porque essas coisas não acontecem fora do quadradinho planejado, é difícil pros outros imaginarem.

Mas... é Brasília, né. Aqui, o livre direito à manifestação pode colocar os outros em risco, pode impedir o exercício do direito de ir e vir, pode virar violência que inspira quadrinhos e memes pro resto do país se divertir, e textões criticando manchetes que usam vândalos em vez de manifestantes.

Cansada disso tudo, e eu também gostaria que nosso governante fosse outro. Há limites em qualquer lugar, sempre.

25 de maio de 2017












Protesto

Sai da frente da telinha e vem pra Brasília, vem!
É fácil achar bonita a depredação de prédio público, quando não é seu local de trabalho. É simples chamar de manifestante quem vem pronto pra tacar pedra e botar fogo, quando você não corre o risco de ter seu carro atacado, nem fica preocupado se vai conseguir buscar os filhos na escola.
Da próxima, aluga um busão e vem com a galera, sai do conforto do clique.
Vem pra Brasília tacar bomba no Congresso e nos Ministérios, sabendo que lá tem muito trabalhador honesto, servidor ou contratado que viaja três horas por dia para ganhar o pão.
VEM PRA BRASÍLIA, VEM!

24 de maio de 2017





Escrevo porque preciso

Escrever é uma necessidade...  O pensamento chega, o texto se ajusta de forma meteórica e necessita ser externado. Um process...