segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Crônica de Dia dos Pais

Crônica de Dia dos Pais

 

Franca/SP, 10/08/2019

O quarteto está animado para o evento de Dia dos Pais da escolinha de basquete.

Na saída, a mãe, que está de repouso devido a uma cirurgia recente, fala o costumeiro “Juízo”, ao que o pai responde: “Hoje nós vamos detonar!”

*****

Como o plano é o quarteto almoçar após sair da escola, a mãe não estranha a demora. Continua com seu repouso no sofá.

De repente, o telefone toca. É a sogra do sujeito, que diz:

— Filha, fica calma. Os meninos estão aqui comigo porque o Luiz precisou ir para o hospital.

— Mãe, a senhora só pode estar brincando comigo.

 Não, filha. O pai de um amiguinho deixou os meninos aqui. Eu estranhei um carro preto parar na porta, mas vi as crianças e pensei que fosse algum parente. Fique tranquila, sua irmã e o namorado estão indo para o hospital.

*****

O trio desce do carro em frente à casa da avó, que sai na garagem.

— Boa tarde, senhora. Eu vim trazer os meninos, porque o pai deles caiu e bateu a cabeça enquanto jogava basquete.

A avó, confusa, é categórica:

— Não, não pode ser! O pai deles, não! De jeito nenhum! Ele não pode jogar basquete!

As crianças, ainda assustadas, entram na sala para assistir TV.

O bom homem narra o ocorrido para a mulher, ainda atônita com o fato de o genro estar jogando basquete.

— Esse é meu telefone. Por favor, ligue para dar notícias. Estou preocupado, o tombo foi muito feio!

*****

A esposa consegue falar com o acidentado, que está esperando para ser examinado no hospital. Tudo o que ela ouve ao telefone é:

— Você não vai acreditar, eu saí invicto!

E fica por entender.

*****

Toca a campainha. O porteiro avisa:

— São os professores da escolinha de basquete, que vieram trazer o carro do seu esposo.

A mulher chega na garagem e avista os professores. O que está no veículo do acidentado, com o suor escorrendo na testa, explica que nunca havia dirigido um carro de câmbio automático. Mesmo assim, decidiu ajudar, para não deixar o carro lá parado.

Só que ele não sabe como estacionar em segurança. A mulher muito menos e, mesmo que soubesse, não poderia, por causa da cirurgia.

A solução é deixar o carro num local de estacionamento proibido do condomínio, mas que é mais seguro, e avisar o porteiro.

*****

Horas depois, o dito cujo chega do hospital com a cunhada e o namorado, todo sorridente. Entrega um envelope para a esposa e diz que está de alta, tudo certo, só tem que observar.

No envelope, uma receita médica e recomendações de observação do paciente para os próximos dias. Em caso de persistirem os sintomas, procurar atendimento. A esposa lê a lista e assinala mentalmente quase todas as opções, dentre elas: dificuldade de memória e de comunicação, confusão mental, falta de concentração, dor de cabeça, sonolência.

— Bom, não tenho muito o que fazer, já que seu normal é de uma pessoa que bateu a cabeça. O jeito é tomar o remédio e seguir o baile.

E o sujeito? Todo orgulhoso e contente!

— Você precisava ver! Eu não perdi nenhuma, só tive que sair porque caí. Já estava na terceira partida!

*****

Enfim, os três meninos chegam em casa e contam a saga.

O evento consistia em: primeiro, alongamento e relaxamento com filhos e pais; segundo, disputa de basquete entre os pais; por último, jogo de basquete com pais e filhos.

Eles fizeram o relaxamento e assistiam à competição dos pais, enquanto esperavam sua vez de jogar também. Era a grande expectativa do dia!

Foi quando ouviram um barulho e viram o pai lá no chão, caído de costas, sendo socorrido.

Os profissionais da escola, preocupados, chamaram a ambulância. Enquanto esperavam, combinaram quem levaria os meninos embora e quem acompanharia o acidentado até o hospital.

As crianças avistaram a ambulância e acompanharam o pai ser colocado na maca, com colar cervical.

Conversando baixo com o mais velho, a voz arrastada, o acidentado avisou que o pai do coleguinha os deixaria na casa dos avós.

Foi então que alguém  da escola perguntou se ele queria que ligasse para a esposa. Milagrosamente, a voz se recuperou e o acidentado clamou com toda a energia:

— Pelo amor de Deus, pra minha esposa não! Pra minha esposa não, ela acabou de fazer uma cirurgia. Liga pra minha sogra!!!

E assim foi, de ambulância e fazendo baldeação em dois hospitais, o teimoso que se aventurou no basquete calçando tênis com o solado liso de tão gasto, por mais de uma partida, sabendo que tem problema na coluna e não pode jogar como se fosse um meninão.

História revelada, os meninos disseram o quanto ficaram assustados e preocupados com o pai.

O pai?  Feliz da vida porque não perdeu nenhuma partida e só saiu por um detalhe!

*****

Brasília/DF, 11/08/2024

Dia dos Pais. Enquanto toma o café da manhã, a esposa  ouve o marido, todo feliz:

—  Hoje faz exatamente 5 anos que eu saí invicto de uma disputa de basquete!!! Está nas lembranças do OneDrive!

 

Cristiane A. Ávila

11/08/2019

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