Eis que se aproxima o primeiro dia do
caçulinha na escola, e termina a fase mais importante da minha vida. Como uma
mãe perdida, totalmente pega de surpresa pelas peças que o destino prega, faço
aqui um desabafo.
Em tempos de feminismo extremado e materialismo exagerado, o fato de uma
mulher deixar um bom emprego para se dedicar integralmente aos cuidados com os
filhos é praticamente visto como um sacrilégio. Leio tanta baboseira e ouço
cada pérola... dentre elas, as marcantes: 'Você ainda vai se arrepender
disso!', 'Unespiana? Ah, que desperdício!', 'Tanta gente se matando para passar
num concurso, e você faz essa loucura?!'
Eu penso diferente - a boa colocação que para os muitos é vista como um fim, para mim foi só um meio. Anos de dedicação aos estudos e ao inglês me levaram ao magistério e também à Unesp, que colaborou para que eu chegasse ao serviço público. Isso, aliado a muito planejamento e priorizações, possibilitou a concretização de um propósito que eu nutria desde adolescente: o de dar uma pausa, caso tivesse filhos, para cuidar deles até que chegassem na idade em que já conseguissem se expressar adequadamente e estivessem preparados para entrar na escola; queria passar para eles o que eu tive: uma mãe presente o tempo todo. Ou seja, foi por causa de tudo o que eu já havia conquistado quando entrei no mundo da maternidade, que eu tive a oportunidade de escolher.
Eu penso diferente - a boa colocação que para os muitos é vista como um fim, para mim foi só um meio. Anos de dedicação aos estudos e ao inglês me levaram ao magistério e também à Unesp, que colaborou para que eu chegasse ao serviço público. Isso, aliado a muito planejamento e priorizações, possibilitou a concretização de um propósito que eu nutria desde adolescente: o de dar uma pausa, caso tivesse filhos, para cuidar deles até que chegassem na idade em que já conseguissem se expressar adequadamente e estivessem preparados para entrar na escola; queria passar para eles o que eu tive: uma mãe presente o tempo todo. Ou seja, foi por causa de tudo o que eu já havia conquistado quando entrei no mundo da maternidade, que eu tive a oportunidade de escolher.
E eu
optei (esbravejem os teóricos ou esperneiem os questionadores de plantão contra
essa definição) por ser mãe em tempo integral - aquela que fica à disposição de
suas crianças 24 horas por dia, atendendo a todos os seus chamados (que ocorrem
a cada meio minuto), sem qualquer substituto ou intermediário nesse encargo.
Encargo quase enlouquecedor, sejamos francos, mas extremamente gratificante e
maravilhosamente recompensado, que não fez de mim uma mãe isenta de falhas e
culpas, melhor ou pior que qualquer outra. Esse é tão somente um compromisso
que eu assumi comigo mesma, uma parte da minha trajetória, e é apenas sobre ela
que posso falar.
A
propósito, o melhor que a Unesp me trouxe foi o amor da minha vida, que nunca
interferiu ou questionou, e sempre respeitou minha decisão, reconhecendo o
valor do meu trabalho doméstico.
Na verdade, essa fase acabou um pouco
antes do que eu havia imaginado... vai ver que é a intervenção divina,
atropelando todos os meus planos e dando um empurrão para que eu libere o
'menino grande' de três anos, que veste roupas e tem atitudes de um moleque de
seis, e enfim tenha um tempo para cuidar de mim. Como eu nasci com pouca
vaidade e sonhos minguados, é óbvio que esses cuidados imediatos e inadiáveis
não serão realizados no salão de cabeleireiro, na manicure ou na academia, e os
longos nove dias que passarei distante dos meus pequenos em nada se parecerão
com férias relaxantes num spa ou resort. Entretanto, arrisco dizer, será um
período intenso de renovação e revigoramento, que me preparará para investir na
segunda parte daquele meu projeto, que é voltar para o mercado de trabalho no
período em que os meninos ficam na escola.
Assim como eu previa, depois desses sete
anos e cinco meses ininterruptos por conta da cria, os concursos, a advocacia,
as escolas de inglês e as vagas na iniciativa privada continuam aí,
disponíveis. Alguém me substitui e exerce seu papel no cargo que eu abandonei,
e é claro que eu não devo ter feito muita falta. Mas os primeiros anos dos meus
filhos, aqueles em que somente eu poderia ter agido como a mãe deles faria,
passaram voando e não voltam nunca mais. E qualquer insensatez, submissão,
machismo ou um mínimo arrependimento, continua somente na cabeça dos outros.
Enfim, primeira etapa da missão cumprida... E que venham
os novos desafios.
(25 de janeiro de 2014)
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