domingo, 26 de janeiro de 2014

Primeira etapa da missão: cumprida

         Eis que se aproxima o primeiro dia do caçulinha na escola, e termina a fase mais importante da minha vida. Como uma mãe perdida, totalmente pega de surpresa pelas peças que o destino prega, faço aqui um desabafo.
Em tempos de feminismo extremado e materialismo exagerado, o fato de uma mulher deixar um bom emprego para se dedicar integralmente aos cuidados com os filhos é praticamente visto como um sacrilégio. Leio tanta baboseira e ouço cada pérola... dentre elas, as marcantes: 'Você ainda vai se arrepender disso!', 'Unespiana? Ah, que desperdício!', 'Tanta gente se matando para passar num concurso, e você faz essa loucura?!'
           Eu penso diferente - a boa colocação que para os muitos é vista como um fim, para mim foi só um meio. Anos de dedicação aos estudos e ao inglês me levaram ao magistério e também à Unesp, que colaborou para que eu chegasse ao serviço público. Isso, aliado a muito planejamento e priorizações, possibilitou a concretização de um propósito que eu nutria desde adolescente: o de dar uma pausa, caso tivesse filhos, para cuidar deles até que chegassem na idade em que já conseguissem se expressar adequadamente e estivessem preparados para entrar na escola; queria passar para eles o que eu tive: uma mãe presente o tempo todo. Ou seja, foi por causa de tudo o que eu já havia conquistado quando entrei no mundo da maternidade, que eu tive a oportunidade de escolher.
E eu optei (esbravejem os teóricos ou esperneiem os questionadores de plantão contra essa definição) por ser mãe em tempo integral - aquela que fica à disposição de suas crianças 24 horas por dia, atendendo a todos os seus chamados (que ocorrem a cada meio minuto), sem qualquer substituto ou intermediário nesse encargo. Encargo quase enlouquecedor, sejamos francos, mas extremamente gratificante e maravilhosamente recompensado, que não fez de mim uma mãe isenta de falhas e culpas, melhor ou pior que qualquer outra. Esse é tão somente um compromisso que eu assumi comigo mesma, uma parte da minha trajetória, e é apenas sobre ela que posso falar.
         A propósito, o melhor que a Unesp me trouxe foi o amor da minha vida, que nunca interferiu ou questionou, e sempre respeitou minha decisão, reconhecendo o valor do meu trabalho doméstico.
Na verdade, essa fase acabou um pouco antes do que eu havia imaginado... vai ver que é a intervenção divina, atropelando todos os meus planos e dando um empurrão para que eu libere o 'menino grande' de três anos, que veste roupas e tem atitudes de um moleque de seis, e enfim tenha um tempo para cuidar de mim. Como eu nasci com pouca vaidade e sonhos minguados, é óbvio que esses cuidados imediatos e inadiáveis não serão realizados no salão de cabeleireiro, na manicure ou na academia, e os longos nove dias que passarei distante dos meus pequenos em nada se parecerão com férias relaxantes num spa ou resort. Entretanto, arrisco dizer, será um período intenso de renovação e revigoramento, que me preparará para investir na segunda parte daquele meu projeto, que é voltar para o mercado de trabalho no período em que os meninos ficam na escola.
Assim como eu previa, depois desses sete anos e cinco meses ininterruptos por conta da cria, os concursos, a advocacia, as escolas de inglês e as vagas na iniciativa privada continuam aí, disponíveis. Alguém me substitui e exerce seu papel no cargo que eu abandonei, e é claro que eu não devo ter feito muita falta. Mas os primeiros anos dos meus filhos, aqueles em que somente eu poderia ter agido como a mãe deles faria, passaram voando e não voltam nunca mais. E qualquer insensatez, submissão, machismo ou um mínimo arrependimento, continua somente na cabeça dos outros.
Enfim, primeira etapa da missão cumprida... E que venham os novos desafios.

(25 de janeiro de 2014)

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