segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Rupturas

Que verdade querem calar, ensaiando rabiscos que o vento vai apagar?
Do que necessitam se poupar, esmorecendo quem chora lentamente?
Qual ferida desejam curar, sem um esforço para enxergar o doente?
Que ajuda acreditam dar, quando a forte súplica nunca é suficiente?
Que festas teimam em estragar, vendo que são restos a comemorar?

Que casa insistem em limpar, enquanto a luta é para não desmoronar?
Que caprichos anseiam mimar, num momento em que nada é o presente?
Que assuntos martelam sem parar, quando a maior preocupação é patente?
Que piadas e lamúrias fariam rir ou chorar, já que o fardo é em si exigente?
O quanto é preciso gritar, até que vejam a fra(n)queza num singelo olhar?

Se a experiência já ensinou muito, o que ainda falta para captar?
Se o importante está arquivado, por que na lembrança emperrar?
Se confidente não é, terapeuta jamais, que conselhos vai desperdiçar?
Se o papel na novela deveria ser outro, que peso vale a pena suportar?
Se assume as rédeas e os riscos, que grupo os outros têm para chefiar?
Semelhanças há, mas se a ocasião é única, que vantagem em analisar?

O todo não é mais inteiro, a lacuna é agora um escudo de paz.
Para velhas questões sem resposta, o silêncio replicou demais.
Vez que os muros sequer se abalam, o consolo está desenhado.
Registre-se o impreterível hiato; lixo emocional alheio, dispensado.
A fase do jogo é nova, reorganização da alma num avariado aparelho
compreendido por quem está ao lado, e pelo denso reflexo no espelho.

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