sexta-feira, 9 de março de 2012

Filho não é tudo igual


"Filho é tudo igual!"
Se você pretende ter um segundo filho ou está prestes a pegar o novo rebento em seu colo, fuja desse clichê. Definitivamente, um filho nunca será igual ao outro.
É com prazer que digo que, possivelmente, o muito que você poderá aproveitar de sua experiência com o primeiro são os cuidados físicos, e olhe lá!
Obviamente, a recuperação do segundo parto será bem melhor e você estará muito mais segura para cuidar do bebê, dado que não será mais mamãe de primeira viagem e já sabe de onde tirar forças para enfrentar o que vier. Outro benefício: muito provavelmente as pessoas não se preocuparão em dar palpites como antes.
Mas você precisará enxergar e aceitar que o irmãozinho será completamente diferente do mais velho, seguindo a lógica da sua gestação, que já não deve ter sido igual à anterior.
O primogênito te apresenta uma nova vida, mas os próximos filhos te trazem desafios. Com sua chegada, você tem a real noção de uma das angustiantes missões da maternidade: repartir seu amor de maneira igualitária e sensata.
Enquanto filho único, o primeiro é o rei da casa. Tudo gira em torno do bebê, mamãe ainda tem certo controle de tudo, consegue descansar seguindo os horários dele e, principalmente, é capaz de atendê-lo quase que imediatamente.
Depois do segundo, você é obrigada a se segmentar: precisa dividir seu amor incondicional, sua atenção, seu colo, ensinar o primeiro a esperar, lidar de forma racional com o ciúme, às vezes até duplicar as broncas.
O terceiro vem para te mostrar mesmo que cada um tem sua peculiaridade. Dormem pouco ou muito, choram ou sorriem bastante, são birrentos ou conformados, não aceitam os mesmos alimentos e brinquedos, os processos de desmame não são similares. Um é sério e doce, outro é sapeca e carinhoso, o último tranquilo e aventureiro...
Quando estava grávida do segundo, aconselharam-me colocar o mais velho na creche ou contratar uma babá, pois assim eu teria um tempo a sós com o bebê. Preferi ficar sozinha com os dois ao meu lado, dividindo minha atenção, a ver um deles longe de mim, por conta de terceiros. Minha missão era mostrar ao neném a realidade de quem nasce num lar onde já existe uma criança e tem que compartilhar a mamãe.
Ouvi também que deveria apenas ter os cuidados básicos com o pequeno, como amamentação e troca de fraldas, colocando-o sempre no carrinho ou no berço para poder dar atenção ao mais velho. Nem pensar! O segundo nunca teria momentos sozinhos comigo, como o primeiro havia tido, então como eu poderia deixar de acalentá-lo e pegá-lo no colo? Meu dever era deixar claro para o primogênito que, mesmo cuidando do outro, meu afeto e atenção por ele continuavam os mesmos, apesar de um efetivo atraso em satisfazê-lo.
Veio o terceiro, e agi da mesma forma. Estamos prontos para sair e um deles dorme? Todos ficam em casa. Estamos no parquinho e preciso trocar a fralda do bebê? Todos vão para casa. Os maiores têm aula de natação? O mais novo vai junto. O pequeno insiste em atrapalhar a brincadeira dos mais velhos? Fico com ele enquanto os irmãos brincam livremente no quarto, afinal têm direito ao sossego de vez em quando. Um se compara com o outro, exaltando defeitos e qualidades? Ensino que cada um tem suas características, e devemos respeitá-las.
E assim, em meio a disputas e furacões, eles se acostumam a aceitar as diferenças, a fazer concessões pelo outro, a ponderar qual necessidade é prioritária em cada momento. Mas não posso dizer que isso é o melhor; pode ser mais um indício de que sou meio maluca!
O fato é que, independente de como se organiza a rotina de uma casa com mais de um filho, deve-se sempre ponderar que cada rebento é um ser único, que demandará uma educação específica. Como sempre disse meu pai, os princípios e regras devem ser os mesmos para todos os filhos, mas transmitidos de acordo com a personalidade de cada um.
A responsabilidade de moldar uma centelha divina exige que  tentemos praticar em casa a justiça em seu sentido pleno: tratar os desiguais desigualmente, na medida de suas desigualdades, como proclamava o sábio Rui Barbosa. Assim, o carinho e as correções devem ser individualizados, pois há aquele que necessita de mais afago, ao passo que o outro não gosta muito de contato físico, e há quem requeira maior rigor na bronca, pois não obedece com a facilidade dos irmãos.
 E você verá, também, que a forma de cada filho demonstrar seu afeto é única, que há coisas em um que te irritam mais que no outro, que um deles fará exatamente o que você sempre reparou nos vizinhos, que um acatará de pronto sua ajuda, enquanto outro será mais independente.
Pais que procuram tapar o sol com a peneira e não aceitam essa realidade, esperando e exigindo que um filho seja parecido com o outro, certamente terão problemas. E para evitá-los, basta resgatar a memória e usar a inteligência. Por acaso nós algum dia fomos iguais a qualquer irmão?

2 comentários:

  1. Muito bom! Desafiador, dificil muitas vezes, mas recompensador em tantos momentos.
    Deus nos dê graça de caminhar essa cansativa jornada.

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    1. Já estou até te imaginando com as duas princesas... Bom demais!

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