"Filho é tudo igual!"
Se você pretende ter um segundo filho ou está
prestes a pegar o novo rebento em seu colo, fuja desse clichê. Definitivamente,
um filho nunca será igual ao outro.
É com prazer que digo que, possivelmente, o
muito que você poderá aproveitar de sua experiência com o primeiro são os cuidados
físicos, e olhe lá!
Obviamente, a recuperação do segundo parto será
bem melhor e você estará muito mais segura para cuidar do bebê, dado que não será
mais mamãe de primeira viagem e já sabe de onde tirar forças para enfrentar o
que vier. Outro benefício: muito provavelmente as pessoas não se preocuparão em dar
palpites como antes.
Mas você precisará enxergar e aceitar que o
irmãozinho será completamente diferente do mais velho, seguindo a lógica da sua
gestação, que já não deve ter sido igual à anterior.
O primogênito te apresenta uma nova vida, mas os
próximos filhos te trazem desafios. Com sua chegada, você tem a real noção de
uma das angustiantes missões da maternidade: repartir seu amor de maneira
igualitária e sensata.
Enquanto filho único, o primeiro é o rei da
casa. Tudo gira em torno do bebê, mamãe ainda tem certo controle de tudo,
consegue descansar seguindo os horários dele e, principalmente, é capaz de atendê-lo quase que imediatamente.
Depois do segundo, você é obrigada a se
segmentar: precisa dividir seu amor incondicional, sua atenção, seu colo, ensinar
o primeiro a esperar, lidar de forma racional com o ciúme, às vezes até duplicar
as broncas.
O terceiro vem para te mostrar mesmo que cada
um tem sua peculiaridade. Dormem pouco ou muito, choram ou sorriem bastante,
são birrentos ou conformados, não aceitam os mesmos alimentos e brinquedos, os
processos de desmame não são similares. Um é sério e doce, outro é sapeca e
carinhoso, o último tranquilo e aventureiro...
Quando estava grávida do segundo, aconselharam-me
colocar o mais velho na creche ou contratar uma babá, pois assim eu teria um
tempo a sós com o bebê. Preferi ficar sozinha com os dois ao meu lado, dividindo
minha atenção, a ver um deles longe de mim, por conta de terceiros. Minha
missão era mostrar ao neném a realidade de quem nasce num lar onde já existe
uma criança e tem que compartilhar a mamãe.
Ouvi também que deveria apenas ter os cuidados básicos
com o pequeno, como amamentação e troca de fraldas, colocando-o sempre no
carrinho ou no berço para poder dar atenção ao mais velho. Nem pensar! O
segundo nunca teria momentos sozinhos comigo, como o primeiro havia tido, então como eu poderia deixar de acalentá-lo e pegá-lo no colo? Meu
dever era deixar claro para o primogênito que, mesmo cuidando do outro, meu
afeto e atenção por ele continuavam os mesmos, apesar de um efetivo atraso em
satisfazê-lo.
Veio o terceiro, e agi da mesma forma. Estamos
prontos para sair e um deles dorme? Todos ficam em casa. Estamos no parquinho e
preciso trocar a fralda do bebê? Todos vão para casa. Os maiores têm aula de natação? O mais novo vai junto. O pequeno insiste em
atrapalhar a brincadeira dos mais velhos? Fico com ele enquanto os irmãos
brincam livremente no quarto, afinal têm direito ao sossego de vez em quando. Um
se compara com o outro, exaltando defeitos e qualidades? Ensino que cada um
tem suas características, e devemos respeitá-las.
E assim, em meio a disputas e furacões, eles se
acostumam a aceitar as diferenças, a fazer concessões pelo outro, a ponderar qual
necessidade é prioritária em cada momento. Mas não posso dizer que isso é o
melhor; pode ser mais um indício de que sou meio maluca!
O fato é que, independente de como se organiza
a rotina de uma casa com mais de um filho, deve-se sempre ponderar que cada
rebento é um ser único, que demandará uma educação específica.
Como sempre disse meu pai, os princípios e regras devem ser os mesmos para
todos os filhos, mas transmitidos de acordo com a personalidade de cada um.
A responsabilidade de moldar uma centelha divina
exige que tentemos praticar em casa a justiça em seu sentido pleno: tratar os
desiguais desigualmente, na medida de suas desigualdades, como proclamava o
sábio Rui Barbosa. Assim, o carinho e as correções devem ser individualizados,
pois há aquele que necessita de mais afago, ao passo que o outro não gosta
muito de contato físico, e há quem requeira maior rigor na bronca, pois não
obedece com a facilidade dos irmãos.
E você
verá, também, que a forma de cada filho demonstrar seu afeto é única, que há
coisas em um que te irritam mais que no outro, que um deles fará exatamente o
que você sempre reparou nos vizinhos, que um acatará de pronto sua ajuda, enquanto
outro será mais independente.
Pais que procuram tapar o sol com a peneira e
não aceitam essa realidade, esperando e exigindo que um filho seja parecido com
o outro, certamente terão problemas. E para evitá-los, basta resgatar a memória
e usar a inteligência. Por acaso nós algum dia fomos iguais a qualquer irmão?