quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Dicas (sobre 08/01/2023)

"A mamãe está alterada." (na estrada, enquanto eu tentava pegar as informações que a internet permitia)

"Mamãe revolts." (na sala, após um longo discurso sobre a importância de se preservar o patrimônio público)

"Nossa, mãe, parece que você previu o que aconteceu ontem, se encaixa perfeitamente." (ao ler meus dois textos de indignação, inspirados no vandalismo de maio/2017)

"Nunca vi minha mãe tão brava." (no restaurante, complementando a fala do pai sobre minha revolta)

Ciente de que minha missão é preparar cidadãos conscientes para a sociedade, deixo aqui registrado um breve resumo do que foi dito por mim sobre o episódio. Sei que a memória pode escapar, meu filho, então ficam as dicas:

1) Respeite o que pertence a todos. Destruição de patrimônio público só prejudica o povo. Não seja ingênuo, acreditando que revolução é fazer birra e partir para a quebradeira.

2) Independentemente de sua ideologia política, não se afilie a qualquer bando de lunáticos, vândalos, criminosos, arruaceiros, golpistas, inimigos da democracia ou prevaricadores. 

3) Jamais apoie ou aplauda movimentos antidemocráticos.

4) Evite tratar como especialista qualquer maluco com uma câmera na mão. Você é capaz de pensar por si e não precisa se guiar por fake news de blogs duvidosos ou notícias enviadas em prints de araque. 

5) Lembre-se que uma 'pessoa de bem' nunca iguala, quiçá ultrapassa, os abusos e ilegalidades que tanto critica nos outros. Não é porque o time rival matou trinta pessoas, que você se torna menos assassino ao matar ‘apenas’ duas.

6) Condene qualquer ato de vandalismo e depredação do patrimônio público. Isso supera qualquer discussão entre direita, centro e esquerda.

7) Vote em quem quiser. Porém, não crie um personagem ou passe vergonha com torcida organizada para justificar seu voto.

8) Não tenha político ou partido de estimação, tampouco idolatre mitos e mártires de conveniência.

9) Seja contra qualquer ditadura, de esquerda ou de direita; aprenda com a História e não peça pelo retorno dessa abominação.

10) Saiba que ninguém é obrigado a segui-lo se sua opinião desagrada. Do mesmo modo, você pode ter seu limite de tolerância para ouvir/ler bestialidades.

11) Qualquer que seja sua crença, não use o nome de Deus em vão, incitando a barbárie.

12) Jamais refugue a democracia e queira que sua pátria se curve diante de seus caprichos ou das maluquices da sua turma.

13) Sabendo que a família é a menor célula da sociedade, aprenda o que é coletividade e coloque em prática o respeito ao patrimônio público.

14) Liberdade e responsabilidade andam juntas. Seu direito termina onde começa o direito do outro. Você não é livre para fazer o que bem entende e arcará com as consequências dos próprios atos. 

15) Orgulhe-se de sua terra e honre seu país, lembrando que um verdadeiro patriota preserva, jamais destrói qualquer bem público, seja ele uma placa de trânsito ou uma vidraça de palácio. 

Possivelmente você, que já ouviu essa ladainha antes, reportará o surto materno com risadas no futuro. 

Se assim for, sorriremos juntos, rememorando a minha indignação perante o lamentável episódio do dia 08/01/2023.

Realista que sou, sei que não é impossível que você perca o juízo e se transforme em membro de seita lunático e desinformado, ignorando todas as orientações recebidas de seus pais. 

Se assim for, lamentarei muito e torcerei para que sua mente se abra, com a consciência tranquila de que tal insensatez não foi sua mãe quem ensinou.

Por fim, e não menos importante, grave essa dica: 

16) Por mais que você esteja certo do propósito, nunca, em hipótese alguma, aja como um tolo extremista. Tenha discernimento e não tente justificar o vandalismo. Evite passar vergonha.

Da série "Para os meus filhos"

11/01/2023

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terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Textão de indignação

Textão de indignação

Situação hipotética, muito difícil de ocorrer nesse Brasil: descobrem que o prefeito de sua cidade, mancomunado com vereadores, promotores, juízes, está cometendo atos ilícitos, que ensejam pedidos de impeachment, renúncia, investigação, prisão. Mas os camaradas são caras de pau, não largam o osso na política municipal (hipótese absurda, hein gente!).
Organiza-se uma manifestação pacífica, por pessoas que só pra garantir carregam pedra, foice, rojão, bomba. Vai que, né gente. Mas isso não ocorre fora do Planalto Central, que imaginação fértil a minha.

Eu gostaria de saber se os defensores dos "manifestantes" apoiariam e justificariam a tentativa de invadir a prefeitura, a depredação da câmara de vereadores, a jogada de bomba no prédio de uma secretaria qualquer, com os trabalhadores dentro.
Seria interessante ver a reação dos munícipes ao descobrir que aquele é o prédio onde trabalham seus parentes, seus vizinhos, aquela antiga ajudante querida que agora é terceirizada da limpeza.

Coçaria pra testemunhar os defensores da baderna recebendo no whatsapp mensagem do (a) namorado (a), avisando que teve que sair de um desses lugares escoltado pela garagem, sem crachá, porque bombas foram jogadas no térreo. E ele (a) ainda tem que pegar o carro no estacionamento, passar pela fileira de defensores da paz que usam coquetel molotov. Não foi de ônibus como de costume porque a via principal, de seis pistas, estava interditada para o exercício do direito à livre manifestação desde a meia-noite. Mas isso também é privilégio de cidade que concentra bandido, na terra dos defensores de bandeira tá tudo legal, ninguém vê seu local de trabalho pegando fogo colocado por gente do bem.

Eu queria, só queria, ver o pessoal que se abate com remoção de invasão, com ataque terrorista no exterior, com demolição de casa com dependentes químicos dentro, com incêndio criminoso na casa do vizinho, com violência a condenado na cadeia, descobrir que Brasília não é feita só dos prédios bonitos do Niemeyer. Gostaria que percebessem que Brasília não é habitada apenas pelos políticos que os votos de todos os brasileiros mandam pra cá. Que essa terra é feita de gente. De gente que pega ônibus lotado às cinco da madrugada para limpar e vigiar os prédios públicos, pra fazer faculdade com bolsa e estagiar no serviço público, conciliando com outro emprego para alimentar os filhos, mirando um futuro melhor. De gente que estudou com muita luta, enquanto outros curtiam a balada e brincavam, passou num concurso sem cartas marcadas e largou sua cidade em busca de trabalho. De gente que vem para ser auxiliar de qualquer coisa e só consegue visitar a família a cada dois anos, porque a passagem é cara e a viagem longa. De moradores dos arredores do maior lixão a céu aberto e da maior favela horizontal da América Latina, que têm na terceirização do serviço público a pequena fonte de renda da família.

Eu queria, só queria, que os cientistas políticos de botequim e leitores de blogs de intelectuais e humoristas recebedores de mesada de partido, que arrotam posts agressivos contra Brasília, pegassem o ônibus, o carro ou o avião, e passassem alguns dias aqui. Que deixassem de pensar que essa cidade é só um quadradinho no mapa ou a Esplanada que aparece no Jornal Nacional (e no Jornal do SBT, pra quem boicota a emissora golpista).
Eu queria que conhecessem os candangos, os brasilienses, os moradores do entorno, as pessoas de diferentes sotaques e culturas que se identificam e se tornam vizinhos/colegas de trabalho irmãos, numa cidade que muitos chamam de fria.

Eu queria que estudassem a história dessa região que foi e continua sendo a promessa de uma vida melhor pra tanta gente, e a vissem como um aglomerado de pessoas boas, como enxergam seus conterrâneos e prezam pela sua cidade.

Na minha cidade, tive a oportunidade de trabalhar em agência bancária invadida por baderneiros ignorantes e destruidores, que não enxergavam que nós, atendentes que eles agrediam, éramos tão trabalhadores como eles. Doeu ver o que destruíram. Eu devo ter sonhado, porque essas coisas não acontecem fora do quadradinho planejado, é difícil pros outros imaginarem.

Mas... é Brasília, né. Aqui, o livre direito à manifestação pode colocar os outros em risco, pode impedir o exercício do direito de ir e vir, pode virar violência que inspira quadrinhos e memes pro resto do país se divertir, e textões criticando manchetes que usam vândalos em vez de manifestantes.

Cansada disso tudo, e eu também gostaria que nosso governante fosse outro. Há limites em qualquer lugar, sempre.

25 de maio de 2017












Protesto

Sai da frente da telinha e vem pra Brasília, vem!
É fácil achar bonita a depredação de prédio público, quando não é seu local de trabalho. É simples chamar de manifestante quem vem pronto pra tacar pedra e botar fogo, quando você não corre o risco de ter seu carro atacado, nem fica preocupado se vai conseguir buscar os filhos na escola.
Da próxima, aluga um busão e vem com a galera, sai do conforto do clique.
Vem pra Brasília tacar bomba no Congresso e nos Ministérios, sabendo que lá tem muito trabalhador honesto, servidor ou contratado que viaja três horas por dia para ganhar o pão.
VEM PRA BRASÍLIA, VEM!

24 de maio de 2017





Escrevo porque preciso

Escrever é uma necessidade...  O pensamento chega, o texto se ajusta de forma meteórica e necessita ser externado. Um process...