É fácil abrir o álbum de fotos para fazer chantagem
emocional e cobrar do outro a aceitação dos equívocos, exigindo esquecimento em
nome da história preenchida.
Difícil é olhar com carinho para a linha do tempo,
valorizar os capítulos anteriores e considerar o contexto vivido, controlando
seus impulsos em respeito ao livro construído em parceria.
Covarde é aquele que arranca as páginas registradas
sem o consentimento alheio, no intuito de manipular o roteiro e fingir que nada
aconteceu, continuando uma narrativa enviesada.
Corajoso, mesmo, é quem dignifica o passado e tem
força para dominar-se, cuidando para não transformar em escritos os pensamentos
ultrajantes, que arruinariam o enredo.
Na novela da vida, o hipócrita usa os fatos
pretéritos para se fazer de vítima e cobrar subserviência. Justifica a audácia
na vivência conjunta e, a fim de legitimar suas falhas, apela para as
recordações de um coração dilacerado. Palavras ao vento.
O leal, ao contrário, se antecipa e honra esse
mesmo histórico para recusar cenas inapropriadas, acrescentando apenas
passagens autênticas ao texto. Nada o distrai ou tira do propósito. Ele não
precisa incluir personagens aleatórios, esconder imagens e frases ou iludir o
parceiro, pois nada redige de inconsequente.
Numa história escrita a quatro mãos não cabe edição
unilateral. Feliz e sofrido, com altos e baixos, cômico e dramático - há algo
mais belo do que um documentário honesto?
Deve o coautor ter em mente que certas ideias
precisam ser guardadas na caixinha das sensações, jamais despejadas no papel,
em consideração à união voluntária.
O escritor que ignora o companheiro mancha sua
obra. A borracha é incapaz de apagar tudo.
Fatos (imagens + escritos) = memórias
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