terça-feira, 16 de agosto de 2016

O aprendiz como protagonista - constatações

Você me disse que não havia copiado toda a tarefa da lousa, e minha primeira reação foi dizer-lhe o que eu não iria fazer. Em vez de solicitar que mandassem fotos pelo whatsapp, eu lhe mostrei formas de se resolver sem o meu protagonismo.
Percebemos rapidamente, meu querido, que você realmente não precisava que eu tomasse qualquer inciativa, pois saberia processar aquelas dicas e encontraria uma solução. No restaurante você encontrou um colega de sala, que perguntou sobre o trabalho a ser entregue em dois dias. Ao ouvir que você não havia terminado de copiar e que conversaria com a professora, seu amigo lhe ofereceu o caderno emprestado, com muita empolgação. Sempre serei grata por ter testemunhado o sorriso em seus rostos.
Chegando da escola, conheci o desenrolar da história. Além de aceitar a ajuda oferecida, você teve a iniciativa de comunicar à professora que não tinha terminado. Ela prontamente cedeu um tempo para que você copiasse do caderno do amigo, e agora vocês negociam quando será concluída aquela questão de português.
Em nosso diálogo sobre o assunto, algumas constatações: a) você não precisa da sua mãe para resolver todos os seus problemas; b) você pode dizer abertamente que não terminou algo, pois não é vergonha nem incomum passar por isso; c) ao contar para a professora, você superou o receio de se expor e a deixou ciente da situação; d) quando falamos de nossas dificuldades, encontramos pessoas dispostas a nos auxiliar sem pedir nada em troca - o nome disso é solidariedade; e) você foi proativo e conseguiu dar o seu jeito.
Fico feliz, meu filho, em ver que chegou a sua grande hora nesse processo de aprendizagem, acompanhado de perto em parceria com a escola. Entender e testar os modos de contornar os obstáculos no seu ambiente, por si mesmo, é uma etapa imprescindível para o seu crescimento. Eu não poderia tirar-lhe essa linda oportunidade.
Com essa experiência, você se abriu para o autoconhecimento, que possibilita desenvolver habilidades que lhe serão úteis por toda a vida. Para tomar diversas decisões, como o esporte a ser praticado, o curso universitário, a profissão a ser seguida, o emprego a ser aceito, quaisquer compromissos a serem assumidos, é preciso compreender não apenas as próprias virtudes, mas também detectar as dificuldades e encontrar maneiras de desafiá-las. É assim com muitas pessoas, comigo, com o seu pai, e não será diferente com você.  
Siga em frente no caminho da conscientização e da responsabilidade - você é capaz!  Te deixo três frases de Maria Montessori:
“O objetivo da Educação, no educando, é desenvolver a capacidade de consciência e responsabilidade.”
“Ajude-me a agir por mim mesmo.”
“Nunca ajude uma criança numa tarefa em que ela se sente capaz de fazer.

Da série: Para os meus filhos 

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Retomada

Remando contra a correnteza -  o nome não é por acaso. Traduz tanto o momento que vivíamos quando o criei, quanto o modo como me sinto ao tentar cumprir minha maior missão.  Nos desafios dos últimos anos, foi bem custoso remar. A vontade de escrever vem e volta, a água continua vindo.... Hoje retomo meu blog em homenagem aos meus três tesouros, e ao meu parceiro de todas as horas. 
A seção “Para os meus filhos” é um projeto antigo, que tem como objetivo me fazer entender para os maiores interessados e os mais atingidos pela minha maneira de enxergar a vida. Antes eu educava apenas com base nas minhas crenças. Hoje eu educo com a perspectiva de uma mãe que passou da pretensão de conseguir estar presente o tempo todo, para a mãe que já saboreou o azedo da certeza da finitude. Essa experiência, tão dura, mudou minha forma de ver várias coisas, mas me fez fincar ainda mais em grande parcela do que eu já acreditava. E é nessa realidade que eu sigo criando meus filhos para o mundo. Não é o mundo ideal (para quem?). Todavia, é o que temos, e sua evolução depende de diversos fatores.
Inúmeras vezes questionaram minhas escolhas, minhas visões e meus métodos. Tenho o palpite de que continuarão. A resposta básica é: eu não tenho a verdade absoluta, não sei como meus filhos absorverão o que transmito, nem como usarão essa bagagem na vida adulta. Eu só quero perceber, lá na frente, que eu fiz o que estava ao meu alcance. E sim, eles provavelmente irão me indagar, me enfrentar, me culpar, me fazer enxergar os desacertos; talvez demais, talvez nem tanto, quem sabe... Nunca tive a pretensão de ser a mãe perfeita, erro com frequência, sou uma humana bastante crítica e realista.  
Quero muito, muito mesmo, registrar o processo da tireoide, para ajudar quem passa por situação parecida. Ainda é difícil colocar no papel, mas aos poucos a história vai tomar sua parte no caminho.
Espero, também, poder retribuir de algum modo o que venho aprendendo ao pinçar vivências aqui e ali: não existe poção mágica nem a receita ideal, o amor e a boa vontade não são exclusividade de determinados grupos. E por mais que essa modernidade de tribos tente te encaixar em um ou outro lado, fazendo ilações a seu respeito, você pode seguir seu próprio caminho na busca pelo que considera prioridade.
Claro, como o que eu escrevo raramente é programado e sai a qualquer hora, interrompendo a mais trivial tarefa doméstica, os textos continuarão misturados entre ficção, depoimentos e reflexões sobre variados temas.

“Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir.” (Bernardo Soares – F. Pessoa)

Apoiar ou substituir? O aprendiz como protagonista

Você não conseguiu terminar de copiar a tarefa da lousa, meu filho. A segunda vez em poucos dias. Nós sabemos de sua dificuldade. Você se esforça para superar essa vagareza há anos. E na semana passada, você teve a oportunidade de copiar do caderno de seu amigo, cuja foto foi enviada a pedido de outra mãe no grupo do Whatsapp. A questão não fotografada você ficou de pegar com a professora. 
E hoje, meu filho, eu te disse mais um não. Eu não vou pedir no grupo de mães que me enviem a foto do caderno dos filhos. Se você tivesse faltado à aula, por motivo de doença, talvez eu o fizesse. Mas você estava na escola. 
Sim, eu fotografo sua agenda, seus livros e seus cadernos quando outras mães pedem. Apesar de agir diferente com você, eu entendo os motivos delas e não me custa ajudá-las. 
Você, eu quero treinar para a autonomia. Como você bem disse, precisa aprender a ter responsabilidade. Quero que entenda a consequência de seus atos, que saiba lidar com suas dificuldades, e que consiga se comunicar, sem intermediários, na tentativa de corrigir o necessário. 
Para mim seria apenas um clique, para você será um desafio. Converse com a professora, peça emprestado para o colega, copie no intervalo, toque a campainha do vizinho de condomínio e pergunte se ele pode te ajudar. Peça o número do Whatsapp do amigo, para que vocês conversem sobre a tarefa através do meu telefone, já que você sabe os motivos de não ter o seu próprio. Enfim, dê o seu jeito.
Você é capaz, meu filho, como eu fui, de ser protagonista do próprio aprendizado. Terá sim meu apoio, mas não será substituído pelas minhas facilidades.
                                               
Da série: Para os meus filhos

Escrevo porque preciso

Escrever é uma necessidade...  O pensamento chega, o texto se ajusta de forma meteórica e necessita ser externado. Um process...