Sabe quando o choque da graça alcançada é tão grande, tão grande, que você custa a processar para dar a notícia?
Muitos sabem que, há exatos dois anos, retornávamos de uma estadia de 45 dias em Barcelona, na esperança de que a pesquisa com células tronco pelo menos aliviasse as fortes dores decorrentes de uma discopatia degenerativa, sem qualquer tratamento paliativo ou cirurgia aplicáveis no Brasil.
De uma nota na internet, foram vários e-mails e telefonemas num portunhol suado, até que o caso foi aprovado. E nós viemos com as crianças, as malas e a coragem, sem saber se era a luz da oportunidade divina, ou simplesmente uma loucura de quem não enxergava nada além do caos no desespero.
Na nossa aventura em família, experimentamos um turismo diferenciado, de quem não cruzou o oceano para passear. As belezas que conhecemos nessa maravilhosa cidade foram os bônus que vieram com a tempestade.
Caíram muitas lágrimas ao preencher o primeiro questionário de acompanhamento, três meses após a inoculação das células nos discos vertebrais: nada de trégua do desconforto. Questionamos, em nossa fraqueza, se todo aquele esforço não teria sido em vão.
Sessenta dias depois, já percebemos uma melhora e a dor foi, aos poucos, dando um descanso. Rotina de trabalho retomada, momentos sem notar que a coluna existe. Mas foi outra turbulência, nova fase de testes para a tropa, que nos mostrou o quanto as pequeninas haviam trabalhado em silêncio.
Agora, nessa nova viagem cheia de incertezas e contratempos, os exames comprovaram que houve significativa regeneração no disco que mais incomodava, e que o segundo não degenerou, como seria de se esperar para o quadro. Os médicos ficaram bastante satisfeitos com o resultado, e consideram que a intervenção foi muito bem sucedida. Alegria e gratidão!
Nós louvamos ao Senhor por esse milagre, operado por meio de profissionais abençoados, que dedicam seu tempo a descobrir formas de amenizar a aflição alheia. Dor física muitas vezes invisível aos olhos dos mais próximos que, por isso mesmo, julgam o desgaste emocional e não atendem ao clamor por paz de espírito ou compreensão. Cada dia me admiro mais da linda missão dos trabalhadores da área da saúde.
Agradecemos a todos os amigos e familiares que sempre nos apoiaram nessa jornada, seja com orações, com telefonemas, com conversas e alento virtual (porém real), com visitas desinteressadas e conformadas, com a grande ajuda pessoal nos momentos mais dramáticos, e também com os chacoalhões necessários.
O sorriso largo ao marcar o risco próximo ao 'ningún dolor' no gráfico e a felicidade de ver, nas fotos, ações espontâneas que há pouco seriam improváveis, nos dão a certeza de que tudo de bom, de nem tão legal e de difícil que enfrentamos até hoje serviram, de alguma forma, para que fôssemos dignos de receber essa dádiva.
E nós torcemos, de coração, para que essa pesquisa chegue logo ao nosso país e possibilite melhores condições de vida para as inúmeras pessoas que padecem daquela dor silenciosa e crônica. 'Daquela' sim, porque já faz parte do nosso passado, e espero que continue por lá. A comemoração da leveza era, realmente, uma questão de tempo.
(http://remandocontraacorrenteza.blogspot.com.br/2012/06/questao-de-tempo.html)
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