Nanci sempre estufou o peito ao dizer que era pouco vaidosa. Em casa, no trabalho
ou nas festas, o visual era praticamente o mesmo. Simples.
Batom
discreto, vez ou outra lápis para olhos ou delineador, raramente
aparava as sobrancelhas. Esmalte nas unhas, apenas para eventos de
pompa. Xampu de qualquer marca, secador somente para tirar
a umidade, nada de penteado especial; aventurava-se no corte sozinha,
comprimentos diversos. Sem compromisso com a moda, para os acessórios
nunca deu bola. Alternava sem problemas entre magra e gordinha, o guarda-roupa acompanhava a tendência de
quem comia muito ou pouco com consciência.
Incrivelmente
determinada a aceitar-se como Deus a criou, a moça desapegada pouco se afetava pela opinião alheia sobre sua aparência. Ela não
entendia o compromisso da maioria com a manicure, a pedicure, a
escova, o alisamento, a tintura, a maquiagem, a hidratação, a
combinação das peças, a preocupação com a roupa do dia.
Até que
veio o acaso para abalar as estruturas da crítica e desprendida menina, que considerava tudo perda de tempo e fazia piada da busca pela beleza. Levada a cortar os cabelos,
por força das circunstâncias acima do peso, vestimenta fora de
estilo, impossibilitada de usar os enfeites que queria, no reflexo uma estranha agonia.
Para Nanci, aquilo era
doído. Não adiantava ouvir que o corte ficou lindo, que o vestido
lhe caía bem, que o lenço era um charme, que estava bonita, que nem dava para perceber. O
cabelo ia crescer, ela tinha que emagrecer, recusava-se a comprar roupas maiores, responder sobre a echarpe tornou-se fatigante. Nada disso ela havia escolhido.
Foi aí
que ela percebeu o quanto era presunçosa... Que ilusão,
considerar-se abnegada, quando tinha no orgulho de controlar o que a satisfazia no espelho, uma grande vaidade.
Me lembra uma música do Legião: "... o que eu mais queria era provar pra todo mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém"
ResponderExcluir