Lá
estava ele, aguardando o início da celebração do batismo do sobrinho. Enquanto
esperava, lembrou-se do fatídico episódio: depois de anos ensaiando e num
momento de preocupações, o moço criado no catolicismo resolveu buscar consolo na igreja e acabou se deparando com uma missa de corpo presente, lotada de fiéis
que queriam se despedir do pároco da matriz. Memórias à parte, começou o batizado e logo o padre anunciou:
_Vamos
agora passar para aquela ladainha, em que rogamos aos santos por proteção.
Santo Antônio, rogai por nós!
Ato contínuo, Haroldo
cutucou a esposa, com os olhos arregalados:
_Nicota,
você ouviu isso? Ele falou LA-DA-I-NHA!
“São Paulo, rogai por nós! Santa
Terezinha, rogai por nós! Santo Expedito, rogai por nós!”
A
esposa, habituada a fazer leitura labial dos comentários do amado, sussurrou:
_Sim,
isso é uma ladainha.
“São Pedro, rogai por nós! Santa
Bárbara, rogai por nós!”
Haroldo,
que não conseguia processar o que ouvira, prestava atenção na reza, estupefato
com a atitude insensata do jovem padre. “São
Judas Tadeu, rogai por nós!” Diante da confusão do marido, Nicota, que havia tido um mal-estar o dia todo e controlava as crianças à distância, esforçava-se
para conter o riso e não atrapalhar a cerimônia.
“Santa Luzia, rogai por nós! Santo
Inácio, rogai por nós!"
Dona Idália, vendo a jovem tremendo e com a mão na boca, desesperou-se e segurou seu braço, preocupada:
Dona Idália, vendo a jovem tremendo e com a mão na boca, desesperou-se e segurou seu braço, preocupada:
_ Filha,
você precisa de alguma coisa? Está passando mal?
“Santa
Efigênia, rogai por nós!”
Nicota
apenas gesticulou, mostrando que estava tudo bem. Naquele momento,
Netinho passou voando pelo corredor, dirigindo-se à porta da capela, e os pais correram
para alcançar o filho de apenas três anos. Já do lado de fora, o indignado aproveitou a oportunidade para desabafar com a esposa:
_
Eu não acredito que aquele padre teve a coragem de fazer isso! Quanta falta de
respeito! Se fosse o batizado do meu filho, eu teria me levantado na hora e
reclamado. Quem ele acha que é para chamar uma oração de ladainha?!
_Haroldinho,
querendo dar uma de justiceiro até com um padre?! Segura os ânimos... Por acaso
você não sabe o que é ladainha?
_Claro
que sei, eu não sou bobo! Ladainha tem o sentido que eu conheço, ué, de
conversa chata, lengalenga. Onde já se viu um padre dizer uma coisa dessas...
E
voltou para a cerimônia, duvidando da mulher, maluca, que dissera que ladainha
nada mais era que uma oração repetitiva, justamente como aquela. O inconformismo persistiu até o final do batizado, quando Haroldo entrou no carro, ligou o tablet
e leu os significados do verbete.
Como é feito São Tomé, o revoltado precisou ver para crer. Deu o típico sorrisinho amarelo e pensou: “ainda bem que o batizado não era de um filho meu!".
Como é feito São Tomé, o revoltado precisou ver para crer. Deu o típico sorrisinho amarelo e pensou: “ainda bem que o batizado não era de um filho meu!".
Pobre
Haroldo, parece que precisa mesmo de uma reciclagem religiosa ou de um gerenciamento
de raiva... Há não muito tempo, ao ouvir Nicota entoar a oração ‘Maria, passa na frente’, esbravejou antes
que ela terminasse a frase:
_Mas é folgada essa Maria, hein! Não tem educação não?

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