sexta-feira, 25 de maio de 2012

Mas é só uma foto! Será?


É engraçado como uma criança inocente aparenta ter mais noção de alguns direitos que muitos adultos letrados, e inesperadamente nos coloca diante de uma situação que põe à prova nossas próprias convicções.
Meu filho de apenas quatro anos anda avesso a fotografias há tempos: reclama de porta-retratos, faz de tudo para se esconder das câmeras, afirma não querer lembrança nenhuma. Essa semana, solicitou de forma incisiva que eu retirasse todas as fotos dele da internet. Na hora, me veio o questionamento: seria coisa de criança, tentativa de chamar atenção digna de ser ignorada, ou deveria eu dar-lhe ouvidos e excluir suas fotos da minha página no facebook? Optei pela segunda opção, e ele acompanhou feliz o procedimento. Por quê?
Porque essa pessoinha, não sei como, já percebeu que uma imagem se relaciona com a personalidade do retratado, que é seu direito não querê-la exposta para os olhares públicos e que ele não precisa explicar a razão de sentir-se mal com a divulgação. E eu, sabendo que isso é verdadeiro, não estaria correta ao abusar da minha posição de mãe e deixar de dar o exemplo que espero dos outros.
Fico realmente intrigada diante de manifestações ridicularizando famosos que tiveram fotos íntimas publicadas na rede sem autorização. Justifica-se tudo na qualidade de pessoa pública dos artistas, chamam-nos de estúpidos por terem guardado as imagens em seus celulares, computadores ou câmeras, invadidos maliciosamente por terceiros. O que será que essas pessoas que criticam as vítimas responderiam à pergunta: e se fosse com você? Quem acessa essas fotos e as divulga de forma vil e dolosa mereceria aplausos por fazer internautas felizes ao visualizá-las ou prêmio pela esperteza? Claro que inúmeras delas responderiam não se importar com isso e que os hackers prestam um belo serviço à comunidade cibernética. Entretanto, a condescendência de alguns não tira do ofendido a prerrogativa de exigir a punição dos culpados, pois mesmo a 'estrela' que tem diversas  imagens estampadas por aí (com sua permissão, diga-se de passagem) continua com o direito de decidir que certos retratos não são passíveis de publicação.
 Voltando ao site de relacionamento, penso que a modernidade virtual tem deixado muitas pessoas abestadas e alienadas, fazendo-as ignorar propositadamente muitos princípios e direitos básicos de qualquer cidadão. Tudo é permitido e qualquer excesso é bonito quando necessário para satisfazer o ego, faz-se ouvidos moucos a apelos legítimos e taxa-se de antissocial ou encrenqueiro aquele que procura zelar por sua privacidade.
Minha filosofia é a seguinte: 1) Cada um divulga em primeira mão o evento que promoveu  e quem quiser postar fotos da festa de aniversário, formatura ou casamento, deve fazer a gentileza de perguntar antes. 2) Quando um parente não é seu amigo na rede social devido a um mau relacionamento, é necessário ligar o desconfiômetro e não divulgar imagens dele no seu perfil. 3) Se um amigo avisou que não gosta de ver sua cara na web, é prudente fazer uso de semancol e contentar-se em publicar fotos das dezenas de pessoas que não se incomodam com isso. 4) É imprescindível o bom senso de não divulgar sem prévio consentimento fotos ou vídeos recebidos por e-mail ou mensagem fechada, pois se o dono da arte quisesse tal exposição, possivelmente o teria feito de antemão. 5) No caso de reprimenda por postagem inocente de imagem alheia, prova-se a alegada boa intenção ao remover a foto imediatamente e sem estardalhaço, e um pedido de desculpas cairia bem. 6) Fotos de outros em trajes íntimos ou de banho?  Indispensável a anuência expressa do dono do corpinho.
Podem falar que eu concordo: sou mesmo complicada e um tanto conservadora, e vê-se que o pequeno ‘do contra’ certamente tem a quem puxar. Acontece que os chatos e esquisitos também têm direitos previstos constitucionalmente, e insistir em contrariá-los é no mínimo indelicado. Acreditem se quiser, mas eu tenho o cuidado de perguntar ao meu marido se posso publicar fotos dele, e acato as respostas negativas.
Obviamente, meu intuito sempre foi mostrar aos amigos momentos felizes com os pimpolhos, mas quando alguém não deseja divulgar sua foto, pouco importa o senso comum e nenhuma diferença faz a motivação de quem a publica: deve prevalecer a vontade do ‘modelo’. Portanto, de agora em diante divulgarei apenas as do mais velho, que já disse gostar de se ver no computador, e do caçula, que ainda não entende dessas coisas.  Acredito que, acatando o pedido do ‘custoso-mirim’ para retirar suas imagens, demonstro consideração pela sua individualidade, e essa simples atitude é capaz de gerar respeito e confiança mútuos, elementos indispensáveis numa relação familiar. Pode ser que num futuro próximo ele mude de opinião e me autorize a publicá-las novamente, e não nego que terei o maior prazer em fazê-lo.
Cá entre nós, que diferença me faz não poder postar essas fotos no facebook se eu posso olhar diariamente milhares delas em meus arquivos, ou melhor, se eu tenho o filhote ao meu alcance para uma conversa legal, um abraço e um cheiro gostoso? Priorizar o que se mostra para o mundo pra quê?

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