terça-feira, 6 de setembro de 2016

Hombridade - a grandeza desde pequeno

Você deve se perguntar o motivo da minha indignação, meu filho. Explico. 
Jamais permitirei, enquanto estiverem sob minha tutela, que meus filhos se utilizem de subterfúgios para acalentar o ego ferido, muito menos para encobrir algo que não desejam revelar por capricho ou perfeccionismo.
Nas tentativas de induzir-me em erro e colocar a culpa total do ocorrido no irmão, haverá sempre uma reprimenda. Eu insistirei, pelo tempo necessário e sem descanso, até ouvir o desmentido.
Se porventura alguém mobilizar a família inteira para procurar um objeto dentro de casa, sabendo que o deixou no parquinho no dia anterior, minha reação provavelmente não será muito afável.  Meu amor por vocês demanda que eu não tolere tamanho desrespeito para com pessoas que perdem tempo e energia no propósito de lhes ajudar.
Que as broncas tomadas a cada tentativa de negar o que está na minha cara, como o prato que eu vejo sobre a mesa, mas você insiste ter colocado na pia, lhe sirvam de exemplo do que uma sociedade saudável não deveria aplaudir: a manobra calculada em benefício próprio ou de outrem.
Que a minha insistência em fazer acareações cotidianas, até que se assuma o desacerto, mostre o que para mim há de mais louvável: a retidão. Lutar pela verdade e não compactuar com favorecimentos ou falsas acusações não é mérito, e sim obrigação.
Cada vez que você é enfrentado e insiste em sustentar uma inverdade, você acusa implicitamente o interlocutor de mentiroso, desvalorizando a iniciativa dele de tentar esclarecer os fatos.
Ah, meu filho, no seio familiar isso poderia até ser relevado ou compreendido, mas na escola, no condomínio e no trabalho, te adianto que o resultado em tempo algum é bonito. E eu optei por educá-los sem intermediários justamente por isso: quero prepará-los para o mundo real, que grita por pessoas com hombridade.
Obviamente, não há problema algum em errar. Todos erramos diariamente, quero deixar bem claro. O erro é humano e faz parte do crescimento. Entretanto, arcar com as consequências de cada equívoco é imperativo. Imaginar que você pode manipular todos à sua volta, com invencionices para fugir das responsabilidades e sair ileso, é a mais pura tolice.
Você já saiu do jardim de infância, não tome como modelos adultos que ainda fazem isso. A mentira tem perna curta e os resultados desastrosos ultrapassam a boa intenção do seu umbigo.
Falhar, reconhecer, corrigir e mudar de postura - essas são atitudes esperadas de um ser humano de caráter.  
Errou? Admita, peça desculpas sinceras, repare o que for possível e vá em frente. Aprenda a lição e faça um esforço para não repetir a falha. Caso isso ocorra, reconheça e siga o roteiro.
Se você vai seguir esses ensinamentos na vida adulta, eu não sei. Mas preciso que você saiba que é possível dormir com a consciência tranquila, mesmo falhando todos os dias.
Apesar da promessa de nos salvar de muitos apuros, a mentira não é uma boa amiga para o dia a dia. Embora doída, a verdade liberta e é companheira da honradez. Escolha bem sua heroína, meu filho.


Da série: Para os meus filhos

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