sexta-feira, 11 de março de 2016

Sujeira. Quem limpa?

Ensinar a limpar a própria sujeira é formar cidadãos. Se cada um fosse responsável e cobrado pelo que sujou, os espertinhos pensariam duas vezes antes de fazer lambança. 
Mas convivemos com nobres que veem com desdém tais cuidados - querem ser livres, ter regalias e aproveitar o máximo da vida, a qualquer custo para terceiros. E ainda acham quem os acolha, os pinte como vítimas de um quadro. São perdoados e autorizados a deixar a imundície respingando nos certinhos, que não têm a audácia de sair da moldura.
Inúmeros desejos, muitos direitos, poucas obrigações e raríssimas consequências. Pra qualquer idade ou circunstância, em casa, na rua, na escola, na empresa, nos Poderes. 
Eu ainda vejo um fio de esperança ao ouvir do menino ingênuo, com sorriso no rosto, depois de uma bela bronca ao lado dos irmãos, que é legal aprender a lavar o que usou.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Vida de canhoto, longe de ser sinistra.

Usar um seca salada é simples, a não ser que você seja canhota. Depois de meses lutando com a mão esquerda, percebi que o jeito é me render à direita. E ali, na pia, me veio um filme na memória, de desafios que apareceram na mais tenra infância.
O canhoto, parte de uma minoria, vê-se desde cedo a copiar os gestos ao contrário, numa constante adaptação. Muitas vezes, nem os pais se dão conta disso, ele é apenas o diferente. Ou digno de dó, sob o ponto de vista de algumas velhinhas (minha avó, por exemplo).
Amarrar o cadarço, escrever na lousa, borrar o caderno de canetinha, ter calo nos dedos por causa da tesoura, riscar com a régua no sentido 9 - 0, colocar livros na prateleira ao contrário, sentar em carteiras para destro na faculdade, enquanto faz a caça ao tesouro pela de canhoto (e nas palestras, aos 37, nem ter a opção de procurar), usar o abridor, usar o mouse com a direita porque ninguém perguntou se você é canhoto, aprender crochê, o câmbio do carro (nem me fala do automático, onde a perna esquerda não faz nada!)... São alguns exemplos.
Quando aparece uma loja que vende produtos específicos, você nem vai procurar, porque já se acostumou com os convencionais. E assim você vai, sem reclamar, sem se fazer de vítima, ultrapassando os obstáculos e incorporando as soluções solitárias ao seu dia a dia, inclusive se esquecendo dessa peculiaridade nos gestos mais desengonçados. Até que chega uma novidade e você se lembra que os objetos são pensados para a maioria. Ajuste de novo.
Nenhum problema em ver, no dicionário, a associação ao adjetivo sinistro. Nem em escutar que o outro acordou com o pé esquerdo. Ao encontrar outro canhoto, vocês riem juntos e dividem as artimanhas para se adaptar a esse mundo opressor, sem culpar os destros pelas suas dificuldades, nem exigir que eles ajam diferente.
E o orgulho de ser canhoto não parece ser pequeno. Satisfação em saber que algum ascendente, tios ou primos também eram, em ver um rebento na mesma condição. Mas ensinar os dois filhos destros a amarrar o cadarço, aí é outra história... como nas outras vezes, complicado, mas o cérebro flexível funciona bem.
Vida de canhoto é assim. Quem sabe um dia a gente aprende a ver as outras adaptações, necessárias e impostas pelo destino, com a mesma leveza e graça.

Escrevo porque preciso

Escrever é uma necessidade...  O pensamento chega, o texto se ajusta de forma meteórica e necessita ser externado. Um process...