domingo, 9 de agosto de 2015

Para o meu pai – Agosto de 2015


   Há exatamente dois anos, escrevi o texto “Quando você tiver minha idade, a gente conversa. A saga do diálogo impossível.” No último parágrafo, dizia: “Responda logo, não tenha receio de se rebaixar ao meu estágio...(...) Isso não é uma questão de sorte; a matemática comprova e a lógica diz que sempre haverá entre nós os trinta e um anos de diferença. E já que tempo é implacável com todos, faça um esforço para conversar agora... Se eu não perecer primeiro e um dia conseguir identificar, mirando as datas na lápide, que finalmente cheguei à sua idade, possivelmente as lágrimas substituirão aquilo que não poderá mais ser falado.”

  Meu pai, perspicaz, entendeu que o texto se referia à sua típica resposta aos nossos inúmeros embates (extremamente questionadora que sempre foi sua primogênita), e simplesmente escreveu no comentário algo do tipo: “a carapuça serviu”.
   Dois dias mais tarde, no domingo dos pais, publiquei o texto "De pequenino se torce o pepino! - para meu pai", no qual comecei falando sobre como nossa genética é forte, pois somos bastante parecidos nas qualidades e defeitos, e ressaltei seu maior ensinamento, a retidão.
  Algumas coisas se passaram nesses últimos anos, e eu preciso externar, mesmo que não na profundidade merecida, essas considerações.


**Para o meu pai – Agosto de 2015**

  Hoje, pai, eu vejo que tanto a minha constante aflição em te entender, como a necessidade de escrever aqueles textos, naquele momento, já prenunciavam uma nova realidade que nenhum de nós conseguiria imaginar. E a sua resposta, marca registrada para os meus irritantes questionamentos, não era trunfo nem fuga, e sim a única viável diante das circunstâncias e da sua vivência, que só o senhor conhecia.
  Desafiando a sua solução e a prepotência da minha lógica, e graças à genética que se revelou extremamente forte, agora, mesmo com os trinta e um anos de diferença, nós conseguimos conversar. Concluí errado, o senhor não precisaria ter receio em se rebaixar ao meu estágio para se fazer entender, eu é que teria que estar preparada para me elevar à sua condição para compreendê-lo. Muitas vezes, a comunicação só é eficiente entre os iguais.
  E cá estamos nós, trocando figurinhas e tendo que responder perguntas agradáveis ou nem tanto para os curiosos de plantão. Até que é divertido, não?!
  Como dizem, cuidado com o que você pede. O filme que passa a cada resposta que eu recebo pela voz da experiência é forte, mas as lágrimas que escorrem pelo rosto conseguem ser transformadas em falas. Não sempre muito amáveis ou equilibradas, é verdade; porém, são diálogos possíveis. Diálogos com o senhor, com minha mãe, com minha família. Diálogos internos.
  Não há, para mim, presente melhor que conseguir pegar o telefone, desejar um feliz dia dos pais, agradecer pelo ótimo pai que o senhor sempre foi, reconhecer a sua luta (junto à da minha mãe) e dizer que o entendo.
  Por isso, eu sou grata.

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