Há
exatamente dois anos, escrevi o texto “Quando você tiver minha
idade, a gente conversa. A saga do diálogo impossível.” No último
parágrafo, dizia: “Responda logo, não tenha receio de se rebaixar
ao meu estágio...(...) Isso não é uma questão de sorte; a
matemática comprova e a lógica diz que sempre haverá entre nós os
trinta e um anos de diferença. E já que tempo é implacável com
todos, faça um esforço para conversar agora... Se eu não perecer
primeiro e um dia conseguir identificar, mirando as datas na lápide,
que finalmente cheguei à sua idade, possivelmente as lágrimas
substituirão aquilo que não poderá mais ser falado.”
Meu
pai, perspicaz, entendeu que o texto se referia à sua típica
resposta aos nossos inúmeros embates (extremamente questionadora que
sempre foi sua primogênita), e simplesmente escreveu no comentário
algo do tipo: “a carapuça serviu”.
Dois dias mais tarde, no
domingo dos pais, publiquei o texto "De pequenino se torce o
pepino! - para meu pai", no qual comecei falando sobre como
nossa genética é forte, pois somos bastante parecidos nas
qualidades e defeitos, e ressaltei seu maior ensinamento, a
retidão.
Algumas coisas se passaram nesses últimos anos,
e eu preciso externar, mesmo que não na profundidade merecida, essas
considerações.
**Para o meu pai – Agosto de 2015**
Hoje,
pai, eu vejo que tanto a minha constante aflição em te entender,
como a necessidade de escrever aqueles textos, naquele momento, já
prenunciavam uma nova realidade que nenhum de nós conseguiria
imaginar. E a sua resposta, marca registrada para os meus irritantes
questionamentos, não era trunfo nem fuga, e sim a única viável
diante das circunstâncias e da sua vivência, que só o senhor
conhecia.
Desafiando a sua solução e a prepotência da
minha lógica, e graças à genética que se revelou extremamente
forte, agora, mesmo com os trinta e um anos de diferença, nós
conseguimos conversar. Concluí errado, o senhor não precisaria ter
receio em se rebaixar ao meu estágio para se fazer entender, eu é
que teria que estar preparada para me elevar à sua condição para
compreendê-lo. Muitas vezes, a comunicação só é eficiente entre
os iguais.
E cá estamos nós, trocando figurinhas e tendo
que responder perguntas agradáveis ou nem tanto para os curiosos de
plantão. Até que é divertido, não?!
Como dizem, cuidado com o
que você pede. O filme que passa a cada resposta que eu recebo pela
voz da experiência é forte, mas as lágrimas que escorrem pelo
rosto conseguem ser transformadas em falas. Não sempre muito amáveis
ou equilibradas, é verdade; porém, são diálogos possíveis.
Diálogos com o senhor, com minha mãe, com minha família. Diálogos
internos.
Não há, para mim, presente melhor que conseguir pegar
o telefone, desejar um feliz dia dos pais, agradecer pelo ótimo pai
que o senhor sempre foi, reconhecer a sua luta (junto à da minha
mãe) e dizer que o entendo.
Por isso, eu sou grata.