domingo, 11 de agosto de 2013

"De pequenino se torce o pepino!" - para meu pai


         A genética é forte, somos bastante parecidos nas qualidades e defeitos: pensamento rápido, língua afiada, paciência limitada, curiosidade aguçada, necessidade de autossuficiência, inconformismo com o que vê de errado, etc. 
          "De pequenino se torce o pepino!" - essa dedicatória que meu pai escreveu no livro 52 Lições de Catecismo Espírita, em 1989, é provavelmente o lema de sua educação. Eu xeretava tanto enquanto o coitado tentava se concentrar nas suas leituras, cansado depois da labuta incessante, que ele deve ter resolvido me dar o presente para que os capítulos me saciassem em silêncio e diminuíssem um pouco os meus intermináveis por quês! Posso dizer que esse livrinho e muito do que ele me mostrou depois, nos discursos e nas atitudes, me apresentaram um caminho sem volta, que me levou a lugares por ele não imaginados.
           Nunca vou me esquecer do episódio em que eu, ainda criança e na inocência, fui lhe mostrar algo que tinha feito: a alteração da data do exame médico do clube, que havia vencido meses antes. Esperava um elogio pelo capricho, mas levei um sermão tão grande e a lição foi tão clara que, até hoje, é o símbolo do maior entre todos os seus ensinamentos e que faço questão de repassar aos meus filhos: a RETIDÃO. 
           Por isso e todo o resto, não poderia ser mais grata.


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

“Quando você tiver minha idade, a gente conversa.” A saga do diálogo impossível.

 “Quando você tiver minha idade, a gente conversa.” Resposta inútil que não aproxima, só evidencia a distância; tática injusta para encerrar um debate. Você já teve nove anos, eu demorarei muito para completar os seus atuais quarenta, e parece-me que nunca terei condições de te alcançar. Mas se é a vivência que conta, diga-me, é verdade que meus poucos anos importam tamanha falta de atenção? Prefiro acreditar que eu, na pequenez de meus cento e vinte centímetros, conto com requisitos suficientes para merecer uma saída melhor para minhas dúvidas.
Ative sua cápsula do tempo imaginária. Volte à sua infância, lembre-se de como era nessa época – suas dúvidas, seus anseios, suas necessidades; procure indícios de que, na mesma idade, teria como rebater esse argumento. Por acaso você, que hoje está no alto de um metro e setenta, passou pelos procedimentos médicos aos quais já fui submetido? Sofreu de intolerância alimentar? Nasceu da mesma barriga, foi criado no mesmo ambiente, também viveu distante de todos os parentes, mudou de escola mais de uma vez? Seus pais tiveram contratempos semelhantes aos que você me apresenta?
Lá no futuro, observe seus lábios no espelho e repita, vagarosamente, aqueles mantras de décadas passadas que você já terá abandonado, seja pela mudança de pensamento ou pela verificação de sua impraticabilidade. Será capaz de contar quantos deles você terá incutido na minha mente, influenciando, de forma inevitável, minhas escolhas? Ah, mas nem poderei me atrever a comentar, pois você será sempre o mais experiente e eu, claro, só o entenderei quando tiver a sua idade.
Viagem encerrada, não vê nada para aprender comigo? Interessaria fazer-se de carne e osso, dividir suas incertezas de outrora, mostrar-me que aprendeu com os tropeços da vida e que nada era tão fácil assim? Por que não ajustar sua idade e esperteza ao que a minha maturidade permite compreender?  Doeria muito explicar os motivos de sua decisão e, diante de meu inconformismo natural, salientar que eu, quando crescer, provavelmente pensarei diferente e tomarei meu próprio caminho?
Por favor, perceba que meus questionamentos são presentes, que não quero resultados prontos do passado, tampouco réplicas para o futuro. Dialogue, reflita, reconsidere, dê uma justificativa que valha. Seria tão bonito descobrir que seu heroísmo dispensa máscaras ou capas, e que você sempre procurará me socorrer nas confusões que minha cabecinha curiosa e incessante insiste em armar! 
Responda logo, não tenha receio de se rebaixar ao meu estágio... Desista de usar essa fórmula fraca como trunfo, achando que está na vantagem porque é mais velho. Isso não é uma questão de sorte; a matemática comprova e a lógica diz que sempre haverá entre nós os trinta e um anos de diferença. E já que tempo é implacável com todos, faça um esforço para conversar agora... Se eu não perecer primeiro e um dia conseguir identificar, mirando as datas na lápide, que finalmente cheguei à sua idade, possivelmente as lágrimas substituirão aquilo que não poderá mais ser falado.

Escrevo porque preciso

Escrever é uma necessidade...  O pensamento chega, o texto se ajusta de forma meteórica e necessita ser externado. Um process...