quinta-feira, 18 de abril de 2013

Todo trabalhador é gente


    Certo dia, nos meus tempos de bancária, atendi uma senhora possessa, que reclamava que um dos atendentes havia saído da mesa para seu horário de almoço (míseros 15 minutinhos). Delicadamente, apenas respondi: "Minha senhora, bancário também é gente. Como todos aqui, ele precisa comer. É um rodízio, enquanto um almoça, os outros continuam o atendimento."

    Conheço um moço que, por recusar-se a fazer horas extras usando a senha do chefe, ou seja, sem receber por isso, não passou no período de experiência e perdeu o emprego no banco. Tempos depois, o banco, talvez cansado das inúmeras ações trabalhistas sobre o assunto, modificou seu sistema para impedir esse tipo de abuso. Não sei como está hoje, mas na época serviu para conscientizar muitos chefes e escriturários, e eu tive a sorte de trabalhar em uma agência onde esse tipo de fraude era inadmissível. Ah, a agência era em Brasília, acreditem. Quem vem de outros Estados encontra honestidade por aqui.
    Esse mesmo moço (deve ser maluco!) também se recusou a trabalhar em um escritório de advocacia como empregado não registrado, sem horário definido, defendendo ideias nas quais não acreditava e impedido de assinar petições, atender clientes ou participar de grupos na OAB. Saiu, com a cara e a coragem, e foi ralar. 
    Enquanto tentava a sorte na advocacia durante o dia, trabalhava de madrugada em um jornal, numa atividade que nada tinha a ver com sua formação jurídica. Segunda a sábado, às vezes aos domingos. Conversava com a esposa cerca de meia hora por dia e, nas horas vagas, estudava sozinho para dois concursos. Num deles, passou.
    Resultado do inconformismo, da luta por seus direitos, da consciência do valor do seu trabalho: está num emprego muito bom, consegue ter tempo para a família e aprimorar-se ainda mais. E, claro, deve agradecer aos patrões que tentaram tolher seus direitos, pois essa atitude o fez sair da área de conforto e trilhar um novo caminho. 
    Essa história me faz lembrar que: bancário é gente, jovem advogado é gente, servidor público é gente, doméstica é gente, ou seja, todo trabalhador é gente. 
   Meu marido trabalha fora dois turnos, e um turno em casa. Apenas nos primeiros ele é remunerado, pois trabalha para os outros, e no terceiro não. Como dona de casa, trabalho três turnos ininterruptos na mesma função, sem horário de descanso e, claro, não sou remunerada. Por quê? Simplesmente porque trabalho pra mim, em prol do que é meu, cuidando da minha casa e dos meus filhos, assumindo os ônus que a constituição de uma família traz.
   Se eu trabalharia 15, 18 horas para alguém sem lutar pelos meus direitos? Como sei meu valor, respondo: trabalho voluntário, apenas para pessoas carentes.

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