No consultório.
Secretária atende o telefone.
Dona Maria quer cancelar a consulta.
O irmão dela amanheceu com sintomas de gripe e, até que se descarte a Covid-19, ela prefere se isolar para não colocar em risco a equipe da clínica.
Não que seja uma questão de escolha, já que ela segue rigorosamente as orientações oficiais... O conhecimento prévio das peculiaridades familiares daqueles trabalhadores é mais uma razão para fazer o certo.
Mas é sabido que muita gente não dá bola e decide circular lindamente por aí, mesmo depois de manter contato sem máscara com quem está contaminado ou, pasmem, após o próprio diagnóstico positivo.
Parece que para alguns é difícil cancelar compromissos pensando no outro, segurar a vontade de passear, abrir mão de algo pela comunidade. Muitas pessoas colocam o desejo acima de um eventual peso da culpa. Há, ainda, aqueles que nem crise de consciência têm.
Deve ser complicado internalizar que liberdade individual também é decidir não fazer algo potencialmente nocivo ao próximo, embora se ache um jeitinho, pois nem tudo nos convém.
_ Combinado, Dona Maria. Quando sair o resultado, a senhora liga e marcamos a consulta. Se todos agissem assim, não estaríamos nessa situação!
Dona Maria concorda, visualizando mentalmente o sorriso daquela trabalhadora, que tem o direito de sair de casa para cumprir sua missão em segurança durante a pandemia.
A frágil senhora finaliza a ligação e sorri, apesar de apreensiva. Independentemente do resultado do exame, o importante é que a parte dela foi feita.
Nota da redação:
Ainda bem que essa é uma história inventada e todos agem como Dona Maria. Imagina se não fosse ficção, que pesadelo?!
31/03/2021