sexta-feira, 22 de maio de 2020

Um abraço

Hoje é o dia do abraço, que faz meu pensamento voar.
Morando em Brasília,  já cheguei a ficar quase dez meses sem poder viajar e, consequente, sem abraçar muitas pessoas queridas. Foram incontáveis viagens canceladas e malas desfeitas de última hora, com diversos feriados, aniversários, natais e passagens de ano celebrados em casa, apenas entre nós cinco.
Nunca fui de muitos abraços e beijos, é verdade, mas a mudança de cidade, a maternidade e os socos da vida me amoleceram um pouquinho. Mesmo assim, sobrevivi a todos os encontros que não foram possíveis.
Houve também um retorno de Franca às pressas para acudir quem, por um imprevisto de saúde, não conseguiria sair de BSB. Com os planos frustrados, passamos o 25 de dezembro sem os parentes, num dia registrado com fotos. Olhando o porta-retratos, meu filho frequentemente diz que foi o melhor Natal da vida dele.
Quando tomei o iodo radioativo, precisei ficar isolada no hospital por dois dias. Seriam necessários mais cinco dias sozinha em casa, distante de qualquer pessoa, para não correr o risco de contaminar suas tireoides saudáveis. Deixei algumas brincadeiras e charadas para divertir os meninos nesse período em que ficariam numa pousada com o pai. 
Logo após a alta, veio uma surpreendente infecção, com nova internação às pressas e isolamento no hospital. Não podia receber visitas. Enfermeiros e médicos só rapidamente, a uma distância segura. 
Foi fácil? Negativo. Dava saudade? Bastante. Vontade de abraçar meus filhos e meu marido? Imensurável. 
Entretanto, apesar da possibilidade real de nunca mais vê-los, que passa sim na cabeça da gente, eu jamais pensei em ceder ao meu apego e fazer chantagem emocional para tê-los perto, colocando em risco as pessoas que mais amo.
Se eu tivesse ido embora naqueles dias, já estaria grata pelo que havia vivido e pela chance de ter cuidado dos meus filhos integralmente. Essa foi minha breve conversa com Deus, enquanto lidava com os efeitos colaterais horríveis de um medicamento.
Retornamos para Franca no único objetivo de conviver com a família. Ironia do destino, um ano depois, estão suspensos os almoços de domingo, a sexta dos netos, as risadas a qualquer momento.  
Embora privados de muita coisa, ainda temos atualmente muito mais da família do que tínhamos nos tempos de DF. Posso chegar na calçada e conversar de máscara, passar de carro na esquina e olhar as casas dos familiares, receber comida quentinha, pegar laptop emprestado, deixar um mimo, socorrer e ser socorrida numa emergência. Sei que quando isso tudo passar, não precisarei esperar um feriado viável e a saúde perfeita para que meus filhos consigam rever os parentes.
Há épocas em que não abraçar é um ato de amor, em que não visitar demonstra respeito ao outro e a si próprio, em que distanciamento significa proteção.
Além dos quadros assintomáticos que podem ocorrer, alguns dos possíveis sintomas de Covid-19 fazem parte de minha rotina há seis anos. Portanto, sem as demonstrações graves, seria bem difícil desconfiar da doença de pronto, nessa roda cíclica de desconforto. 
Nenhuma saudade/vontade supera essa noção da minha realidade e me faz agir por impulso, ignorando as orientações de proteção incansavelmente difundidas por fontes seguras de informação.
Estou ciente de que escrevo sobre minhas experiências e que elas me levam a enxergar desse modo. Afinal de contas, o aprendizado é o resultado positivo de qualquer obstáculo na vida. 
Cada um tem o seu desafio e seu modo de reagir. Esse é o meu.
Não há situação que perdure para sempre. 
O ontem me ensinou e o amanhã independe de mim, mas minha consciência exige que eu tenha responsabilidade hoje.
Um abraço. 


domingo, 17 de maio de 2020

Escrevo porque preciso

Escrever é uma necessidade...  O pensamento chega, o texto se ajusta de forma meteórica e necessita ser externado. Um process...