Era para ser uma foto com legenda fofinha:
"Tão lindo receber ajuda espontânea do trio, que transformou o almoço do feriado num trabalho em equipe! Oferta para descascar cebola pela primeira vez e ver se faz chorar, picar a berinjela e fatiar o pepino. Teve criança na cozinha!"
Mentalizando a legenda, deixo os meninos já iniciando a refeição e vou à varanda buscar o último prato coletivo: cebola assada.
Apenas um minuto longe da minha vista, depois de uma manhã inteira com os olhos em moleques de 9 a 13 anos, que nem precisam de vigia 24 horas por dia, e...
_ Pai, pai, me ajuda! Não consigo respirar!
Pai sai correndo, moleque com a boca roxa, enquanto um irmão come tranquilo e o outro olha preocupado.
Período incalculável esperando a boca da criança se avermelhar e a respiração voltar ao normal, fazendo perguntas de detetive. Você não sabe se agradece pelo socorro imediato ou se chacoalha as criaturas, de tanto estresse.
O que aconteceu nesse minutinho?
Na longa espera de 30 segundos para o arroz esquentar no microondas, alguém fez gracinha.
O outro simplesmente largou o prato na mesa e entrou na onda. Saiu correndo e pulou no sofá. Após, cambalhota acidental. Sob avisos do terceiro de que poderia se machucar, a segunda cambalhota foi de propósito mesmo.
Crec. Estalo. Falta de ar. Boca roxa. Ainda não sabemos se por algo físico ou só pelo grande susto.
Resultado? Pai nervoso e mãe surtada, fazendo palestra sobre comportamento durante as refeições, valorização da comida, terror sobre as consequências de um movimento brusco na hora errada, drama e instituição de política de consequências com início de condicional.
Duas horas depois, os adultos conseguiram almoçar.
Enfim, a legenda oficial da foto:
"Tudo é lindo até o minuto seguinte."
***
Ante o negociado com os envolvidos nessa edição, conto o milagre mas não aponto os santos.