Sempre a mesma
história. O pavãozinho com o rei na barriga chegava, e sua inabalável alegria para
os outros animais alardeava. Sorriso aberto, aos quatro ventos bradava: “A
festa é minha, esse lugar é meu! Foi você quem construiu, mas não nos damos
bem? Problema seu!”
Felicidade
desconcertante - de tudo entendia, era exemplo de amor e harmonia, o ambiente dominava,
os demais convidados ofuscava. Em cada encontro, o grupo se transformava em
plateia daquela ave bem aparentada, e ai de quem ousasse dividir com ela o
mesmo espaço ou os mesmos afetos. Alguns bichos, fascinados pelas belas plumas,
viam-se obrigados a garantir que a espécie rara não fosse incomodada no hall da
fama.
Mas nada
agradava o dono da longa e colorida cauda – tudo era chinfrim demais, sempre
queriam puxar seu tapete vermelho, nada atingia o seu alto patamar de
exigência, fazia questão de provocar os administradores do zoológico. Tragédia anunciada: passadas algumas horas de animação, seu ensaiado
deleite se transformava em angústia e reclamação. Festividade para todos encerrada,
só restava a energia pesada.
Então o
buchicho começou: “Como pode? Tão perfeito, sempre feliz! Será
que a majestade dentro dele não é tão rica assim como se diz?”, perguntava a
bicharada, cansada de tanta decepção com as tentativas frustradas de festejar com a insaciável ave.
Os
animaizinhos fizeram então uma reunião, e decidiram encerrar de vez essa
questão. Chamaram o doutor lagarto, e ficaram boquiabertos com o resultado do
ultrassom: o pavão, coitado, não tinha o imperador em sua pança! Lá dentro
morava um vampirinho mendigo, tão triste, e tudo o que ele fazia era implorar por
atenção e rogar por migalhas da alegria alheia. Pobre chupim, de tão
solitário que estava, queria companhia na sua amargura e acabava fazendo o pavão colocar o
peso da sua infelicidade nas costas não somente dos seres que repugnava, mas também daqueles que mais gostava.
Após esse episódio, os amigos do zoo perceberam que quem está realizado não precisa de megafone e que a insistência no desdém vem sempre daqueles que querem colocar os outros na sua péssima vibração. Finalmente, viram que era inviável continuar se sacrificando para atender às ávidas súplicas do pavãozinho que, deslumbrado, ainda aguarda o convite para a próxima festa... Mal sabe ele que a bicharada não cogita uma confraternização tão cedo.
Após esse episódio, os amigos do zoo perceberam que quem está realizado não precisa de megafone e que a insistência no desdém vem sempre daqueles que querem colocar os outros na sua péssima vibração. Finalmente, viram que era inviável continuar se sacrificando para atender às ávidas súplicas do pavãozinho que, deslumbrado, ainda aguarda o convite para a próxima festa... Mal sabe ele que a bicharada não cogita uma confraternização tão cedo.